No Dia do Goleiro, Jefferson avalia evolução da posição: ‘Vai mudar muito mais’
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, ídolo do Botafogo afirma que o uso dos pés será ampliado nos próximos anos a quem jogar de luvas. Lembra ainda o início, o ídolo e Gomes
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Julio Cesar se aposentou no último sábado, uma geração de goleiros está chegando ao fim e um dos maiores nomes desta época vive seu último Dia do Goleiro. Jefferson, ídolo do Botafogo e que anunciou a aposentadoria para o fim da temporada, será titular novamente neste sábado, no lugar de Gatito Fernández, lesionado. Neste ano, ele vinha sendo mais reserva, após chegar à Seleção Brasileira, integrar elenco de Copa do Mundo e ter experiência de sobra. Aos 35 anos, ele prevê, ao LANCE!, mudanças em breve no perfil técnico de quem fica debaixo das balizas.
– Antigamente, na época do Flavio Tênius (preparador de goleiros do Botafogo) como jogador – eles não tinham nem treinamento específico. Eram os jogadores de linha que batiam bola para eles. Ele fala que não aquecia com treinadores de goleiros. Os goleiros não tinham técnica, encaixar a bola. Era só defender que era tido como bom goleiro. Jogo com os pés, nem pensar. Hoje, mudou muito, em todos os aspectos. E vai mudar muito mais. Os goleiros vão precisar cada vez mais dos pés. A gente, aqui mesmo, por exemplo, treina na linha, às vezes, para aprimorar. Lá fora, isso é muito mais usado. No Brasil, ainda é mais um desafogo. Pressionou? Recua para o goleiro. Lá, eles usam o goleiro como jogador de linha, fazendo o triângulo e o utilizando como recurso para a saída de bola. Porém, eu vejo que estamos evoluindo. Precisamos entender que o goleiro é um líbero, não é só dar a bola para o chutão.
Início. Sempre quis ser goleiro?
Antigamente não tinha essa facilidade que tem hoje, de escolinhas de goleiros, peneiras de goleiro. Ninguém queria ser goleiro e eu era um deles, não é? Vamos ser sinceros. Eu tinha 12 anos, mais ou menos, e queria ser atacante. Ser um Romário, Ronaldo... Não queria ser goleiro, mas fui fazer um teste na Ferroviária (Assis-SP) e já não tinha mais peneira para atacantes. Como tinha uma altura considerável, fiz como goleiro e fui pegando gosto. Vi que tinha qualidade para isso. Eu fui forçado, mas peguei o gosto. E me deram o toque, falaram que eu tinha explosão.
Goleiro ruim com os pés vai ser preterido, daqui a uns anos?
É muito assim. A gente brinca que os goleiros do Real Madrid e do Barcelona jogaram até os 20 anos como volantes. É impressionante a desenvoltura deles com a direita, com a esquerda... incrível. Quem me falou bastante sobre a preparação na Europa foi o Gomes, um grande amigo que fiz no futebol. Ele chegou lá e, vixe... "quebrava", amassava a bola. Ele mesmo falava, assim que chegou na Holanda (para defender o PSV, em 2004/05). O treinador dele falou que iria tirá-lo para ele aprimorar o jogo com o pé. Ele ficou quatro meses sem entrar em campo. Fazia treino específico, mas não jogava. Ele só estava focado nessa parte. A partir daí, embalou na carreira, virou ídolo e tudo mais.
A referência
O Dida foi a minha referência como goleiro. Por ser negro, alto e por estar no Cruzeiro quando eu cheguei lá. Eu copiava tudo que ele fazia: reposição, alongamento. E me identificava também por ele ser canhoto.
Preconceito
Tem, mas não há só com goleiros negros. Existe em todas as esferas, e no futebol não é diferente. Dificilmente você vai encontrar treinadores negros na Série A. Às escondidas, existe, sim (preconceito). Temos que superar esses obstáculos. E existe, principalmente, pelo que aconteceu com o Barbosa, que tem uma frase marcante sobre isso: "Fui o único a ser condenado a pena perpétua no Brasil". Mas, diretamente, nunca sofri esse tipo de preconceito.
Pênaltis
A gente acaba usando o recurso que tem. O Dida usava muito a técnica, ele tinha uma envergadura absurda, muito grande. Eu costumo usar a minha explosão e aperfeiçoá-la nos treinamentos, e a tecnologia nos ajuda muito também a estudar os cobradores. Sobressai quem tem mais frieza nos momentos dos pênaltis. O Gatito já tem um perfil, é experiente. Na hora do jogo ali (na final do Campeonato Carioca), a gente acaba passando algo, até pela euforia do momento, a gente lembra sempre alguma coisa ou outra, mas ele é maduro e sempre sabe o que fazer.
Safra brasileira
Tem bastantes goleiro de qualidade. Depois daquela leva de Ronaldo, Marcos, Dida e Júlio Cesar, o Brasil teve uma queda na produção de goleiros. Hoje, não. A leva é muito grande. Temos Fábio, Victor, Vanderlei, Cássio... são goleiros que têm totais condições de estar na Seleção Brasileira. Pelo momento, acredito que os momentos são do Vanderlei e do Cássio.
Melhor do mundo
No mundo, para dizer um só, que é unanimidade, acredito que o Buffon é o principal do momento. Merece todo o respeito e admiração. É um exemplo de superação e vai contra o que dizem sobre idade. Tem muito da cabeça, do psicológico. É um atleta vitorioso e que sempre demonstrou profissionalismo acima da média.
Maior goleiro do Botafogo?
Acredito que não sou o maior goleiro do Botafogo. Já passaram muitos por aqui. Teve Manga, Wagner, que foi o único campeão brasileiro e é pouco falado e enaltecido por aqui, acredito eu... eu tenho uma história diferente e muito bonita. Estou caminhando para ser o terceiro jogador que mais vestiu a camisa do clube, além de ser o recordista no gol. Não me considero o melhor, mas estou no top 3, no pódio. Isso que é importante, poder deixar a história, um legado para os filhos, netos. Isso é lindo.
Você está satisfeito com seu nível técnico, após a lesão?
Hoje, sim. Tudo é um processo, por mais que já tenhamos experiência, maturidade, tem o ritmo de jogo, readaptação, confiança... muita coisa está envolvida. Não será em um ou dois jogos que serei o Jefferson lá de trás. Isso (Gatito não poder jogar no sábado) faz parte do futebol. Se ele não estiver apto, vou entrar e buscar ajudar o Botafogo da melhor maneira.
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