Coluna do Bichara: Passeio em casa
Max Verstappen vence na Holanda para público de mais de 300 mil pessoas
Os juízes brasileiros têm direito a 2 meses de férias por ano. Mais do que eles só os pilotos de F1: não bastassem parar entre dezembro e março, eles ainda têm um mês de recesso no meio do ano.
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Esse jejum de finais de semana sem corrida foi interrompido com a chegada da F1 à casa de seu atual mandachuva. O 75º GP da Holanda teve um público de mais de 300 mil pessoas que tingiram as arquibancadas do autódromo de Zandvoort de laranja, tradicional cor da torcida holandesa em homenagem à dinastia que até hoje reina no país, a dos Orange-Nassau. Aliás até o próprio Rei estava presente para assistir a vitória de um de seus súditos mais ilustres.
O final de semana foi todo de tempo instável, e a chuva provocou inúmeros acidentes. Mas o pior deles foi com pista seca: Oscar Piastri rodou numa das traiçoeiras curvas inclinadas do traçado, ficando com o carro atravessado na pista. Para evitar uma batida em “T”, um dos maiores medos dos pilotos, seu compatriota Daniel Ricciardo bateu de frente na barreira de pneus. Foi tudo tão rápido que Ricciardo sequer teve tempo de tirar a mão do volante, fraturando o punho, o que o impossibilitou de correr. Em seu lugar a Alpha Tauri escalou o jovem neozelandês Liam Lawson.
No sábado a qualificação foi tumultuada, com várias saídas de pistas e 3 bandeiras vermelhas. Embora as McLarens e a Wiliams de Alex Albon tenham liderado boa parte do treino, na pole não houve surpresa: Verstappen, seguido de Lando Norris, George Russel, Alex Albon e Fernando Alonso.
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No domingo a chuva caiu traiçoeiramente minutos após a largada, animando o dia. A decisão sobre parar nos boxes parecia ser crucial, e num primeiro momento os ponteiros tomaram rumos diferentes: Norris e Russel não pararam, ao contrário de Verstappen e Alonso, que trocaram os pneus slics por intermediários. Sergio Perez, que havia largado num decepcionante 7º lugar, foi o primeiro a parar, o que teoricamente deveria lhe garantir imensa vantagem, pois a chuva caiu de vez. Ter parado antes garantiu a ele uma vantagem de 14 segundos sobre Verstappen. Mas logo depois a chuva piorou muito e todo mundo teve que parar novamente para trocar os intermediários por pneus de chuva. E dessa vez a Red Bull parou Verstappen antes, executando um undercut no mexicano. Não tem jeito: se Perez comprar um circo até o anão cresce.
Na volta 16 o americano Logan Sargeant bateu, disparando o safety car. A pista secou, mas lá pela metade da prova a chuva voltou, elevando mais uma vez a escolha de pneus à condição de protagonista da corrida. A pista molhada voltou a bagunçar tudo: Perez rodou, perdendo a 2ª posição para Alonso, e Guanyu Zhou bateu feio, interrompendo a corrida. Foi boa a decisão da direção de prova, evitando que o GP terminasse sob a liderança do safety car.
É curioso como hoje em dia uma chuva nem tão forte tem o poder de parar as corridas. Mas como já falamos aqui na coluna, isso se deve ao efeito solo, recentemente retomado nos carros após muitos anos de banimento. O fato é que, hoje em dia, correr na chuva se tornou lamentavelmente impossível. Resta uma enorme saudade de bons pegas no molhado, da época da F1 raiz, onde piloto não tinha medinho.
Na volta 65 a prova foi retomada. Faltando poucas voltas para o final havia certo suspense na relargada por conta de um possível bote de Alonso para cima de Verstappen. Mas o holandês é cativo dos ventos da sorte: com a proibição de abertura de asa por conta da pista molhada, Alonso não foi uma ameaça.
Então Verstappen seguiu tranquilo para a sua nona vitória consecutiva igualando o recorde de Sebastian Vettel e Alberto Ascari. Foi seguido por Alonso e Pierre Gasly, que beneficiado por uma punição aplicada a Sérgio Perez conquistou um importante terceiro lugar para a equipe Alpine.
No pódio o hino holandês foi cantado ao vivo, algo inédito na Fórmula 1 – usualmente apenas o hino nacional é executado ao vivo, minutos antes da largada. Imagino que os organizadores, já sabendo quem ganharia a prova, deixaram a cantora de stand by.
Resta saber apenas se Verstappen manterá sua sequência de vitórias consecutivas de modo a ostentar o recorde absoluto. O brasão de armas da família de Orange-Nassau, que deu origem ao lema dos Países Baixos, nos oferece uma pista, ao assim prever: Je Maintiendrai (“Eu manterei”).
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lance!