Rolim: convicção ou teimosia? Os cenários de Luis Castro no Botafogo e Paulo Sousa no Flamengo
Jornalista analisa as similaridades e diferenças nos trabalhos dos portugueses no Brasil
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Há bem menos paralelos entre os estrangeiros do que se possa imaginar, mas a nacionalidade portuguesa e o sarrafo erguido por Jorge Jesus e Abel Ferreira colocam o português do Botafogo na alça de mira da torcida. A melhora de desempenho do rival Flamengo após a demissão de Paulo Sousa também ajuda a criar um contraste com o desempenho aquém do esperado pelo torcedor do Botafogo, que acaba pressionando o clube a mudar. Mas será que é justa essa comparação?
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Para entender a manutenção de Luis Castro é necessário que se desfaça qualquer simetria com outro caso no futebol brasileiro. A SAF do Botafogo entra em prática com o time na Série A mas o elenco é todo remontado por ter vindo da Série B em 2021, o que não gera um time da noite para o dia.
O Botafogo vinha alguns passos atrás de seus concorrentes na infraestrutura do futebol e no aproveitamento da base, o que não se resolve, mesmo com injeção de receita, da noite para o dia. Por fim, o Botafogo tem em seu acionista majoritário um americano que, mesmo com muita vivência de futebol, ainda está conhecendo a cultura brasileira, inclusive sobre mudança de técnico.
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O que Luis Castro tem dito a nós, imprensa, é o retrato do discurso interno do Botafogo. Nada está dissociado da teoria. O técnico português chegou para um trabalho que aqui no Brasil entendemos como longo prazo no futebol: um time competitivo, que brigue por título, no final de dois ou três anos. E o ex-Coordenador de Formação do Porto recebeu uma folha em branco, um time sem rosto, recheado de reforços que também devem ser potencializados com o tempo e, claro, com a sua intervenção. Embora o Mister já tenha aprendido que nenhum projeto resiste aos maus resultados, a narrativa é reforçar que não foi só para isso (resultado) que veio e que ninguém fala de projeto e evolução.
A evolução dos métodos e protocolos internos do futebol do Botafogo não serão a toque de caixa. No entanto, a gestão da crise pelo desempenho e posição na tabela do Brasileirão pode andar mais rápida. Talvez aí tenhamos uma similaridade de Luis Castro com o demitido Paulo Sousa. O ex-treinador do Flamengo e da seleção da Polônia também sofreu com a adaptação. Se a língua era a mesma dos comandados e da torcida, a forma de se expressar não alcançava o tom certo dentro de um elenco campeão, principalmente nas derrotas.
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O desempenho aquém da expectativa dentro de campo provavelmente aproxime os portugueses nas críticas. Mas só na consequência, não nas causas. Ambos mudaram seus esquemas quando os resultados oscilaram. Paulo Sousa usava três jogadores na sua última linha por convicção e não pela característica do elenco. Teve claros desgastes para encaixar as peças, principalmente as mais caras, com Everton Ribeiro na ala esquerda, Pedro ou Gabigol no ataque e Diego Ribas como volante assumindo funções em campo que não lhe cabem mais por sua mobilidade atual.
Luis Castro também mudou, ou ainda não achou, o seu módulo tático. Porém, não teve o Estadual para experimentar e não pegou um grupo formado com uma memória tática e entrosamento anteriores que facilitassem uma transição. Ganhou e perdeu jogadores por lesões, teve que trocar Daniel Borges (o grande assistente do começo da temporada) de lateral, utilizar jogadores que não estavam no plano inicial (Mezenga e Jeffinho) e tem a missão de se entender com Patrick de Paula e colocá-lo para performar o que sabe.
Os elencos dos dois portugueses, embora numerosos, também foram montados em modelos diferentes. O do Flamengo é claramente um elenco que sustente três competições sem que o time diminua de nível com a entrada de reservas. Pablo, Marinho (que não vem dando certo), Vidal, Pulgar, Cebolinha, etc., vem para entrar e resolver. Jogadores prontos para entregar desempenho e resultado. Principalmente resultado. O Flamengo quer títulos para hoje.
Já o elenco alvinegro reserva mais chances de erro nas tentativas. Muitos dos contratados podem não ficar ou serem emprestados. Há uma mescla de jogadores captados no mercado interno que precisam mostrar que podem jogar na Série A (Erison, que continua, e Chay, que saiu, por exemplo) e jogadores que voltam ao Brasil como boas apostas, que são os casos de Victor Sá, Piazón e Lucas Fernandes.
Onde a torcida vê muito dinheiro, o clube vê reformulação. Se o Botafogo não rondar a zona de rebaixamento, a sensação, hoje, é que não haverá pressão que tire Luis Castro do comando.
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