Copa Tática: Irã e a evolução de um dos trabalhos mais consolidados
Seleção do técnico português Carlos Queiroz chegou a ficar 12 partidas seguidas sem tomar gols. Time já se destacou em 2014 pela solidez do sistema defensivo
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O Irã é a melhor seleção asiática nos últimos dois anos. Não apenas pelas recentes trocas de comando em Japão, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Austrália (que é da Ásia na distribuição da Fifa, vale lembrar), mas pelo trabalho desenvolvido por Carlos Queiroz desde 2011. Vazado em apenas quatro dos 18 jogos das eliminatórias, o Irã chegou a superar os 1100 minutos seguidos sem sofrer gols, atingindo o recorde de 12 partidas. Obviamente, não é por acaso. A organização defensiva é a principal característica da seleção há mais de um ciclo. O time da Copa de 2014 já se destacava pela solidez e tomou apenas um gol nos primeiros 200 minutos do mundial no Brasil, perdendo para a Argentina por apenas 1x0, com gol de Messi aos 91.
Com a necessária renovação em alguns setores, Carlos Queiroz encontrou novas ferramentas ofensivas. Se referências como Nekounam e Teymourian já não fazem mais parte do elenco, peças como Jahanbakhsh e Ansarifard amadureceram, além do surgimento de Azmoun, Taremi, Ezatolahi e Ghoddos. Hoje, o Irã tem maior capacidade para atacar, ainda que seja um time de poucos gols.
A proposta defensiva não é um problema para um país que enfrentará favoritos em seu grupo. A chave com os últimos dois campeões europeus acaba sendo um desafio cruel para uma seleção que teria maiores chances de avançar ao mata-mata se estivesse em outro grupo. De qualquer forma, provavelmente terá menos posse de bola nos três jogos, tentando frustrar os adversários com sua organização.
A estrutura não costuma ter grandes alterações, partindo de um 4-1-4-1, com Rezaeian e Mohammadi nas laterais e os veteranos Hosseini e Montazeri disputando uma vaga ao lado de Pouraliganji na zaga. Pela esquerda, Mohammadi oferece uma saída mais perigosa nas combinações com Taremi, mas a prioridade é a manutenção da primeira linha.
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No meio, o jovem Ezatolahi virou um dos pilares na frente da defesa. Em um time frágil fisicamente para competir no mais alto nível (segundo o próprio treinador), o volante é fundamental no desarmes e na manutenção da posse, seja se projetando para o passe ou lançando mais recuado. O resto da composição de meio-campo já é uma incógnita. Hajsafi, lateral esquerdo no Olympiacos, costuma ser o volante pela esquerda na seleção. Ali Karimi é outro que pode compor a marcação no setor, mas há outras opções mais criativas para o meio. Masoud Shojaei é o veterano que acrescenta qualidade no passe, talvez com a maior qualidade técnica do elenco, mas sem grande intensidade. Chegou a ser testado como um organizador na frente da linha de defesa (projetando a suspensão de Ezatolahi na primeira rodada), mas a fragilidade defensiva tornou a ideia inviável. Quem pode dar maior agressividade com e sem a bola é Ashkan Dejagah, que tem experiência na Bundesliga, mas pouco atuou em 2018, depois que foi para o Nottingham Forest.
Na ponta direita, a grande temporada de Alireza Jahanbakhsh faz dele um titular absoluto e possível estrela. Destaque na Eredivisie em gols (artilheiro, com 21) e assistências (terceiro, com 12), o jogador vira uma excelente notícia para uma seleção que tentará aproveitar cada transição ofensiva. Azmoun se consolidou como o 9 e, aos 23 anos, já é o quinto maior artilheiro do país. Após um primeiro semestre de temporada sem participação em gols pelo Rubin Kazan, o início de 2018 foi mais animador. Na esquerda, Taremi foi o titular na maior parte dos jogos recentes. Embora seja o 9 no Al-Gharafa, parte do lado para usar sua força física para proteger a bola longa e dar suporte a Azmoun nas saídas para os contra-ataques.
Se em 2014 o time não tinha grandes opções sequer para o ataque titular, em 2018, o Irã terá duas ou três peças capazes de brigar por minutos e oportunidades. Ansarifard foi vice-artilheiro do Campeonato Grego com o Olympiacos e é utilizado de diferentes formas por Carlos Queiroz. Pode atuar nas pontas e até mesmo atrás de Azmoun, em variações que passam pelo 4-2-3-1 e até um menos frequente 4-4-2. Outro "reforço" considerável foi a naturalização de Saman Ghoddos no final de 2017. O jogador já havia atuado em amistosos pela Suécia, mas foi liberado para atuar pelo país de seus pais. Destaque no Ostersunds, joga como segundo atacante e oferece drible para a seleção, seja como ponta ou meia central. O improviso de Ghoddos pode ser uma ferramenta importante em momentos de necessidade ofensiva, já que o time titular não tem tal característica, a não ser pelas arrancadas de Jahanbakhsh pela direita. Por último, há a opção de Amiri para o lado esquerdo, apostando em menos força e maior recomposição para sair em velocidade. Quem perde espaço com tudo isso é o veterano Reza Ghoochannejhad, que curiosamente era a principal e única opção ofensiva na Copa de 2014.
Com mais armas no ataque, o Irã vira um adversário mais perigoso na Copa do Mundo. O grupo não ajuda e o status é, naturalmente, de azarão. Para ter chances, a concentração sem a bola será fundamental. Nas eliminatórias, mais da metade das finalizações cedidas saíram de bolas paradas - um possível ponto vulnerável. Se avançar virou uma missão complicada, ser competitivo é o objetivo razoável para a melhor seleção do continente, tentando fechar com chave de ouro o ótimo trabalho de Carlos Queiroz, que já anunciou sua saída para depois do mundial.
Jogos no Grupo B
15/6 - 12h - Marrocos x Irã
20/6 - 15h - Irã x Espanha
25/6 - 15h - Irã x Portugal
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