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CAMPO NEUTRO: O Fla-Flu e o nada

José Inácio Werneck fala sobre assuntos em alta no mundo do esporte

Fla x Flu
imagem cameraFluminense e Flamengo medem forças para definir o campeão carioca de 2023 (Fotos: Mailson Santana/ Fluminense e Khaled Desouki / AFP)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 07/04/2023
14:31
Atualizado em 07/04/2023
16:02

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Segundo Nelson Rodrigues, o Fla-Flu começou “40 minutos antes do nada”. Era sua forma de expressar a imensa importância daquele jogo, de rivalidades ancestrais. O Flamengo, afinal, em sua parte de futebol, nascera do Fluminense, de gente como Alberto Borgerth que, naqueles tempos antigos, remava pelo primeiro e jogava futebol pelo segundo.

Uma cisão interna no Fluminense fez com que jogadores de lá saíssem e fossem para o Clube de Regatas do Flamengo, não para remar, como Borgerth já fazia, mas para fundar o Departamento de Futebol do Clube. Assim nasceu a rivalidade e assim nasceu o magnetismo daquele que Mário Filho, irmão de Nelson Rodrigues, batizaria como “Clássico das Multidões”. E eram realmente multidões ...

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Estive entre uma delas, em 1963, na final do Campeonato Carioca quando, oficialmente, 177.656 pagantes estiveram no Maracanã. Sem contar, é claro, uma chusma de quase 20 mil “caronas” e “altas autoridades”. Sim, amigos, naqueles tempos, até o número de “caronas” e “altas autoridades”, que entravam de graça, rivalizava com públicos hoje considerados normais em partidas de futebol. Esta era a força da um Fla-Flu daquela época.

Ainda segundo o já citado Nelson Rodrigues, até os mortos, dos quais o Gravatinha (não confundir com o “idiota que babava na gravata”) era um exemplo, saíam de seus túmulos para comparecer ao Maracanã.

Aquele título de 1963 acabou com o Flamengo, depois de um empate em 0 a 0. Lembro-me ainda de outro Fla-Flu famoso, com 171.599 pagantes, no Maracanã, em 1969, que definiu o título para o Fluminense com a vitória por 3 a 2, num jogo tumultuado pela expulsão do goleiro argentino Dominguez, do Flamengo, pelo juiz Armando Marques. Expulsão que, como circulou entre comentaristas da época, Dominguez parecia ter buscado com denodo. Já outros culpavam o “Sobrenatural de Almeida”. Eram os tempos de “Fla-Flu... e as multidões despertaram”.

Mas eis que agora chego ao Rio de Janeiro para uma curta temporada e me deparo com discussões nos jornais de que pelo menos um dos técnicos - o do Flamengo, Vítor Pereira - está dando ao jogo, também decisivo do Campeonato Carioca, que seu time parece prestes a ganhar, “uma importância que ele não merece”.

Imagino o que Mário Filho, que veio a dar seu nome ao Maracanã, e seu irmão Nélson escreveriam.

O Fla-Flu de “40 minutos antes do nada” seria agora apenas o “nada”?

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