Após combater racismo, torcedores do Corinthians ganham novo ‘jogo da vida’
Uma semana após perder o jogo de ida das oitavas de final da Libertadores, em São Paulo, dupla de corintianos está em Buenos Aires para acompanhar a volta
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O espaço foi de apenas 15 minutos entre o LANCE! publicar a matéria contando a história da dupla de amigos que perdeu o jogo de ida das oitavas de final da Libertadores, entre Corinthians e Boca Juniors-ARG, em Itaquera, para denunciar atos racistas na arquibancada e uma mensagem recebida pelo repórter responsável pela publicação em seu perfil pessoal no Instagram.
No contato, alguém chamado Pedro Gabriel pedia para ser levado até Gabriel e Guilherme, personagens do texto, pois o diretor da empresa que ele trabalhava gostaria de custear a ida dos amigos a Buenos Aires, para acompanhar a partida de volta entre Timão e xeneizes.
Com os olhos marejados, este que vos escreve toma neste momento a ‘liberdade poética’ de ‘rasgar o manual de redação’ e descrever alguns pontos usando a primeira pessoa, a fim de expor a emoção em que foi tomado, pois se sente parte efetiva da história.
O reflexo instantâneo da mensagem pelo Instagram foi comunicar os garotos sobre a novidade. Lembrei, então, que tinha pego a conta no Twitter de Guilherme e até mesmo me esqueci que tinha o contato dele no WhatsApp, afinal, foi por lá que ele encaminhou o vídeo de denúncia que acabou na detenção de um dos três torcedores do Boca que praticaram atos racistas no estádio corintiano, no último dia 28 de junho.
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A mensagem na rede do passarinho azul para que Gui entrasse em contato o mais rápido possível seguiu por um ‘oi’ do garoto pelo WhatsApp, exatamente um minuto depois.
A sequência foi encaminhar o print da mensagem de Pedro Gabriel, funcionário do departamento de Tecnologia da Informação da empresa em que o responsável por arcar com a ida dos garotos à Argentina trabalhava.
O retorno de Guilherme foi com uma mensagem de áudio de oito segundos.
- Ca…, mano! Não brinca, mano. Não fala isso, mano. Mano, é sério. P… que pariu – disse Guilherme ofegante, como quem não acreditava no que acontecia, seguido de uma breve frase, dessa vez escrita.
- Irmão, ‘cê’ tá falando sério? - questionou o corintiano.
E nunca havia sido tão sério, nem tão feliz. Atingir efetivamente a vida de alguém de forma tão positiva após a prestação de um ato de tanta honradez é algo que preenche o coração de qualquer um com alegria. Missão cumprida, no jornalismo e na vida. Batalha conquistada, em uma guerra social que é longa e perene.
O passo seguinte foi conversar com Rafael Januário, diretor da empresa que custearia a viagem da dupla de corintianos.
No primeiro contato, Rafael deixou claro que a ideia partiu do seu tio, Milson Januário, CEO da empresa de comércio internacional, a quem definiu como 'um cara com sangue corintiano e que não admite ações preconceituosas'.
- Ele (Milson) sabe muito bem o que é perder um jogo do Corinthians. Então, além da atitude dos meninos, que ele achou excepcional, atitude de braveza, de ficar lá e se expor para defender uma causa, ele se sensibilizou pelos meninos terem perdido um jogo tão especial do Corinthians – explicou Rafael em contato por mensagens.
Em contato com a reportagem, por telefone, Milson explicou que a iniciativa foi tomada para que, diferentemente das campanhas de conscientização das entidades esportivas em combate ao racismo, ele, de forma individual, tomasse uma ação efetiva.
- Muito se fala sobre ações de combate ao racismo, pelos clubes, Conmebol, mas só vemos essas atitudes continuarem, o que significa que nada é feito de forma efetiva para coibir isso. Então, decidi fazer algo que fosse realmente efetivo – disse Milson.
Em todos os momentos, tanto Milson quanto Rafael deixaram claro que a ação tomada não se tratava de uma ação de marketing.
- Se eu me utilizar da história desses amigos para fazer publicidade, estarei sendo pior que os racistas – afirmou o CEO da empresa.
Por questões pessoais, Gabriel não conseguiu embarcar, diferentemente de Giovane e Guilherme, que tiveram a experiência internacional.
Na classe executiva, a dupla de corintianos foi para Buenos Aires acompanhado de Milson e Milena, esposa do empresário. Aliás, eles se conheceram por conta de um amuleto de São Jorge, padroeiro corintiano.
É o Corinthians que une histórias, trajetórias e vidas, de diferentes lugares, distintas classes sociais e costumes culturais, mas com o mesmo legado.
É esse ‘corintianismo’ que tem valores que são universais, em meio a um Universo perdido de valores, onde, em plena era da evolução, ainda somos obrigados a ver seres tão involuídos, que se acham superiores por conta da sua cor ou fazem saudações que remetem ao pior do que já se existiu na história.
Quem não conhece o passado está fadado a repeti-lo, mas que o presente ensine que a evolução no meio do caminho, e o Corinthians traga a tona sempre os seus ‘Gabrieis, Giovanes, Guilhermes, Milsons, Milenas e Rafaeis’.
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