‘Papai Neymar’: o sempre mimado, adorado e decisivo craque da Seleção
Camisa 10 do Brasil na Copa do Mundo na Rússia fecha a série 'Homens de Gelo' no dia da estreia brasileira contra a Suíça. Uma vida de sucesso e que tem seu teste de fogo
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É chegada a hora. Neste domingo, às 15h (de Brasília), o Brasil vai parar para acompanhar a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, diante da Suíça em Rostov. O brasileiro volta a respirar o torneio mais importante do planeta com sede de hexa e deposita suas expectativas em um jogador que ele viu crescer com o sucesso ao lado. Para o bem ou para o mal, não há quem seja indiferente a Neymar, o grande craque da geração atual de futebolistas tupiniquins. Um menino talhado para vencer e gerar lucros e que desde sempre recebeu os maiores mimos que o esporte proporciona. Que cresceu com grandes responsabilidades, apanhou e se recuperou de uma grave lesão para chegar à sua segunda Copa como um dos 23, e principal, "Homens de Gelo" de Tite. O camisa 10 do Brasil é o 15º e último personagem da série do LANCE! sobre o grupo que tentará o hexa na Rússia. O símbolo maior de todo um projeto que se esforça para ser coletivo.
2011, O ANO QUE NÃO TERMINOU
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Talvez não haja outro ano mais importante na vida de Neymar, 26 anos, do que 2011. Seja dentro ou fora de campo. É a temporada que mais reflete o que é o maior craque brasileiros dos últimos anos em todos os sentidos. Trouxe título, um filho e polêmica. Todas marcas que ficarão para a posteridade.
Foi o ano da terceira Libertadores da história do Santos, título que consagrou Neymar como um dos maiores ídolos do clube paulista. O símbolo de um feito comparado à geração de Pelé. E que coroou um projeto ousado.
Desde que Neymar chegou ao Santos, ainda garotinho, o clube fez de tudo para transformá-lo em uma grande estrela. Tornou-o praticamente dono do pedaço. Aos 15 anos, já tinha salário de cerca de R$ 50 mil. Causava inveja, mas também admiração nos outros meninos. Todos queriam ser Neymar mesmo antes de ele ser o que é.
Naquele 2011, mesmo antes de seu título mais importante no Brasil, Neymar já desfrutava dos mimos que sempre o acompanharam. Na concentração do Santos, rompeu um protocolo que era praticamente sagrado e que hoje rende boas risadas de quem estava perto. Neymar era fissurado em lance do McDonald's, algo que, obviamente, é vetado por todos os nutricionistas de clube às vésperas dos jogos. Mas não para o craque. Toda noite, uma pessoa saía do alojamento da Vila Belmiro para resgatar a janta especial do atacante. Os companheiros sabiam, os funcionários sabiam e ninguém se opunha. Afinal, o moleque estava comendo a bola e nada daquele Santos seria possível sem ele. Até que Muricy Ramalho, técnico com fama de ranzinza, soube.
Muricy ficou sabendo da transgressão de Neymar apoiada até por membros da comissão técnica também na concentração e ficou furioso. Ordenou ao chefe da logística do Santos que acabasse com aquilo imediatamente. Temia que os outros jogadores não gostassem e perdesse o grupo. Recebeu um conselho. Deixa o menino comer.
Ensina aí, @neymarjr! Que prazer é ver um drible desse terminar com bola na rede! ⚽🇧🇷 #GigantesPorNatureza pic.twitter.com/0kjuZKfWcN
— CBF Futebol (@CBF_Futebol) 10 de junho de 2018
- Muricy, a gente vem ganhando tudo com esse menino fazendo isso aí. Parar isso agora vai ser perigoso - disse um membro do estafe.
Resignado, Muricy aceitou o conselho. Neymar seguiu comendo lanches e fazendo gols. Levou o técnico a ser o comandante do tri da Libertadores. Hoje, um morre de amor pelo outro.
Foi também nesse período de concentração no Santos que o craque iniciou um de seus maiores hobbys que o acompanha até hoje na Seleção Brasileira: o jogo de pôquer. A paixão pelo carteado começou com Ganso, seu maior parceiro no Peixe, Edu Dracena, entre outros. Uma diversão que o craque faz questão de cultivar, tendo inclusive participado de torneios oficiais e feito divulgação do jogo.
Na mesma época, o mesmo Muricy precisava lidar com eventuais faltas de Neymar a treinos, boa parte para atender a compromissos comerciais. Quando isso acontecia, o Santos montava uma operação para impedir que a imprensa tomasse conhecimento. Os portões eram abertos mais tardes, alguma mentira era contada, uma desculpa era dada.
DAVI LUCCA
Como experiência de vida, nada foi tão marcante na vida de Neymar como o nascimento do filho, em agosto de 2011. Meses antes, em maio, ele tomou conhecimento da situação e ficou impactado. Era véspera da final do Campeonato Paulista contra o Corinthians, talvez seu maior desafio no Peixe até aquele momento, o de provar que poderia ser forte também contra os rivais. Neymar ficou abalado pela notícia e não queria jogar o primeiro jogo da decisão. Muricy foi peça-chave para convencê-lo.
- A gente estava na concentração e fui o primeiro a encontrar ele depois que ele soube, no elevador. Ele estava muito abalado, com um semblante de assustado e eu perguntei o que tinha acontecido. Ele disse: "Professor, vou ser pai!". Eu tratei de tranquilizá-lo. Expliquei para ele a benção que era ter um filho, que ele nunca mais seria o mesmo, de muita alegria, e que tinha de seguir e aprender a lidar com a responsabilidade. Ele reagiu bem, jogou e foi importante para a gente nas decisões - lembra Muricy, hoje comentarista do SporTV na Copa.
Santos e Corinthians empataram o primeiro jogo em 0 a 0 e o Peixe venceu o segundo por 2 a 1, com um gol de Neymar, que garantiu o título paulista. Naquele momento, Davi Lucca já havia deixado ser uma preocupação para ser o motivo de maior alegria do craque.
A DECISÃO CONTRA O BARCELONA
Em 2011, Neymar também tomou outra decisão que abalou sua imagem de ídolo no Santos e causa revolta em muita gente até hoje, inclusive seus companheiros de equipe. No fim do ano, o Santos, campeão da Libertadores, enfrentou o Barcelona (ESP) na final do Mundial de Clubes. Neymar jogou já tendo sido negociado, em segredo, com o clube espanhol. Jogou, literalmente, vendido.
Hoje, o assunto é tratado com delicadeza por quem fez parte daquele grupo, mas alguns já admitem terem se sentido traídos pelo craque. A visão que se tem é de que Neymar não poderia fazer muita coisa a mais contra o poderoso Barça de Pep Guardiola, um dos maiores times da história do futebol. Mas que faltou hombridade do craque com quem sempre esteve ao seu lado. A negociação polêmica que levou o presidente do Barça Sandro Roselli à cadeia foi fechada um ano antes, com um adiantamento de 10 milhões de euros a Neymar, sem que o Santos soubesse. Para companheiros muito próximos do jogador na época, ele poderia ter passado sem essa. Deveria, ao menos, ter avisado aos jogadores. Mas no que o inevitável vazamento da situação acarretaria? Nunca se poderá saber.
O AMOR SEMPRE VENCE
Apesar dessa decepção, a simpatia por Neymar é praticamente unânime por parte de quem foi seu companheiro no Santos. Todo mundo adorava o menino carismático. Ele também fazia por onde. Com os mais jovens, fazia questão de incluí-los nas brincadeiras e confraternizações. Gabigol, que hoje enverga a camisa 10 do Santos, viveu isso. Ele estreou no profissional no dia da despedida de Neymar, no dia 26 de maio de 2013, duelo contra o Flamengo no Estádio Mané Garricha em Brasília pelo Campeonato Brasileiro. O técnico era Muricy, que tem na memória uma lembrança de como o jogador aglutinava.
O @neymarjr tá com fome de gols, hein? Se liga na curva que ele colocou nessa bola, atrás da marca do escanteio! ⚽️🇧🇷 #GigantesPorNatureza pic.twitter.com/Gc7xMINxES
— CBF Futebol (@CBF_Futebol) 9 de junho de 2018
- O que ele menos tem é marra. Lembro de um aniversário dele, que ele alugou uma van e encheu de pessoas do Santos. Mas não eram os jogadores, amigos. Eram os funcionários, jardineiro, cozinheira, todo mundo, e levou para São Paulo para comemorar junto, fazer a festa. Ele só fazia bem ao grupo - conta.
O mesmo carinho Neymar recebe na Seleção, em que também é querido. Puxa as brincadeiras, faz os trotes. É um líder, posto que muitas vezes o fazer ser chamado de "papai", um referência que evoca Lebron James, estrela maior da NBA, de quem Neymar é fã. Papai Lebron já foi decisivo em grandes competições, o que papai Neymar espera ser novamente.
Até Dorival Júnior, que acabou demitido do Santos por bater de frente com o craque, em 2010, não é capaz de criticar o comportamento do atacante. Dorival tem convicção de que agiu corretamente naquele momento, ao repreender o atacante por desobedecer uma ordem sua, mas isso não impede de elogiá-lo.
- Difícil falar qualquer coisa de ruim daquele momento, porque foi muito positivo e de um grupo excelente. Ele tinha uma alegria para jogar futebol absurda. Era uma situação que encantava todo mundo, e ninguém conseguia não gostar dele - define.
Ney Franco, com quem Neymar conquistou seu título de maior expressão na Seleção de base, vai no mesmo tom. Eles foram campeões sul-americanos sub-20 em 2011.
- Ele era só alegria. Antes dos jogos, ficava ouvindo as músicas dele no vestiário e a energia contagiava a todos. Todos queriam estar perto dele, era impressionante o magnetismo que ele tinha - define.
A FERA DOMADA
Para todos que cercam Neymar, é indiscutível a importância de Tite em sua evolução e papel na Seleção Brasileira. Com o treinador, o craque encontrou um chefe capaz de sugar todo seu potencial. A consequência disso é ter, na visão de quem comanda a Seleção, um camisa 10 totalmente focado na Copa do Mundo.
Para isso, Neymar abriu mão até de coisas que antes eram imprescindíveis. Seus "parças", por exemplo. A turma que sempre acompanhou o craque por onde ele ia, não se fez presente na semana de preparação do Brasil na Rússia. Neymar não recebeu visita de amigos em Sochi. Os "parças" só se juntaram em Rostov, onde o Brasil estreia neste domingo. O mesmo se deu com Neymar pai, a figura onipresente na carreira do filho, e a própria namorada Bruna Marquezine.
🎙 Fala, Neymar!
— CBF Futebol (@CBF_Futebol) 12 de junho de 2018
Atacante agradece carinho da torcida no primeiro treino da #SeleçãoBrasileira na Rússia. #GigantesPorNatureza pic.twitter.com/tzNq9K53nw
Neymar sabe que um título brasileiro com ele como condutor o colocaria na ponta de cima da galeria dos maiores jogadores de todos os tempos. E tem feito todos os esforços para isso se concretizar. Até o maior medo dele já parece estar superado. Ele temia pela lesão que o afastou dos gramados por três meses antes do Mundial. Fraturou o dedinho do pé direito atuando pelo PSG (FRA). Mas voltou e marcou gols nos amistosos contra Croácia e Áustria, os últimos antes do Mundial.
E Tite tem trabalhado em cima disso, porque sabe que seu maior talento também já reagiu mal em situações de pressão em campo. Há preocupação para deixá-lo a vontade em campo, não reagir a provocações, ser odiado apenas pelos adversários que deixam pelo caminho e não por aqueles que estão à sua frente. É aí onde a temperatura dele será medida.
E não que Neymar não receba mimos na Seleção, Apesar de agir como qualquer outro jogador do grupo, ele já teve privilégios. O preparador físico Ricardo Rosa, por exemplo, era seu funcionário particular antes de ser contratado pela CBF. Relação que vem desde os tempos de Santos e Ney levou ao Barcelona (ESP) quando foi contratado e depois ao PSG.
PARA A ETERNIDADE
Neymar conquistou títulos históricos no Santos, no Barcelona e na Seleção Brasileira. Já venceu pelo PSG, mas ainda sem o brilho que o clube espera de ganhar uma Liga dos Campeões. O craque foi campeão da Libertadores, da Champions e medalha de ouro na Olimpíada com o Brasil, um feito inédito. Falta uma Copa do Mundo. Se isso acontecer, ficará difícil até para quem não simpatiza com Neymar não considerá-lo um dos maiores de todos os tempos.
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