Um sertanejo na Rússia: uma aventura muito louca no país da Copa
Um Paraíba arretado conta suas peripécias na terra do Mundial enquanto faz a cobertura da Seleção Brasileira em busca do hexa. Será que vai ter forró na boate Cossacou?
"Ontem eu sonhei que estava em Moscou dançando pagode russo na boate Cossacou...". Salve, Luiz Gonzaga! O Rei do Baião cantou esses versos evocando o país da Copa do Mundo lá atrás e mal sabia que seria inspiração para um paraibano que agora tem a missão de desbravar a Rússia em busca de grandes histórias e sonhos.
A partir de agora, você está convidado a acompanhar a saga de um sertanejo na peculiar terra russa, de onde o Brasil tentará voltar com o hexa. Eu, Marcio Porto, viajo pelo LANCE! para fazer a cobertura da Seleção e contarei neste espaço as peripécias de quem saiu de uma cidadezinha minúscula do interior do interior do Nordeste para acompanhar o sonho de milhões de brasileiros in loco. Até porque Roberto Firmino não podia ser o único representante nordestino nessa mundiça, né? Alô, Firmino, tô na área!
Num dia você come bucho de bode acompanhado de pinga de alambique (com responsabilidade, por favor), no outro está em Moscou comendo o famoso estrogonofe enquanto saboreia, sempre com moderação, a consagrada vodka russa?! Cumé que é?
Mas vamos deixar de arrodeio e contar história. Tentarei narrar com fidelidade, ou nem tanta assim, o que me for dado ver das discrepâncias culturais que há entre essas terras, que também é ou será sua. Pisei de vez em solo russo na madrugada de segunda-feira daqui, início de noite de domingo no Brasil. Mas então você deve estar se perguntando: e só vem dizer agora? Calma, rapaz, o Paraíba aqui ainda nem entrou no fuso direito.
Foram mais de 30 horas de viagem entre a saída do Aeroporto Internacional de Guarulhos, capital de São Paulo, com conexão em Londres, depois Moscou, ao meu apartamento onde ficarei em Sochi, onde a Seleção Brasileira ficará hospedada durante a Copa. Pouco para quem acostumou-se a fazer o percurso Paraíba-São Paulo de ônibus, no fim da década de 1990. Eram mais ou menos 49 horas de viagem naquela época. Você lembra, passagem aérea era bem cara!
Pois bem, o voo até que foi tranquilo. A coisa começou a complicar quando cheguei a Sochi. O combinado era que meus anfitriões na cidade fossem me buscar no aeroporto. Um casal de russos de meia idade, ela chamada Raisa, ele Vasiliy, que passam longe de falar português e, gentis que são, se esforçam no inglês, mas sem muito sucesso. Só de pensar em como iria me comunicar com eles, já arrepiou a espinha.
Ok! Cheguei. Olho para um lado, nada da mulher que iria me esperar. Para outro, nada. Os taxistas russos aproveitam para me oferecer o serviço, saco que é isso pela situação, mas não entendo bulhufas do que me dizem. E se ela não vier? Ela veio. Apareceu com uma placa escrito meu nome em letras garrafais e logo nos saudamos com sorrisos, balbuciamos qualquer coisa no idioma de sei lá quem. Ela, muito simpática, ofereceu-se para carregar minhas malas, mas só faltava essa, né? Mala pesada, afinal a viagem prevê mais de 30 dias em solo russo, com a esperança de que a Seleção vá até a final.
Andamos alguns minutos pelo estacionamento até encontrarmos o marido dela, também gentil, mas com um aquele jeito russo que aparenta braveza. Cara, um cabra macho como eu não se intimida. Mentira! Fiquei tranquilo porque estava claro que eram uns queridos. No caminho até o apartamento, nenhuma palavra. O som ligado, volta e meia tocava uma música pop conhecida pelos lados de cá. Outras, em russo, me fizeram lembrar de como eu estava longe de casa. Só voltamos a "falar" quando chegamos e eles tiveram de me passar algumas instruções. Como?
O jeito foi apelar para o aplicativo de tradução simultânea. Que aperreio! Ficava eu de um lado com meu aparelho celular, e Raisa do outro com um tablet. Ela tentava me dizer que eu precisava entregar uma documentação para eles me registrarem aqui, a fim de não haver nenhum problema com o governo local quando eu for deixar o país. No fim nos entendemos pela tradução, mas imagine a cena: ela fala em russo no tablet, que traduz pra mim na voz da moça do Google em português. Eu falo no aparelho de celular em português, e a moça volta a falar em russo. Santa tecnologia! Deu tudo certo.
Bom, galera, fico por aqui e logo mais trago para vocês como foram as primeiras experiências durante o trabalho aqui em Sochi. Foram fortes emoções, até entrevista para uma TV da Bolívia eu dei no treino da Seleção. Como diria João Grilo em "O Auto da Compadecida": "Eita que eu tô me sentindo importante!!!".
Quer dizer, menos, né, Paraíba! Pés no chão que tem muito chão pela frente. Por ora, deixo o registro da entrevista para não dizerem que eu estou mentindo. Mas depois conto tudo. Vem comigo!
"Ontem eu sonhei que estava em Moscou...". Não era sonho, não!