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O jogo mais importante, turbulências e ‘não’ ao exterior: Zé avalia seu ano

Na última parte da entrevista exclusiva ao L!, o treinador do Botafogo analisa a importância da partida contra o Flamengo, os problemas internos e a quase ida ao Oriente Médio

Zé Ricardo - Botafogo
imagem camera(Foto: Vítor Silva/SSPress/Botafogo)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 29/11/2018
19:34
Atualizado em 30/11/2018
12:55

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O ano de Zé Ricardo começou num clube carioca, o Vasco, e terminou em outro do Rio, o Botafogo. Nos dois, o treinador precisou conviver com diferentes tamanhos de problemas internos causados por atrasos nos pagamentos. Mas a temporada termina com vencimentos praticamente quitados no Glorioso e uma reação que permitiu ao time sonhar com a Libertadores. Estes e outros temas, como a quase ida ao exterior, são abordados abaixo nesta quarta e última parte da entrevista exclusiva concedida ao LANCE!.

Qual é a avaliação que você faz do Botafogo no seu período?
Acredito que, voltando um pouquinho, é de regular para bom, dentro do meu balanço. Título do Carioca e uma Copa do Brasil, que foi o ponto fora da curva, com a eliminação precoce (para a Aparecidense). Mudança de treinador realmente atrapalha qualquer trabalho a longo prazo. Toda hora o atleta muda de referência. Sobre o meu período especificamente, confesso que o início não foi da maneira como gostaria. Tivemos problemas médicos, departamento médico bem cheio, até com dois jogadores da mesma posição, importantíssimos, Gatito e Jefferson. Os resultados demoraram um pouco a acontecer. Mas penso que a gente termina o ano em viés de alta, porque a grande preocupação nossa era estarmos, nesta reta final, brigando na parte de baixo. Com a ajuda da nossa direção, houve um esforço para colocar os salários em dia. Tivemos também o retorno de atletas importantes, como os próprios Gatito e Jefferson, e, um pouquinho depois, o João Paulo, e vitórias acontecendo neste momento nos deram tranquilidade para terminar o ano e conseguir uma vaga na Sul-Americana. Talvez, se essa reação viesse um pouco antes, conseguiríamos uma vaga na Libertadores.

Após perder para o Bahia, no Brasileiro, você disse que vivia o pior momento da carreira. Mas o time termina bem. Que nota você dá para o seu trabalho?
Questão de nota é um pouquinho complicado, pois tem muitas variáveis. Sempre tivemos muita convicção do que queríamos para o clube e de onde poderíamos chegar. O mais importante é que terminamos o ano jogando bem. É claro que tem coisas que vão mudar, jogadores vão sair, outros chegar. Mas dá para termos uma perspectiva boa para 2019. Aquele momento era complicado porque a gente vinha de quatro jogos sem vencer no Brasileiro. A gente entendia, pela nossa pontuação, muita gente próxima, que uma vitória sobre o Bahia seria muito importante. Teve o gol até irregular do Edigar Junio, mas perdemos e ficamos bem próximos (do Z4). Dependendo da rodada, poderíamos entrar naquele momento na zona do rebaixamento. Graças a Deus, em nenhum momento, desde a primeira rodada, o Botafogo frequentou aquela zona. Mas é sempre preocupante uma equipe grande transitar por ali, até porque, quando entra numa situação como essa é muito difícil sair. Sabemos o tamanho do Botafogo, a grandiosidade do clube, a tranquilidade que a direção nos passou e a convicção que a comissão técnica, apesar de jovem e extremamente competente, tem. Os atletas também entenderam a importância e a responsabilidade que tínhamos. Foi feito um trabalho fora de campo também importante para aquele jogo contra o Corinthians. E, a partir dali, conseguimos a sequência que esperávamos há tanto tempo. Porque treinávamos bem, mas não conseguíamos colocar isso em prática nos jogos. Depois, a confiança veio. E a confiança, no futebol, assim como na vida, é responsável por quase tudo em que a gente tem sucesso.

'Talvez, se essa reação viesse um pouco antes, conseguiríamos uma vaga na Libertadores'

E a avaliação do ano do Zé Ricardo?
Também coloco neste mesmo nível. Posso dizer que todas as metas que nós (no Vasco) traçamos foram alcançadas. Tivemos uma era de muitas indefinições lá em São Januário, mas conseguimos passar para a fase de grupos (da Libertadores). Cruzeiro e Racing eram favoritos, só que poderíamos fazer jogo de igual para igual com a La U e buscar alguma coisa com Cruzeiro e Racing. No Carioca, projetamos chegar à final, pois sabíamos que o Flamengo estava com estrutura  e um nível de investimento maior, e entendíamos que era possível brigar com Botafogo e Fluminense. Acabou acontecendo isso, e a final acabou sendo com o próprio Botafogo. Conseguimos sustentar o resultado até os 48 do segundo tempo, que nos daria o título. Infelizmente tomamos o gol do Carli e perdemos nos pênaltis. Quanto para o Campeonato Brasileiro, a projeção era de manutenção na Série A, porque sabíamos que seria bem difícil. Nossas  metas foram alcançadas. 

Os salários atrasados no Botafogo influenciaram naquele período de cinco jogos sem vencer no Brasileiro?
Logicamente influencia. Problemas de salários atrapalham, temos exemplos bem próximos. Todo profissional gosta de estar com vencimentos e responsabilidades em dia. Tenho certeza que qualquer jogador do Botafogo ou de qualquer outro time entra em campo para dar o seu máximo, mas a preparação e foco despendidos são diferentes

E você teve que mudar o seu discurso com o elenco por isso?
Não teve adaptação de discurso. Fui direto, claro. Temos um grupo jovem, mas com um nível de amadurecimento e entendimento das situações legal. Também foi importante que tivemos a volta do Gatito, e as de João Paulo e Jefferson treinando de forma regular. A direção se fez presente, não escondendo nada. É claro que momentos complicados entre direção e jogador acontecem, uma vez que o atleta fica na expectativa, mas o nível de maturidade foi demostrado por todos nós, da comissão, por não perdermos a convicção, dos jogadores, por não deixarem a peteca cair, e da direção, por brigar por coisas melhores. Nossa torcida, a partir deste entendimento, aumentou a média de público. Jogos contra Flamengo e Corinthians foram fundamentais, depois mais um jogo contra o Internacional e também esteve na bonita festa para a despedida do Jefferson. Está todo mundo de parabéns, mas é logico que a gente entende que precisa melhorar para que não passe por isso novamente, já que não há receita de bolo para dizer que isso vai dar certo sempre. Deu certo desta vez, pois os jogadores entenderam que era um momento diferente, já que o clube estava há três, quatro anos sem problemas de atrasos.

O jogo com o Flamengo foi um diferencial?
É claro que foi uma partida especial para todos nós por toda a diferença que marca estruturalmente as equipes hoje. Mas, por se tratar de um clássico, muitas das diferenças são diminuídas. Teríamos que entrar naquela partida com as nossas determinações trabalhadas ao máximo, com todo mundo entendendo, sem dúvidas e com um grau de competitividade muito alto. O nível de sacrifício naquele jogo foi muito grande e o que deixou a gente mais feliz foram não só os três pontos, mas a maneira como a vitória merecida foi construída. Entendemos que ali realmente representou toda a história do Botafogo e a maneira como o time vem sendo reconhecido nos últimos anos. Uma equipe de entrega, de sacrifício, luta, competitividade e, nesses quesitos, a gente consegue, muitas das vezes, tirar as diferenças que possam estar evidenciadas financeira ou tecnicamente. Foi uma partida que me marcou muito nesta breve passagem.

Vitória sobre o Fla: 'Ali representou toda a história do Botafogo'

E qual a partida que mais te agradou?
Apesar de termos sido eliminados na Sul-Americana, nos dois jogos no Engenhão, pela competição, nós tivemos supremacia. Contra o Nacional-PAR, poderíamos ter feito mais, e, contra o Bahia, apesar de termos perdido nos pênaltis, tivemos todas as condições de vencer (classificar). Estes estão entre os jogos que mais agradaram, além do contra o Flamengo. Contra o Corinthians não estivemos tão bem, mas era importante emocionalmente, foi muito tenso. Contra a Chapecoense, a equipe foi cirúrgica. A Chape contava com aqueles três pontos para fugir do rebaixamento. E, engraçado, o jogo com o Santos, aberto, me mostrou muita coisa. E contra o Internacional nós fomos merecedores, tivemos muitas oportunidades. Contra o Flamengo vai ficar marcado e talvez tenha mais me agradado mais. 

Botafogo x Flamengo
Triunfo contra o Fla foi muito enaltecido (Foto: A. M. Andrade/Eleven)

Podemos dizer que o grande mérito da comissão técnica foi controlar o fator psicológico do grupo?
O trabalho fora de campo é tão importante quanto o de dento de campo. O jogador tem que estar se sentindo bem, entendendo responsabilidades e o papel coletivo e individual. Isso é trabalho do treinador... Fazer entender funções com bola e sem, e, fora de campo, gerir 30 e poucos atletas com objetivos comum aos do Botafogo, de tirar o clube daquela situação. Eu me senti sempre muito bem, aqui. Foi importante poder chegar na partida contra o Santos ainda com a perspectiva de Libertadores.

Hoje feliz no Botafogo, você ficou frustrado por não ter ido para fora do Brasil nas oportunidades que teve?
Não coloco como frustrações. Tive chance de ir até para fora do Brasil, sim, mas são decisões que temos que tomar com muita calma. Levo em conta o desejo das pessoas que me cercam, da família principalmente. Por um motivo ou por outro, não era ser. Também tinha me compromissado de fazer uns trabalhos durante a Copa do Mundo em uma emissora de televisão. Fiquei um ano e cinco meses no Flamengo, e o final foi desgastante pelo movimento para a saída. Foram apenas oito dias até a chegada ao Vasco. Senti falta. No Vasco, a convivência no início foi intensa. Tínhamos grande responsabilidade. Conseguimos fazer um belíssimo trabalho de recuperação. Um dos momentos mais bonitos foi quando conseguimos a classificação para a Libertadores. No Botafogo, teve o momento da despedida do Jefferson, mas o contexto todo foi positivo... Não tenho pressa para ir para o exterior. Hoje, o meu foco é única e exclusivamente o Botafogo. Até abril, o torcedor e aqueles que torcem por mim podem ter certeza que vamos estar com foco total aqui. Queremos ter uma continuidade e trabalhar com um time que mereça estar e tenha o perfil do clube. É como terminamos este ano.

Zé Ricardo
Zé, sobre despedida do Flamengo: 'O final foi desgastante pelo movimento para a saída' (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

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