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Último trem para Kazan: 12 horas nos trilhos da Rússia para ver o Brasil

Nas cabines repletas de torcedores brasileiros, há também pessoas das mais diferentes nacionalidades viajando pelo mesmo objetivo: ver Bélgica x Brasil na Arena Kazan

Neozelandês, russo e japonês na cabine do trem na Rússia
imagem cameraThiago Salata
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Lance!
Enviado especial a Kazan (RUS)
Dia 05/07/2018
10:26
Atualizado em 05/07/2018
18:02

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Às 23h08 de segunda-feira, horário de Moscou, partiu o último trem da capital da Rússia para Kazan, cidade onde o Brasil decide uma vaga na semifinal da Copa do Mundo nesta sexta, contra a Bélgica, às 15h (de Brasília). Muitos torcedores brasileiros aproveitaram um dos melhores meios de transporte do país continental para ver a Seleção Brasileira. Gente de todas as partes do Brasil que se uniu para festejar e trocar experiências nas quase 12 horas pelos trilhos russos.

Mas há dentro das pequenas, mas confortáveis cabines, histórias de pessoas que não têm nenhuma ligação com os brasileiros. Pegaram o trem, no entanto, com o mesmo propósito: assistir Brasil x Bélgica. O LANCE! conversou com três deles: um jornalista neozelandês que está cobrindo o Mundial, um torcedor japonês frustrado por não poder ver o Japão, eliminado pelos belgas nas oitavas, enfrentar a Seleção, e um jovem russo fã de futebol, nativo de Kazan.

Assim funciona um trem russo, fora das categorias de luxo, é claro. Cada cabine comporta quatro pessoas, sendo duas camas de cada lado, uma acima da outra. Em acordo com o governo russo, a Fifa disponibilizou trens grátis a jornalistas e torcedores, que se misturam nos vagões. Você reserva seu espaço pela internet e na hora conhece quem serão seus companheiros de viagem. Há bar e restaurante dentro dos trens - é verdade que, dependendo da sua localização, é preciso percorrer mais do que sete vagões até encontrá-los.

- Estava indo até o bar, mas desisti. É muito longe - brincou Michael Burgess, o jornalista da Nova Zelândia que acompanha a Copa pelo New Zealand Herald.

Naoya Kodama é um torcedor japonês que estava em Rostov, onde o Japão tomou a virada para a Bélgica no último lance do segundo tempo e perdeu a chance de encarar o Brasil nas quartas de final. Mas o ingresso para Kazan já estava comprado e Kodama pegou o trem para ver belgas e brasileiros. Ele trabalha em uma ONG, é fotógrafo, escapou da morte três vezes após ser internado com um vírus raro que atacou os pulmões (mostrou até o raio-x do seu órgão abalado), e estar vivo já é motivo para alegria.

- Estou indo ver o Japão contra o Brasil. Oh, não! Aquele gol no fim... Mas está bom, vi o Japão vencer a Colômbia, foi emocionante. Fantástico! - disse Kodama, que fala inglês, exibe com orgulho a coleção de ingressos que fez na Copa e adora contar piadas mesmo a desconhecidos.

- Você sabia que aprender japonês é muito fácil? As crianças de três anos no meu país já falam muito bem! - brincou, antes de dar uma gargalhada.

Kodama mostrou fotos com outros torcedores durante a Copa e um vídeo em que tomou o lugar de um músico que tocava para fãs do futebol na porta de uma das arenas do Mundial. O japonês pediu a guitarra emprestada, deu show ao público e, no trem, repetiu a música que cantou a todos, em seu idioma. Registro devidamente feito pelas lentes brasileira, neozelandesa e russa.

TORCEDOR NATIVO

Kamil Lotfullin nasceu em Kazan e buscou os ingressos das categorias mais baratas da Copa para ver jogos. Usa e abusa do transporte sob trilhos para se deslocar pelo país e, na última segunda, estava regressando para sua cidade para ver a partida entre Brasil e Bélgica. No trajeto, ligou para a mãe, animado, contando que tinha conhecido um jornalista brasileiro, outro da Nova Zelândia, além de ter a companhia de um japonês. Foi possível ouvir sua mãe gargalhar.

- É fantástico ver tantos estrangeiros vindo para a Rússia, todos com um sorriso no rosto. Você responde com um sorriso, pratica seu inglês. É muito bom o evento para toda a Rússia. Pessoas que nunca tinham ouvido falar de futebol estão indo a fan fests. É um bom sentimento ao coração dos russos - disse Kamil, que se comunica bem em inglês, ao contrário da maioria no país.

O russo fala com orgulho do lugar onde nasceu, dá dicas turísticas e de comidas típicas a custo baixo. Kazan, capital da República do Tartaristão, está a cerca de 800km de Moscou. É a sexta cidade mais populosa da Rússia, com 1,2 milhão de habitantes, à beira dos rios Volga e Kazanka, localização geográfica que proporciona belos visuais na sede que tem a Arena Kazan como um dos palcos da Copa. Kazan foi fundada no fim do século 11 e tornou-se território russo em 1552, dominada pelo czar Ivan, o Terrível. A presença muçulmana é uma das marcas da cidade em que o Brasil joga nesta sexta-feira.

A estação de trem de Kazan, localizada a 600m do hotel em que a Seleção Brasileira está concentrada, estava cheia na última quinta com a chegada de brasileiros e turistas. O transporte na Rússia tem agradado aos estrangeiros.

- Os trens são fantásticos, eu não tinha imaginado que encontraria isso na Copa do Mundo. É um transporte confortável que tem levado turistas e jornalistas. Eu penso que o povo russo está fazendo um ótimo trabalho na organização do Mundial. A segurança está muito boa. O único problema é o idioma, muitas vezes há muitos voluntários em um lugar, e não em outro. Você vê muitos voluntários numa parte do estádio e nenhum no metrô, apenas isso - comentou Michael Burgess, que teve uma rápida aula de russo na viagem com o novo amigo Kamil. Burgess também esteve na Copa de 2014 no Brasil.

- Não há trens como aqui, mas foi uma Copa incrível, estive em Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Rio. O povo é adorável e a energia daquele Mundial foi incrível - completou o jornalista da Nova Zelândia.

Às 10h45 de quinta-feira, conforme prometido na passagem, pontualmente, o trem para Kazan estacionou. Quem era do Brasil caminhou até o hotel da Seleção para ver a chegada da equipe, que aconteceu pouco mais de uma hora depois. Agora tanto jornalistas quanto turistas ou fãs de futebol da Rússia estarão de olho em brasileiros e belgas. Com a bola rolando...

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