Coluna do Bichara: ‘E deu Ferrari na casa da Red Bull’
Leclerc ficou com a vitória no GP da Áustria. Sainz abandonou após explosão no motor
Neste final de semana a F1 chegou à metade da temporada, no GP da Áustria, disputado no Red Bull Ring. Este belo autódromo situado na bucólica Estíria (há 2 horas – se o motorista já estiver no mood da F1 – de carro de Viena por uma magnífica estrada) é o menor da temporada (dezcurvas) e onde se faz a volta mais curta, em pouco mais de um minuto. Cerca de 303 mil pessoas ocuparam as arquibancadas e gramados nos três dias, com destaque para a maciça torcida holandesa, que pintou a pista de laranja (embora a cor não esteja presente na bandeira nacional, ela é uma alusão à Dinastia da Casa de Orange-Nassau).
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A classificação dessa vez foi na sexta, pois sábado seria dia de sprint race. Tivemos uma ou outra surpresa, como as duas Haas no Q3 e batidas feias de ambas as Mercedes, coisa rara (segundo Toto Wolf a garagem parecia repleta de peças de Lego). Lá pela frente, tudo sem novidades: Max Verstappen o pole, seguido bem de perto por Charles Leclerc.
A sprint race (que esse ano dá pontos para os 8 primeiros) também transcorreu sem surpresa: Verstappen de ponta a ponta, Leclerc e Carlos Sainz (que chegaram a lutar um pouco) na sequência. Nas entrevistas ao final da prova de sábado, algumas coisas chamaram a atenção. Primeiro, o atual campeão reclamou muito dos pneus, avisando que chegou com eles no limite. Parecia blefe, mas não era. Segundo, o climão entre os pilotos da Ferrari. Enquanto Leclerc dizia esperar que a disputa entre os carros da scuderia não se repetisse domingo, Sainz declarava que o importante era ambos estarem na briga. A tese do espanhol foi reforçada por Matia Binotto na conferência de imprensa pós sprint sábado, onde ele afirmou novamente que a Ferrari não dará tratamento preferencial a nenhum de seus pilotos. Compreensível a posição de Sainz, afinal, nenhum menino que ser o Robin, mas sim o Batman.
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No Domingo esperava-se um passeio do dono da casa. Os sites de aposta pagavam 1,25 pelo triunfo de Verstappen, contra 3,50 de Leclerc. Mas o improvável às vezes acontece. Após uma largada sem sustos, já entre as voltas 10/12 tivemos um bom pega, com o monegasco ultrapassando Verstappen, que dava pinta de estar sofrendo com o desgaste dos pneus. Tanto assim que parou na volta 14, contrariando a previsão da Pirelli, que sugeria o 1º pit após a volta 26. Ali já se viu que dificilmente ele escaparia de 3 paradas.
No pelotão intermediário a corrida estava também animada. Foi interessante ver as disputas de Mick Schumacher (que parece ter desabrochado após marcar seus primeiros pontos) com Lewis Hamilton (que substituiu o velho Schummy na Mercedes em 2010) e com Fernando Alonso, arquirrival de Michael.
Enquanto isso Leclerc seguia na ponta, e só parou na volta 26, retornando 8 segundos atrás de Verstappen, mas recuperando muito rapidamente a diferença, pois o holandês lutava contra os pneus. Já na volta 33 o monegasco ultrapassou pela segunda vez, e sem dificuldade, o atual campeão que logo em seguida teve que parar novamente.
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Um pouco mais atrás rolava um show de punições, a maioria aplicada porque os pilotos estavam excedendo os limites de pista (na 4ª advertência vinha a penalidade de 5 segundos). Aqui é preciso um comentário mais enfático: isso é uma chatice. Quem tem limite é município! Se o asfalto está lá, é para ser usado. Ora, se a organização quer delimitar a pista, que se faça então como sempre foi em 70 anos de F1: muros ou caixa de brita. Sem misericórdia com o erro. Podemos até partir para uma solução mais light: cones no limite da pista. O piloto que os derrubar seria punido com um segundo por cone que for ao chão. Mas esses sensores de limite de pista são insuportáveis. Além disso, fica uma coisa meio discricionária. Há corridas em que não se vê uma punição sequer, pela razão evidente de que os fiscais são menos severos. Basta ver o caso de Silverstone, onde diz-se que faltaram punições; Fernando Alonso foi um que passou a semana toda reclamando nisso.
Leclerc fez sua segunda parada na volta 49, retornando atrás de Verstappen, mas não por muito tempo: logo depois fez sua 3ª ultrapassagem sobre o holandês, e já pode pedir música no Fantástico. Sainz também já vinha para superá-lo, quando o motor Ferrari o deixou na mão novamente, dessa vez com direito à incêndio e tudo. Com o virtual safety car, Verstappen seguiu para mais um pit stop, e Leclerc idem, o que mostra que a Ferrari aprendeu a lição após o fiasco de Silverstone.
Nas voltas finais, um susto para o líder: o acelerador de sua F175 travou. Embora o piloto tenha reclamado muito disso no rádio – e realmente os gráficos mostravam que o giro não descia – ele manteve seu tempo de volta e sequer houve um duelo final. Foi curioso ouvir Jock Clear, seu experiente engenheiro mandar o piloto “resolver no manual”. Parceria que o cabo estava preso, o que obviamente é uma figura de linguagem, na medida que os F1, assim como os aviões, usam o sistema fly by wire, ou seja, é tudo eletrônico.
No final do dia Verstappen lucrou ao defender seu 2º lugar, assim como Lewis Hamilton que herdou mais um pódio, o 3º consecutivo (os campeões são cativos dos ventos da sorte). O consistente George Russel cravou um 4º lugar, numa boa recuperação, seguido de Esteban Ocon. Aliás a Alpine parece se firmar como a 4ª força no campeonato – embora esteja empatada com a McLaren com 91 pontos, a equipe francesa claramente está em melhor fase. Falando em McLaren, o time de wooking cravou 7º e 9º lugar, com Lando Norris, como sempre, a frente de Daniel Ricciardo – enquanto o 1º tem 64 pontos no campeonato, o 2º tem apenas 17. O australiano vive um longo e doloroso velório dos seus próprios sonhos e ilusões. No paddock já se dá como certo que ele deverá ser substituído ano que vem; também, pudera, Ricciardo está tão lento que parar morrer de supetão leva uma semana. Boas opções não faltam, como Oscar Piastri, campeão de F2, ou o americano Colton Herta, piloto de indy, que fará essa semana um TPC (testing of previous cars) em Portimão com a equipe inglesa. E com a F1 cada vez mais voltada para os USA, a demanda por um piloto yankee é grande.
Merecem nota também as Haas, que novamente pontuaram.
Apesar da vitória e de ter recuperado a vice-liderança do campeonato, superando Sergio Perez (que abandonou a prova) Leclerc só descontou 6 pontos de Verstappen – que cravou a melhor volta. O holandês tem 208 pontos no campeonato, 38 a mais que o ferrarista.
O piloto monegasco rompeu um jejum de 3 meses sem vitória, e de quebra ainda jogou água no chope da enlouquecida torcida holandesa, tudo isso na casa da Red Bull. Segue vivo para essa 2ª metade do campeonato, especialmente se o time de Maranello resolver o problema de confiabilidade dos carros vermelhos.
P.S. – Enzo Fittipaldi brilhou na F2 conseguindo um 2º lugar. Crescem nossas esperanças....