Coluna do Bichara: ‘O passeio canadense de Max Verstappen e o pulo do Gato x Pulo do Cabrito’
Colunista do L! Luiz Gustavo Bichara analisa o GP do Canadá, que teve vitória do holandês da Red Bull
Neste final de semana tivemos o GP do Canadá, que não acontecia desde 2019, disputado no tradicional circuito Gilles Villeneuve, na cidade de Montreal. A pista fica na Ilha de Notre Dame, artificialmente construída com a terra retirada do solo para construção do Metrô na década de 1960, objetivando sediar a Feira Mundial (Expo) de 1967 e parte das Olimpíadas de 1976.
Houve muita polêmica precedendo o GP, tudo por conta da diretriz técnica 039 da FIA de alterar o regulamento para reduzir o porpoising, emitida a partir de um pleito da Mercedes, que alega que seus carros pulam tanto a ponto de configurar uma ameaça aos pilotos. Embora a coluna já tenha explicado as razões deste fenômeno, aqui segue um curto e lúdico vídeo sobre o tema: VER VIDEO NO INÍCIO DA MATÉRIA.
Em suma, a diretriz prevê a forma com que as equipes deverão tratar a questão, de modo a preservar a integridade física dos pilotos. Ela veicula uma fórmula complexa de medição de altura dos carros e fluxo de ar, que ainda não foi totalmente esclarecida, mas que beneficiará os carros, hoje, instáveis. O resultado é inequívoco: sob o argumento da segurança dos pilotos, quem não resolveu o problema do porpoising terá uma colher de chá. Claro que a medida parece injusta com aquelas equipes que trabalharam bem e se adaptaram ao efeito solo em maiores contratempos – principalmente a Red Bull. Não por outra razão, Max Verstappen reclamou muito, consignando que uma mudança da regra no meio da temporada é algo decepcionante, enquanto Helmut Marko considerou “um completo absurdo”. Aquelas reclamações insistentes de Lewis Hamilton sobre dor nas costas (sempre com o semblante inocente de uma mosca que aceitou um convite de uma aranha), sua saída condoída do carro em Baku, enfim, tudo isso, agora se revela parte de uma estratégia de tapetão. Malandro é o canguru que já nasce com bolsa família...
Na pista, as sessões de treino começaram sob chuva intensa e com a notícia (antevista na coluna da semana passada), de que Charles Leclerc recebeu punição no grid por força da troca da unidade de potência – acabou largando em penúltimo. No Q1 de sábado os dois pilotos da casa, Nicolas Latifi e Lance Stroll, já ficaram pelo caminho, comprovando, novamente, que só estão lá porque são bilionários e compraram seus lugares. Já o Q2 foi marcado por uma batida de Sergio Pérez que o tirou do treino, deixando o caminho livre para a 15ª pole de Max Verstappen. No encalce do holandês estava Fernando Alonso, que conseguiu um incrível 2º lugar no grid, sua melhor posição de largada desde 2012, seguido de seu compatriota Carlos Sainz.
No domingo esperava-se uma corrida animada, até porque os carros fizeram a classificação com ajuste de chuva. Mas, infelizmente, não foi o que se viu. Aliás, isso nos faz questionar sobre a conveniência das enormes mudanças no regulamento deste ano. A corrida transcorreu sem grandes surpresas ou embates. A largada foi bem burocrática, com Verstappen disparando na frente de Alonso, que conseguiu manter a 2ª posição por pouco tempo, logo sendo ultrapassado por Sainz, como era de se prever.
Na 9ª volta Sergio Pérez parou com pane no câmbio, mostrando que não é só a Ferrari que tem esses problemas. Com o acionamento do virtual safety car as estratégias de corrida dos ponteiros se alternaram: Verstappen parou de imediato para trocar pneus, enquanto Sainz seguiu para um stint mais longo – apostando que um outro safety car poderia lhe dar vantagem. Mas quando isso aconteceu – na 20ª volta, por força do abandono de Mick Schumacher – Sainz já tinha passado da entrada dos boxes.
As ralas emoções oferecidas pela corrida devem ser debitadas na conta das estratégias de parada. Na 44ª volta, Sainz saiu de pneus novos, passando a ser o perseguidor. Verstappen estava 11 segundos na frente e com pneus 6 voltas mais velhos. O espanhol conseguiu, pouco a pouco, ir reduzindo sua distância para Verstappen. Tudo seguia assim até que na volta 49, Yuki Tsunoda protagonizou uma batida de comédia pastelão: saindo do box, rodou sozinho. Com a entrada do safety car, Sainz, vestido de esperança, encostou no campeão mundial. Teria chegado o dia dele? Seria essa sua 1ª vitória após 149 GP’s e 9 temporadas? Ainda não.
Quem ia à frente não foi campeão do mundo por acaso. E mesmo com 3 pontos de abertura de asa móvel e pneus mais novos, o espanhol não conseguiu sequer ameaçar concretamente Verstappen, que seguiu, mais uma vez, tranquilo para a vitória – sua 26ª. Restou para Sainz o 2º lugar, seguido por Lewis Hamilton e George Russel que, suave na nave, se mantém como o único piloto a chegar entre os 5 primeiros em todas as corridas do ano. Leclerc manteve sua tradição de fazer boas corridas, largando atrás, mas chegando em 5º, à frente das Alpine (Esteban Ocon em 6º e Alonso em 7º), que também merecem uma menção honrosa.
Deu Red Bull nas últimas 6 corridas, e, nesse momento, Verstappen lidera o campeonato com 175 pontos. Na sequência vem Pérez (que dessa vez não pontuou), e se mantém com 129 pontos. Logo em seguida está Leclerc com 126. Já parece ser possível cravar que o holandês não ser bicampeão é algo que se situa entre o altamente improvável e o quase impossível. Para além do talento bruto reconhecido desde sempre, ele se mostra hoje um piloto maduro, frio e administrador da própria audácia.
Em duas semanas teremos o tradicional GP de Silverstone, encerrando a fase dos circuitos de rua e dando início à sequência de pistas europeias. Mas antes disso teremos novidades: no dia 27 a FIA decidirá a respeito da polêmica diretriz técnica sobre o porpoising. Vamos ver se Hamilton e a Mercedes conseguirão dar o pulo do gato, para resolver o problema dos seus carros que pulam como cabritos.