Clássico europeu? França x Bélgica é destaque por filhos de imigrantes
Principais destaques das seleções francesa e belga têm famílias de imigrantes ou são naturalizados. Jogadores venceram o preconceito para brilhar na semifinal do Mundial
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Mbappé, Pogba, Lukaku e Fellaini. Em comum, todos estarão disputando a semifinal da Copa do Mundo de 2018 nesta terça-feira, às 15h, em São Petersburgo. Mas a relação entre os atletas vai além das quatro linhas e pode ser percebida pelas suas origens. Os principais personagens de França e Bélgica são quatro dos muitos exemplos de filhos de imigrantes que estão brilhando na Rússia.
É possível citar que o duelo entre França e Bélgica não é uma semifinal exclusivamente europeia, tendo em vista a quantidade de jogadores descendentes ou naturalizados que defendem as seleções. Caso parecido com o que ocorre na Inglaterra, onde a maioria dos convocados tem origens de outro país. Por motivos de luta por sobrevivência ou fuga de guerras, a imigração se tornou um fenômeno global.
Apesar de não ter sido convocado, Karim Benzema é um grande exemplo de como a França pode tratar os filhos de imigrantes com naturalidade ou crueldade. Mesmo nascido em Lyon, a sua origem argelina fez com que enfrentasse preconceito devido à nacionalidade de seus pais, pois "é um francês quando joga bem e árabe maldito quando vai mal". Maior ídolo do país, Zinedine Zidane também é descendente de argelinos.
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Mbappé, Pogba, Kanté e Matuidi são alguns dos atletas descendentes
Grande destaque desta Copa do Mundo, o jovem Kylian Mbappé é filho de pai camaronês e mãe argelina. Eles são imigrantes refugiados e foram para a França em busca de uma nova oportunidade de vida. O atacante nasceu em Bondy, cidade localizada a 10.9 km da capital Paris, e apesar de também ter nacionalidade camaronesa, decidiu defender a seleção da França.
Situação semelhante ao caso do meio-campista Paul Pogba, que tem família nascida na Guinea, do volante N'Golo Kanté, cujos pais são imigrantes vindos do Mali, do meia Blaise Matuidi, que carrega origens angolanas, e do zagueiro Samuel Umtiti, nascido em Camarões e naturalizado francês. Dos 23 convocados por Didier Deschamps, 19 são descendentes ou naturalizados.
A França se destaca entre as outras nações pois é o país com maior número de jogadores naturalizados em outras seleções que disputam a Copa do Mundo. São nove em Tunísia e Marrocos e oito em Senegal, por exemplo. O principal motivo é a imigração de suas ex-colônias. Vários desses jogadores são filhos de tunisianos, marroquinos ou senegaleses que fugiram para a França em busca de melhores condições de vida.
Os jogadores da França naturalizados ou com descendência estrangeira são: Steve Mandanda, Samuel Umtiti, Thomas Lemar, Raphael Varane, Blaise Matuidi, Nabil Fékir, Kylian Mbappé, Presnel Kimpembe, Steven N'Zonzi, Lucas Hernández, Alphonse Aréola, Paul Pogba, Adil Rami, Ousmane Dembélé, N'Golo Kanté, Djibril Sidibé, Antoine Griezmann, Benjamin Mendy e Corentin Tolisso.
Já a Bélgica vê essa presença estrangeira influenciar diretamente em sua campanha na Copa do Mundo. Dos 14 gols marcados pela seleção belga neste Mundial, dez vieram de filhos de imigrantes. O país é considerado um dos mais multiétnicos do mundo por várias nações já terem dominado seu território ao longo da história. Isso se reflete na seleção.
Artilheiro da Bélgica nesta Copa do Mundo, com cinco gols, Romelu Lukaku publicou um texto no "The Players Tribune" no qual citou o preconceito sofrido pela sua origem. O atacante é filho de imigrantes congoleses e, mesmo tendo nascido em Antuérpia (BEL), só passou a ser reconhecido como cidadão belga depois que ficou famoso com o futebol.
Outro destaque é Marouane Fellaini, que também nasceu na Bélgica, mas é descendente de marroquino. Seu pai imigrou para tentar ser jogador de futebol na Bélgica, mas enfrentou problemas de documentação e não teve dinheiro para retornar ao Marrocos. Caso parecido com o do zagueiro e capitão Vicent Kompany, filho de um soldado do Congo com uma médica belga.
Lukaku, Fellaini, Januzaj e Kompany são filhos de imigrantes
Autor do gol que classificou a Bélgica em primeiro lugar no Grupo G da Copa do Mundo, Adnan Januzaj carrega a história de seus pais, que tiveram que deixar o Kosovo devido ao conflito que separou a Iugoslávia. Alguns familiares ficaram no país como parte do exército na luta armada, enquanto outros acabaram presos devido aos confrontos.
As razões pelas quais a Bélgica é um país multiétnico e miscigenado remontam a histórias de dominação de grandes potências europeias tradicionais desde os tempos da Idade Média. Em resumo, a atual Bélgica alternou longos tempos entre os franceses e os povos germânicos, principalmente do que é hoje a região da Holanda, passando ainda por um período de domínio espanhol devido a configurações de monarquias da época.
Com o tempo, a Bélgica passou ainda por uma intervenção britânica, que serviu para evitar conflitos internos. Ela se tornou uma potência que chegou a ter colônias na África, como o Congo. Os jogadores da Bélgica naturalizados ou com descendência estrangeira são: Romelu Lukaku, Vincent Kompany, Youri Tielemans, Axel Witsel, Michy Batshuayi, Adnan Januzaj, Moussa Dembélé, Marouane Fellaini, Nacer Chadli e Yannick Carrasco.
- São também lutadores e sobreviventes. Qualquer jovem que encare adversidade na vida precisa olhar a Bélgica e seus exemplos - comentou o treinador da seleção belga, o espanhol Roberto Martinez.
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