Copa Tática: Portugal e o desafio da continuidade após dois anos de transformações
Campeã da Eurocopa em 2016, seleção portuguesa chega com muitas mudanças para a Copa do Mundo da Rússia. Há novas opções para Fernando Santos no ataque
São dois anos desde a grande conquista de Portugal da Euro 2016. Não parece um longo período para quem pensa na sequência natural de um time campeão, mas muita coisa aconteceu. Além do envelhecimento de alguns setores, como a defesa, o momento de outras peças chama atenção, fora o surgimento de novas alternativas para o ataque.
Vieirinha, Pepe, José Fonte, Eliseu, João Mário, Renato Sanches, Adrien Silva e André Gomes. Todos eles foram titulares de pelo menos um jogo da campanha da Eurocopa. Todos eles passaram por mudanças consideráveis. Alguns deixaram de ser opções para Fernando Santos, outros trocaram de clube e caíram tecnicamente, e outros tiveram períodos de inatividade.
A estrutura da seleção portuguesa tem seguido um padrão: parte de duas linhas com quatro e, assim, tenta acomodar Cristiano Ronaldo ao lado de outro atacante, seja ele de maior mobilidade ou com mais perfil de pivô. A chave para o estilo de jogo está na definição das peças da linha de meio-campo. William Carvalho é um pilar defensivo e costuma ter a companhia de João Moutinho pelo centro. Adrien Silva seria outra opção para a função, mas ficou seis meses sem jogar por conta do erro administrativo na transferência para o Leicester e acabou perdendo confiança (não a de Fernando Santos, aparentemente). Para piorar, viu Bruno Fernandes crescer, assumir o protagonismo no Sporting e chegar ao mundial em um nível que pede mais minutos, seja como meio-campista, meia avançado ou até mesmo partindo dos lados para dentro.
Ao longo do ciclo, João Mário foi um dos meias abertos, enquanto André Gomes e Renato Sanches se alternavam em 2016, mantendo a ideia mais conservadora de força física e recomposição. O veterano Ricardo Quaresma sempre representou uma alternativa mais criativa para acelerar pelas pontas, podendo atuar como meia aberto ou até mesmo ao lado de Cristiano Ronaldo, embora Nani tenha sido um dos atacantes na Euro. Só que os três meio-campistas sofreram com grandes quedas técnicas. Para completar, Bernardo Silva, Gelson Martins e Gonçalo Guedes despontaram como opções muito mais ofensivas e promissoras.
Cabe a Fernando Santos definir até que ponto está disposto a afetar a dinâmica de jogo já estabelecida. Com Gelson Martins, há velocidade e muito fôlego para a ponta. Com Bernardo Silva, ganha criação a partir da habitual circulação do meia, partindo da direita para armar por dentro. Pela esquerda e exatamente em um 4-4-2, Gonçalo Guedes teve grandes momentos na temporada pelo Valencia, desequilibrando não só pela ponta, mas também em finalizações por dentro. Diante de três novas opções, o treinador português tem o desafio de aproveitar o talento que surgiu sem comprometer o equilíbrio de um time, até então, pragmático.
No ataque, André Silva foi a grande notícia do ciclo, surgindo como um parceiro ideal para gerar espaços e acionar Cristiano Ronaldo. Os dois somaram 24 dos 32 gols da seleção nas eliminatórias, o que significa uma nova força para um setor ofensivo que costumava oferecer pouco para sua principal estrela. Por mais que a primeira temporada no Milan tenha frustrado as expectativas, há a esperança de que as características complementares, que lembram o efeito de Benzema no Real Madrid, possam fazer de André Silva um titular importante. João Mário parece ser um exemplo de quem resgata um melhor nível dentro do modelo já estabelecido pela seleção, quase ignorando suas passagens frustrantes por Internazionale e West Ham.
Não será surpresa se Fernando Santos utilizar escalações com diferentes estratégias durante a fase de grupos. Se o elenco do meio para frente reúne bem mais qualidade, a defesa vive um momento preocupante. Pepe já não é mais do Real Madrid, José Fonte deixou de ser destaque na Premier League e foi para a China, Bruno Alves tem 36 anos e Ricardo Carvalho se aposentou. Não há grande novidade no setor, a não ser por Rúben Dias, zagueiro de 20 anos que ganhou espaço no Benfica. Um desfalque relevante é Danilo, volante que também serviria como alternativa para jogar mais recuado, além de ser o reserva imediato de William Carvalho. Sem a importante peça, a maior surpresa da lista foi a não convocação de Ruben Neves, destaque na campanha do acesso do Wolverhampton para a Premier League. Manuel Fernandes, campeão russo com o Lokomotiv, ficou entre os 23 e se torna a opção de banco, ainda que com características diferentes.
Nas laterais, Cédric é o único remanescente dos quatro que estiveram na Euro 2016. Ricardo Pereira foi coroado pelo bom nível apresentado no Porto. Raphael Guerreiro é uma ótima opção pela esquerda, mas perdeu mais da metade de 2017/18 por lesão (jogou apenas 547 minutos na última Bundesliga). De volta ao futebol português, Fabio Coentrão conseguiu resgatar sua confiança, mas surpreendentemente abriu mão da seleção dias antes da convocação, alegando desgaste físico. Assim, abriu espaço para Mário Rui, que jogou mais minutos que o esperado pelo Napoli, por conta da grave lesão de Ghoulam.
As dúvidas sobre as condições da primeira linha geram questionamentos sobre os riscos de se adotar uma formação mais ofensiva, gerando maior exposição. Alguns amistosos, como contra a Holanda, em março, mostraram fragilidades defensivas nas perdas de bola quando o time tentava ocupar o ataque com mais gente. Equilíbrio é o principal desafio para uma renovação que apresenta talento e convida o campeão europeu a mudar a característica de seu jogo.
Jogos no Grupo B
15/6 - 15h - Portugal x Espanha
20/6 - 9h - Portugal x Marrocos
25/6 - 15h - Irã x Portugal
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— Portugal (@selecaoportugal) May 28, 2018