Corinthians corajoso e Tiago Nunes como referência: Coelho fala ao L!
Agora técnico do sub-20, Coelho defende suas convicções de jogo, projeta futuro na carreira e aponta Athletico-PR de Tiago Nunes como exemplo positivo nesta temporada
No início de novembro, Dyego Coelho foi chamado às pressas para assumir o Corinthians na reta final do Campeonato Brasileiro. Oito rodadas e 34 dias dias depois, o treinador voltou ao comando do sub-20 em alta após ter colocado o Timão na Copa Libertadores 2020. Defensor de suas ideias ofensivas de jogo, das quais não abre mão, o comandante agora foca no futuro de sua carreira e revela o desejo de aprender com Tiago Nunes na próxima temporada.
Na última segunda-feira, Coelho atendeu a reportagem do L! no Parque São Jorge - seu atual local de trabalho. Já pensando na montagem da equipe que defenderá o Corinthians na Copinha, o treinador relembrou os momentos de pressão no CT Joaquim Grava, falou sobre suas convicções no futebol e fez elogios ao seu sucessor no comando do Alvinegro no ano que vem.
- Torço muito para que o Tiago (Nunes) faça um bom trabalho, estou torcendo demais para isso. Ele é um dos treinadores tops que temos no país e é uma oportunidade para aprender com ele. Quero ir lá (CT Joaquim Grava) e ver como ele faz, como ele trabalha. Será um aprendizado enorme.
Você teve uma temporada puxada. Passou pelo Guarani, voltou a ser o técnico do Sub-20 do Corinthians após a ida do Barroca ao Botafogo e passou um mês no CT Joaquim Grava. Qual o balanço que você faz dessa temporada?
Iniciei o ano no Guarani como auxiliar do Osmar Loss. Fiquei lá e atingimos o objetivo que era não cair com o Guarani. Depois, com a saída do Barroca para o Botafogo, o pessoal da base me chamou para retornar. Tivemos a melhor campanha do Paulista até as quartas de final, classificamos para a semifinal do Brasileiro, mas acabou tendo aquela reviravolta no profissional, o presidente me ligou e comecei a briga pela Libertadores com o Corinthians.
Qual foi o seu maior desafio nesta temporada?
Sem dúvidas, o Corinthians (profissional) foi o mais difícil. O time vinha de derrota (4x1 para o Flamengo, no Rio) e eu peguei um grupo muito preocupado. As coisas não estavam funcionando. Conseguimos pegar as ideias que tínhamos aqui (sub-20), levar para lá e fazer com as coisas dessem certo. Essa foi a grande dificuldade, mas conseguimos colocar o Corinthians na Copa Libertadores.
Quando você chegou no CT Joaquim Grava se sentiu mais pressionado, por conta da pressão que rondava o clube, ou mais acolhido, já que desde o início sua relação com os jogadores foi sempre boa?
Uma coisa abraçou a outra. Quando eu jogava era assim: tinha a parceira entre os jogadores e o treinador e as coisas funcionavam. É claro que há um limite, mas você é o chefe e precisa ter discernimento para ter esse equilíbrio. Cheguei em uma pressão, assim como eles também estavam. Virei para o grupo e disse: 'Está todo mundo nessa, não tem jeito. A melhor coisa que a gente pode fazer aqui é fazer com que o ambiente no CT seja bom para nós'. Foi isso o que aconteceu. Eles estavam precisando de um choque, mas também precisavam de parceria. Eles acreditaram em mim e as coisas começaram a fluir, claro que houve oscilação, mas essa foi a grande sacada.
Quais foram seus méritos nessa conquista da vaga da Libertadores?
Colocar coragem para os jogadores. Essa foi a grande diferença. Cheguei na pressão, eles estavam na pressão. Coloquei algumas situações ao grupo e disse: 'vou colocar algumas ideias aqui, se vocês acharem que não dá para fazer, a gente muda. Mas vamos ter coragem de jogar'. A mudança de comportamento veio muito rápido.
Você ficou satisfeito com seu desempenho? Foram oito jogos, com três vitórias, dois empates e três derrotas, mas com a vaga na Libertadores garantida, o que era o seu objetivo.
Ficou meio a meio ali. Lógico que eu queria a quarta vitória (contra o Fluminense, na última rodada), mas fico satisfeito porque o objetivo era a vaga na Libertadores. Os números poderiam ser melhores, mas a vaga é o que era importante. O que foi combinado era a vaga e nós conseguimos.
Qual foi o jogo mais marcante?
Foi o melhor jogo que nós fizemos, contra o Botafogo. Tivemos a proposta de marcar em cima e o gol não saia. Olhava para cima, fava com Deus, mas o gol não saia (risos). Esse foi o mais complicado. Em questão de números - confesso que eu nem sou ligado a isso - tivemos um número alto de finalizações (21 chutes). Ali, no vestiário, senti que eles entenderam a ideia, de que era importante jogar para frente e também de que era possível.
E qual foi o momento mais difícil?
Foi o primeiro jogo, contra o Fortaleza. Era um time muito bem montado, muito bem montado mesmo, e a gente tinha uma pressão gigante. Era vencer ou vencer porque a pressão era enorme. Ali, se não vencesse, não sei o que aconteceria. Ainda tínhamos pela frente Palmeiras, Internacional e outros adversários difíceis. O jogo contra o Fortaleza foi o mais importante em questão de resultado porque precisávamos de tranquilidade.
Falando um pouco sobre suas convicções de futebol ofensivo, elas foram construídas ao longo da sua carreira como atleta ou você passou a tê-las depois de pendurar as chuteiras e estudar para ser treinador?
Você vai pegando tudo, você vai lembrando de algumas coisas que você fazia quando era jogador, de treinadores que passaram pela sua carreira e sabe o que realmente funciona. Vendo os jogos, trocando ideias com pessoas mais experientes. Gosto dessa situação de sair jogando bem, romper a linha adversária e ser mais agressivo. O Athletico-PR do Tiago Nunes fazia isso muito bem, já peguei vários jogos daquele time para assistir. Vejo também bastante coisa do Campeonato Argentino. Eu sou curioso, quero ver, quero aprender. O Athletico-PR não foi campeão à toa. Tinha uma saída de bola boa, que já vinha da época do Fernando Diniz, o Tiago adaptou e passou a ser mais agressivo. É isso que eu gosto que se faça.
Quais são os times e treinadores que você tem omo referência?
Pega a Seleção Brasileira de 1982, por exemplo. Vira e mexe nós vemos coisas deles por aí. Você pega o Corinthians de 1998 e 1999. É algo que todo mundo quer fazer: jogar com dois volantes e com dois meias. Esse time do Corinthians era um absurdo, esses caras jogavam algo fora do comum. Hoje, tem o Liverpool do Klopp que joga com muita intensidade. Eles saem em uma velocidade absurda, rompem linhas e são agressivos. Rompeu a linha, não tem mais posse: tem que ser agressivo.
Como encontrar equilíbrio para ter um time com uma postura tão ofensiva, mas sem deixar a defesa exposta?
A grande situação é entender muito bem o que você pretende fazer com a bola. Se você quer jogar com a bola, tem que montar um esquema para isso. A outra situação é: depois que eu perco a bola, o que eu devo fazer? Então, monto treino de marcação-pressão. Isso é defensivo. A bola não pode sair do setor em que eu a perdi. Mas, quando ela sair, preciso ter uma transição defensiva muito rápida. Isso tem que ser muito bem treinado. O treino tem que ser intenso, se não for, você não vai conseguir fazer em campo. Defensivamente, é uma situação difícil porque é a parte ruim do futebol. Jogador brasileiro gosta de atacar. Às vezes, você tem que dar mais ênfase na estrutura defensiva porque é uma deficiência da cultura do futebol brasileiro. Precisa fazer trabalhos com a linha de quatro, trabalhos de cobertura, desfazer as linhas dos laterais, os volantes voltando para os zagueiros saírem da área, posicionamento corporal... Então, são situações que só o tempo leva ao entrosamento da equipe, principalmente na parte defensiva. Não dá para arrumar um time tão rápido.
No Corinthians você não teve tempo....
Exato. Por isso, escolhi duas situações: ficar com a bola e fazer o perdeu-pressiona. Isso te dá mudança de comportamento. O treino tinha que trazer isso para dentro do campo. Eles precisavam mudar esse comportamento e conseguiram. Consequentemente você consegue colocar mais jogadores em situação ofensiva.
A temporada 2019 mostrou ao futebol brasileiro que dá sim para ter uma postura ofensiva. Não à toa, Jorge Jesus e Jorge Sampaoli são apontados como os melhores técnicos do ano no Brasil. Você acredita que há mesmo uma tendência do futebol nacional resgatar esse DNA ofensivo?
Sim, com certeza. A velocidade começa a aparecer, você passa a romper linha, atacar rápido. Isso te traz uma situação na qual todo jogador que estiver em campo precisa saber jogar com a bola. Não tem como fazer um ataque rápido, pressionar o adversário, sem isso. O futebol brasileiro vai ficar mais veloz. Estamos entendendo que há a necessidade de subir a última linha de quatro para jogar no campo do adversário. Isso te leva a um jogo mais agressivo, mais intenso. Mas, claro, você precisa estar organizado para fazer isso. Se um jogador errar, você leva o contra-ataque. Futebol é um jogo dinâmico, intenso. Vai sair mais gol no futebol brasileiro, vai começar a mudar. Não digo que eles (Jesus e Sampaoli) trouxeram isso para cá, mas eles conseguiram fazer isso aqui. Essa é a diferença.
Na sua última entrevista no Corinthians, você se colocou à disposição do clube caso apareça uma nova oportunidade no futuro. Essa possibilidade de assumir um time grande vale apenas para o Corinthians ou você está aberto a receber propostas de outros clubes?
Tenho algumas coisas para fazer aqui ainda. Tenho que terminar os cursos. Foi boa a experiência lá, mas não posso empolgar e achar que posso fazer qualquer outro clube chegar para me fazer uma proposta. Tenho minha programação no Corinthians, tenho que estudar, sou treinador não tem muito tempo, não é à toa que já passei algumas dificuldades, mas tenho que aprender mais antes de assumir qualquer coisa que venha de fora. No Corinthians há essa facilidade porque conheço o clube, vivo aqui há muito tempo. As coisas aqui têm um olhar mais tranquilo para que eu faça o meu trabalho. Se for algo fora do Corinthians, preciso me preparar mais. Claro que se aparecer uma oportunidade aqui eu tenho que estar muito mais preparado do que agora. Vou aproveitar essa Copinha, os cursos, os campeonatos na base. Espero que, se um dia isso acontecer, demore muito. Torço muito para que o Tiago (Nunes) faça um bom trabalho, estou torcendo demais para isso. Ele é um dos tops que temos no país e é uma oportunidade para aprender com ele. Quero ir lá (CT Joaquim Grava) e ver como ele faz, como ele trabalha. Será um aprendizado enorme.