Fábio Carille, um organizador sincero, em entrevista a José Luiz Portella
Técnico do Corinthians abre o coração sobre a sua trajetória, da infância até hoje, quando tornou-se campeão paulista e atual sensação do futebol brasileiro ao estabelecer recordes
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Fabio Carille é um organizador. Um organizador genuíno, que transmite sinceridade na fala e na obsessão pela organização. Calmo, tranquilo, aparenta um bom humor permanente, uma forma de ser que vem do interior de São Paulo.
Carille foi para Sertãozinho com 12 anos, quando o pai estava desempregado e apareceu uma oportunidade junto à família.
Relembra com alegria do passado. Foi office-boy, cursou o SENAI, formou-se torneiro mecânico.
Esteve na China durante a pneumonia asiática (Sars), ficou 4 meses treinando, sem jogar.
Disse que nunca se desespera. Sabe aguardar.
Não gosta que compliquem o futebol. Única vez que relatou alguma irritação: quando assiste jogos entre times desorganizados.
Fabio Carille é evangélico praticante e abstêmio.
Ele já está na mira de outros times grandes, que sondaram o seu procurador, porém reitera que deseja ficar muito tempo no Corinthians. Planeja, apenas um breve estágio no exterior, sem deixar o clube.
Carille acredita em disciplina, intensidade e compactação.
Ele é uma novidade. Com grande probabilidade de se tornar campeão, num mundo repleto de vaidades e idiossincrasias, de técnicos complicados e performáticos, Carille não tem discurso pretensioso. Não passa arrogância professoral, nem procura sofisticar as explicações. Ele é simples. E organizado.
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Qual a lembrança de Sertãozinho?
A minha maior lembrança de Sertãozinho são os amigos. Foi uma cidade que nos acolheu em um momento muito difícil do meu pai, eu ainda era uma criança e na questão do desemprego, que deu oportunidade do meu pai trabalhar e que eu também logo que cheguei, comecei a trabalhar em um comércio lá, com 12 anos, dos 12 aos 14 anos trabalhei como office boy de um comércio. Mas a melhor lembrança são os amigos assim, sempre que posso estou lá.
Cerveja, churrasco?
Sempre com churrasco, mas nada de cerveja, não tomo nada de álcool.
Como você lidou com a fase do anonimato, trabalhando como auxiliar sem ter certeza que a oportunidade surgiria?
Pra mim foi muito diferente, do que outros profissionais que já chegam em um clube grande e assumem, porque eu tive uma preparação dentro do Corinthians, foram oito anos como auxiliar. O ano passado eu tive a experiência de dirigir o clube por 28 dias, 6 jogos, e ali me fortaleceu bastante. Quando chego em dezembro, a gente ouvia as notícias em Sertãozinho, de férias, que não tinha acertado com ninguém eu acho... eu comecei a sentir que isso ia ficar muito mais perto. Então recebi com muita naturalidade, claro que minha vida mudou a partir daquele momento, foi anunciando no dia 22, no dia 23 voltei para Sertãozinho, minhas férias acabaram. Aquele assédio que é ser técnico do Corinthians, que a gente já sabe como funciona. É, mais não foi um susto tão grande, porque eu já vivi momentos bons e ruins.
Antes de ser escolhido pensou em sair?
Eu sempre deixei assim muito claro a minha vontade de ser técnico, e só não saí do Corinthians antes, porque a gente não confiava nos diretores por aí, para dar uma sequência de trabalho e fui ganhando mais espaço no Corinthians e fui ficando.
E quando foi anunciado?
Então, eu me senti muito tranquilo, porque eu participei de tudo, a partir do momento que o Roberto falou que ia ser um técnico até dezembro; é porque ele tinha uma ideia de trazer um outro para 2017. Então eu falei para ele: presidente, já que tem essa ideia, traz esse profissional o quanto antes. Faltava um mês para terminar o ano, para ele conhecer o elenco, e assim já pedir para que chegar em janeiro de 2017 e pra conhecer tudo ainda, vai perder tempo né, claro que a gente não discutiu sobre nomes, mas isso foi uma coisa que eu passei para a diretoria desde o momento que eles tinham a ideia que em 2017 iam trazer outro profissional. Participei de tudo, sabia de tudo, muito ciente de que aconteceu.
E quando o Oswaldo de Oliveira chegou?
Eu acreditava que ia aparecer outra chance, mas não agora, porque 2016 foi um ano muito ruim no Corinthians, e colocar um auxiliar, o presidente, a diretoria vai colocar toda a responsabilidade para ele. Mas por tudo que aconteceu eu sabia que ela ia aparecer, mas eu achava que ia demorar um pouco mais. Mas eu sou muito tranquilo, claro que não me desesperei, não me desespero em momento algum.
O que fazia como auxiliar?
Sempre que chegava um profissional ali, eu sempre me afastei um pouquinho durante um mês para conhecer qual é a linha de trabalho dele. E a partir daí eu começar a colocar minhas ideias em cima das ideias dele. Não adianta ele vir aqui e eu querer entrar em choque. Eu tenho que acompanhar. Eu tenho que pensar como técnico, mas eu tenho que agir como auxiliar, quando eu sou um auxiliar, eu tenho que fazer a cabeça do técnico trabalhar e todos me deram muita abertura.
Quais as tarefas?
Com o Mano e com o Tite era muito parecido.
O que fazia?
Essa parte defensiva, eles deixavam eu cuidar, mas é claro que era discutido com todos e como eu joguei muito tempo como zagueiro, lateral por 14 anos, o Tite tinha uma confiança maior em deixar eu cuidando dessa organização, linha defensiva, de cobertura.
Realizava treino de posicionamento, é isso?
Com as linhas defensivas, a titular e a reseva, ficava com oito atletas aí, uma vez por semana explicando como cobra essa bola, cruzamento, posicionamento de área, todas essas coisas. Depois juntava todos os setores para fazer um treino em conjunto.
Com o Tite e o Mano foi semelhante. E os outros?
O Osvaldo, Cristovão e Adilson que foram os outros três, ficaram muito pouco tempo. Não cheguei a conhecê-los como tinha que conhecer.
Como define o sistema do Corinthians? Os laterais são os armadores?
Perfeito! Muito parecido com o Tite. Eu trago os laterais na linha dos zagueiros para receber a bola e começar a construção dali. É um trabalho que a gente faz diário, tentar começar as triangulações com o lateral, por dentro normalmente é muito congestionado, uma equipe de muita organização que todos sabem realmente o que tem que fazer com, ou sem bola, mas perfeita a sua observação, os construtores são os nossos laterais.
Você esteve na China?
Fiz o Campeonato Brasileiro pelo Paraná Clube, e logo na sequência eu recebi o convite para em 2003 ir para o Guangzhou.
Como estava a China?
Não se compara a hoje, porém eu fui em um ano ruim, que foi o ano da pneumonia asiática, eles não tomavam as vacinas, que nem nós aqui, foi uma epidemia no país, mas nós estrangeiros estávamos muito tranquilos lá, e o campeonato não começou, então fiquei 4 meses em uma país sem jogar, só treinando...
Você se adaptou? Alimentação?
Alimentação? Perfeito! Não tive dificuldade nenhuma. Carrefour, Walmart, tinha tudo lá. Quem vai para lá, isso estou falando de 14 anos atrás, quem vai pra lá e reclama e porque não quer ficar lá. É um pais que tem tudo, totalmente aberto.
Como cuida da cabeça do jogador?
Eu tenho um cuidado de ser igual com todos, de ser verdadeiro com todos, hoje o Corinthians não tem psicólogo não tem nada, desde que eu cheguei ao Corinthians nunca teve, para falar a verdade. Então é conversa, é ser verdadeiro, é explicar, é ter os cuidados na hora de fazer uma cobrança, que seja individual; na hora de elogiar, ser em grupo. Eu tenho esses cuidados do mesmo jeito que eu trato o Jadson de 34 anos eu trato o Pedrinho de 19, porque se eu tratar o menino diferente, os próprios jogadores reprendem: Porque está tratando o menino diferente, então eu acho que esse dia-a-dia, o olhar, ser verdadeiro.
Mas você não tem um plano para cada um?
Eu sei como lidar com cada um, eu sei, assim de tanto tempo de estar no clube, um pouquinho de dificuldade com esses atletas mais novos. Mas eu sei, esse aqui tem que passar mais a mão na cabeça, vamos dizer assim, ser mais paizão, que ali você tem que ser um pouquinho mais forte, mas dentro de uma linha, eu tenho... sou bom para essas coisas vamos dizer assim (Risos).
O que é mais importante?
O mais importante que eu vejo é deixar as coisas muito bem definidas e ir para o campo. Principal ferramenta é o campo na minha opinião, depois vem vídeos, depois vem conversas, e o lado psicológico de cada um é saber lidar com cada um. Acho que a primeira é deixar as coisas bem definidas e deixar eles acreditarem que aquilo dará certo.
Detalhe mais.
Isso, é passar as funções, com ou sem bola de campo, e ele saber, que tem que cumprir dentro daquela faixa de campo. Eu sou um técnico que não gosto de jogadores ficarem circulando muito o campo, do jeito deles. Eu gosto das coisas muito bem definidas, meio mecanizada né. Aí o que eu mudo são as características dentro de cada jogo. Um exemplo é colocar o Jadson para a esquerda que é um armador, colocar o Romero para a direita que é um cara mais de cumprir função, de mais força, são os ajustes do jogo, mas eu não mudo a minha ideia de jogar.
Você mantém o time mais posicionado, com funções definidas e pouca variação nessas funções.
Perfeito! Tanto na bola parada, e em todas as questões que isso facilita no dia-a-dia, então os próprios jogadores começam a se cobrar, de ter as coisas definidas. O cara que vai entrar em campo substituto, já sabe o que tem que fazer, facilita demais o dia-a-dia e dá resultado.
Bola parada virou um mito, fale sobre ela.
O principal dela é o posicionamento do corpo, eu vejo ainda no futebol muitos erros de posicionamento, os caras só olhando a bola, não vê o que esta acontecendo na área. Segundo, repetição né, esses dias saiu uma matéria falando do Corinthians que tomou 6 gols de bola aérea, mais cruzaram 500 bolas na minha área, pô! (Risos) né, são assim, per aí, assusta (Risos). Quantas bolas cruzaram para a gente tirar?
São poucos gols sofridos.
É isso. Principalmente posição do corpo, repetição é falar, hoje a gente treina a bola parada toda véspera de jogo, então a gente já passa os pontos fortes, quem a gente tem que bloquear quem são os melhores cabeceadores, aonde que essa bola cai.
Você define com precisão a cada jogo?
Sim. Isso, a gente deixa tudo muito definido, que nem o Leonardo Silva agora que foi no jogo do Atlético Mineiro, é um cara que você não pode deixar embalar, então você coloca escudeiros pra não deixar correr para cima.
O escudeiro não dá espaço para ele ganhar... embalar para sua área, a gente trabalha muito o adversário, se é o pé aberto que a gente chama ou se é o pé fechado pra gente posicionar melhor dentro da área, são só questões de jogo que ajudam a gente repete demais, e precisa. E a ofensiva também, a gente pega um adversário que marca individualmente, a gente trabalha o bloqueio de basquete pra escapar um e atacar a bola, e ai são as questões do jogo. Quando pega o pé fechado, a gente entra mais do lado na nossa área, protege mais o primeiro pau, porque normalmente essa bola cai ali na frente, com o pé aberto normalmente vai cair no pênalti, então essa linha vai sair mais do goleiro, porque é uma bola que vai fazer uma curva para fora.
Houve falha no gol do Flamengo? Arana saiu e Pedro Henrique ficou.
Ele precisava sair, a gente já conversou sobre isso, mas era um lance difícil, um lance rápido, mas é que muito treinado sim.
Quais são os pontos fortes e fracos?
Eu não tenho problema de falar isso não, os três pontos fortes são a organização, a compactação, e a saída definida em forma de triangulações principalmente pelo lado. E que foi até o caso do primeiro gol dessa última partida (Atlético-MG) aí dos jogadores aproximarem e ficarem com a bola e sempre um infiltrar para receber em profundidade. O que a gente precisa melhorar é... ainda a parte ofensiva tem muito pra crescer, que a gente sabe que requer tempo.
O quê?
Como sair, definido na hora de um esticar, que nós chamamos de esticar o campo, de dar profundidade, levar a zaga, a linha defensiva do adversário pra trás, mas a gente tem melhorado e tem muito para melhorar, a nossa bola parada ofensiva pode ser melhor, pelos batedores e pelos cabeceadores que a gente tem, ainda tem espaço para a gente compactar mais. Eu quero chegar ainda, estamos trabalhando em uma faixa de 30, 35 metros da linha defensiva para o jogo eu quero trazer isso pra 25, 30 né, o compacto tem sendo difícil tanto para atacar quanto para defender.
E você como treinador, quais seriam os pontos fortes e aqueles que precisa crescer?
Eu acho que algumas coisas que ajudam nessa minha profissão hoje é de ser tranquilo, é de ter a cabeça muito aberta pra escutar, sou aberto a tudo, claro que eu tomo a decisão, mas eu escuto todo mundo, isso é muito importante, e... eu acho que com o tempo eu vou conseguir variar mais. Como é que eu poderia falar isso? Variar mais a forma de jogar, ter alternativas dentro de uma ideia de jogo. Variáveis, variações, isso.
Variação de jogo é um ponto que você precisa incrementar?
Sim, sim. Ah... acho que são questões assim mesmo que aparecem no jogo, como é que eu vou dizer isso? De você ali na beira do campo ter a cabeça pra resolver, como é que eu coloco isso?
Rapidez de decisão à beira do campo?
Mais experiência, não sei. Com o tempo você vai ganhar isso também.
Experiência de momentos difíceis?
Tomar decisões rápidas ali na beira de campo.
Como funciona o Centro de Inteligência?
O Centro de Inteligência é importantíssimo hoje, para o futebol, não tem como falar que não é, também é algo muito teórico, que os profissionais têm que entender, receber todas as informações, mas também saber o que usar no seu dia-a-dia, eu recebo tudo, e claro que eu direciono aquilo que é melhor, para estudar o adversário, de pontos fortes, pontos fracos pra gente explorar, de pontos para a gente ficar esperto, ficar atento com o adversário. Lado que é mais rápido, lado que é mais defensivo, lado que dá para explorar mais, bolas paradas, pra ver tudo. Porque é tanta correria, um jogo de quarta, pra sábado, pra domingo, a gente não tem tempo. Então isso já chegou tudo pra mim sobre o Sport, que no caso é o próximo jogo. Isso ajuda, já o Centro de Inteligência acelera pra mim na sexta passar para os atletas, porque sábado tem jogo e muitas vezes não se vai nem para o campo, é só recuperação. Então é na base da conversa, então o fundamental, mas não é o principal. Eu estou vendo que alguns profissionais estão colocando o Centro de Inteligência como principal, mas não é. É uma ótima ferramenta, mas o principal é o campo, o principal é você saber o que vai jogar, é tirar, absorver tudo aquilo que é importante para aquela partida pra gente ser direto com o atleta.
Como você traduz as informações para os atletas?
Por nós termos a forma definida certa desde o primeiro dia de trabalho, ele já sabe. Recentemente, jogamos contra a Universidade do Chile lá. Onde eu sabia ser o lado forte, trouxe o Romero para jogar aqui do lado direito nosso, que era do Jadson, e coloquei o Jadson do lado deles que “não vinha”, não mudei a minha ideia de jogo, e sim mudei a característica do atleta para aquela partida, e fizemos um baita de um jogo lá, ganhamos de 2x1, então são esses detalhes. O Romero já veio “pra cá” sabendo o que tinha que fazer, o Jadson já foi “pra lá” sabendo o que tinha que fazer né, e a gente se comportou muito bem, mas é isso, muitas vezes não da tempo de treinar.
Alguma vez é surpreendido pelo técnico do outro time?
Sim, já aconteceu, porém quando a gente recebe a escalação, a gente já sabe o que o técnico esta pensando. Então você tem 45 minutos para passar a informação para seus atletas, é muito difícil ir para campo e ser surpreendido no campo. O que pode acontecer? Que lado o atacante mais rápido pode aparecer, então muitas vezes com dois, três minutos de jogo também dentro de campo, já tenho passado para os atletas, que se eles “ jogarem de um jeito”, a gente vai se comportar assim. Se vierem de outra forma, vamos nos comportar de outra forma. Dentro da nossa organização.
Você sempre fala que o jogo contra o Palmeiras mudou tudo.
Sim, porque nosso começo de ano foi muito desacreditado, tanto pela imprensa quanto pela torcida. É a gente sabia, não imaginava que ia ser campeão paulista, não imaginava que ia iniciar tão bem o Brasileiro também, mas não achava que ia ser tão ruim como todos falavam né, então ali a torcida não compareceu em peso para um clássico contra o Palmeiras. São varias questões que a gente sente, eu estou no clube a muito tempo né, então ali foi uma virada.
Foi o ponto de inflexão?
Foi o ponto. O torcedor no outro jogo já chegou a 30 mil, e começou a aparecer, a imprensa já começou a olhar diferente, a gente já foi crescendo na competição, mas aquele jogo foi a grande mudança para nós.
Cite um time e um técnico fora do Brasil como referências.
São vários profissionais né, é muito difícil falar quando você não acompanha o dia-a-dia de trabalho, é muito difícil você falar de um técnico que é muito diferente do nosso país, a gente costuma a falar do Barcelona do Guardiola, todos aqueles talentos ficaram seis, sete anos juntos né, então aqui no Brasil a cada seis meses, um ano mudam seis, sete jogadores, você tem que começar tudo outra vez, então é muito difícil assim comparar, falando de comparações. Mas pela a minha ideia de futebol, é o futebol italiano, e mais recente, agora, é a Juventus, as linhas organizadas, os jogadores atuando, sabendo sair com triangulações, sendo agressivo com o adversário, então hoje a minha maior referência, gosto do Ancelotti. As equipes do Ancelotti são muito organizadas, não sei o dia-a-dia, vou fazer um estágio ainda, vou dar uma viajada pra fora pra saber como é esse trabalho, mas é uma equipe assim, as equipes dele eu gosto, mas hoje falando de equipe é a Juventus.
A palavra organização é muito forte para você?
Muito forte, eu não consigo ver futebol sem ter organização, tem jogos assim no campeonato, assim que me irritam, eu estou assistindo e de repente eu paro de assistir porque eu vejo muita bagunça, muita bagunça mesmo, e eu falo isso desde, antes de eu ser treinador, eu não sei se eu vou ser campeão, mas as minhas equipes vão ser organizadas.
Além do Corinthians quem é bem organizado?
Botafogo! Botafogo pra mim em questão das linhas dentro, daquilo que eu penso como futebol, e equipe é a mais organizada. É o time do Jair.
Quando de fato você sentiu a confiança necessária e percebeu que ia dar certo?
Essa experiência de 2016 já me fortaleceu demais, demais, onde eu dei palestras para os atletas, comandei treinamentos, imprensa, no geral me senti muito bem, aqueles 28 dias foram no mês de outubro antes da chegada do Osvaldo, me senti muito bem, e logo no primeiro dia de 2017 com entendimento de trabalho na Flórida, nós pegamos o Vasco com 10 dias a mais de trabalho e ganhamos de 4x1, onde tudo funcionou, com São Paulo 0x0 e isso foi fortalecendo a cada dia, mas o que me deu força assim de acreditar que podia dar certo, com certeza foi o período de 2016.
Como decidiu ser técnico, arriscar? Você planejou uma meta, eu vou tentar até quando?
Muito legal falar sobre isso, Portella, em 2000 eu estava com 27 anos e eu jogava no Juventus aqui de São Paulo e os garotos por confiança começaram ah, Fabio, por que você não vira meu empresário, meu procurador? E eu como atleta não ganhei dinheiro pra isso, não ganhei, acho que pra você investir tem que ter algo que ajude quando as coisas não estiverem acontecendo do jeito que a gente pensa. Então em 2000 eu coloquei na cabeça que eu ia seguir na área técnica, 27 anos, parei de jogar com 33...
Bem antes.
Bem antes, isso em 2000 eu parei de jogar em 2007 no Barueri, hoje eu falo para jogadores que estão chegando com 28, 30 anos, direciona o que você quer, a maioria dos profissionais hoje, dorme hoje jogador e acorda amanhã ex-jogador e não sabe o que fazer né, então eu já tinha... fiquei 7 anos jogando já sabendo o que eu queria e na verdade eu não estipulei um prazo, na verdade eu...
Qual foi o primeiro emprego depois de encerrar a carreira como jogador?
Joguei 2006 até maio de 2007 no Barueri e ali mesmo eu já comecei a trabalhar na área técnica do Barueri.
Como auxiliar?
Como auxiliar técnico aí em 2000...
Quem era o técnico?
Primeiro ano foi o Rui Scarpino, depois Gelson Silva, de Santa Catarina, Sérgio Soares, e o último foi o Márcio Araujo, grande amigo, um cara de eu admiro demais. Subimos para a série A (Barueri) junto com o Corinthians e em janeiro de 2009 recebi o convite para ir para o Corinthians. O Márcio Araujo é profissional, excelente pessoa... um dos meus pais na minha profissão, pode ter certeza.
Por que o Mano te chamou?
Eu fiz estágio com eles em 2007 no Grêmio, fiquei uma semana lá e o Sidney, que é auxiliar dele até hoje, o Sidney Lobo, Lobinho que jogou no São Paulo, é joguei com o Sidney. Joguei 3 anos com ele lá no Paraná Clube, então é um grande amigo, sempre deixei bem claro pra ele essa minha ideia, e no Corinthians sempre faltava um para ficar dentro do Parque São Jorge, na época, porque a equipe viajava e não tinha ninguém pra dar treino para os jogadores que ficavam. Então procuraram saber sobre o meu trabalho no Barueri que era muito parecido com o que eles queriam né, em janeiro de 2009 fizeram um convite para que eu fosse para o Corinthians.
Mano logo o colocou treinando o sistema defensivo?
Não, esse período eu trabalhava muito por trás, ajudando mesmo no dia-a-dia, apitando treinamentos que eles direcionavam, trabalhos técnicos e individuais no final do treino, ainda não tinha pego a parte defensiva nesse período, e fui mais esse suporte que eles precisavam dentro do Parque São Jorge, uma pessoa da confiança deles, para que quando saíssem, as coisas andassem bem ali, o treinamento dos jogadores que não viajavam.
Voltando a você, como foi a vida profissional antes do futebol?
É eu trabalhei dos meus 12 a 14 anos em uma loja de materiais de construção em Sertãozinho, comércio, onde eu fazia os trabalhos de banco, olha só né, é que na época.. Hoje não dá mais para sair com aquelas bolsas de dinheiro né (risos), mas eu fazia isso, com 14 anos eu entrei no SENAI de Ribeirão Preto pela usina de São Martinho de Pradópolis, do Grupo Ometto e eu fiquei dos 15 e 16 me formei em Tornearia e Ajustagem. Torneiro Mecânico. Eu já sai dali com emprego certo na Usina São Martinho, e lá fui trabalhar na inspeção de qualidade,todas as peças que entravam na Usina, ou que saiam passavam por nós...
Você gostava?
Pô, pra mim era importante. Trabalhei dois anos e pouco nessa usina foi quando eu fiz o teste no Sertãozinho, o meu último ano de juniores acabei passando no teste, foi isso, trabalhei na Usina São Martinho de Pradópolis.
Voltando para a atualidade o grupo está preparado para uma derrota?
Portella, vocês talvez não acreditem no que a gente fala, no que a gente passa, eu já tenho falado isso muitas vezes. Eu não trago isso para o grupo de jogadores, negócio de invencibilidade, porque eu já acho que é aumentar a responsabilidade que já existe, então a gente sempre trata do próximo jogo né, não... nenhum momento...
Mas você sente o grupo mais eufórico? Ou estão iguais?
Iguais, iguais... e eu acho que se eu começar a falar isso pode mudar e trazer uma carga maior.
Qual o maior risco para o time?
É isso, o maior problema hoje que eu vejo é jogar contra equipes que são de menor tradição, vamos dizer assim né, e quando estamos jogando com os maiores, ai é claro o nível de concentração de atenção, a entrega dos jogadores. A minha preocupação maior é quando a gente enfrenta os de menor tradição. São as pedras pequenas, onde, você acaba tropeçando por serem menores. Essa é a minha maior preocupação.
Como são os seus auxiliares?
São três, o Leandro Silva que também jogava comigo no Juventus em 2000 e a ideia começou junto ali, 17 anos depois tivemos a oportunidade de nos encontrar aqui no Corinthians. O Osmar Loss que veio da base que conhece muito bem o Corinthians também, e o Fabinho que está trabalhando com a gente 2 meses ex-Corinthians, Santos. Cada jogo um fica comigo no banco, cada um cuida de um jogo, com isso eles têm mais tempo de trazer mais informação sobre o adversário. O jogo contra o Atlético-MG ficou Leandro, o próximo é o Fabinho, então hoje quando eu cheguei o Fabinho trouxe todas as informações do Sport. E aí o próximo jogo é o Osmar Loss, que já está buscando informações do Vitória, que é o nosso próximo jogo, é assim que eu trabalho, cada jogo fica um, não tem nada muito certo, você faz isso, você faz aquilo, antes de todos os treinos discutimos o que vamos fazer, e o que cada um vai fazer. Sempre gosto de trocar quem comanda os trabalhos para que os jogadores não fiquem sempre batendo em um só, e acaba tendo um desgaste, então sempre revezamos os quatro, e isso está sendo bem legal.
Como são as preleções?
Na véspera o auxiliar do jogo fala sobre o adversário, no caso, o próximo será o Fabinho a falar sobre o Sport, coisa de 15 minutos, é antes da última refeição de cada jogo, então se vamos jogar as 16h, vinte para meio dia eu faço a reunião com os atletas. Não passa de 15 minutos, bem direto e objetivo; e depois volto a falar alguma coisa, se houver muita mudança, se tiver novidade a gente volta a falar, se não houver, não! Termino aí minha participação.
Como é o interesse dos jogadores?
Os jogadores, hoje eu vejo os atletas cada vez mais profissionais, cada vez mais querendo saber como é. Nós precisando ter cuidado de passar o que realmente é, porque daqui um pouquinho o atleta te cobra, “Pô! Você falou uma coisa que não era, e é assim”.
O pessoal está mais atento?
Muito mais atento, muito mais profissionais, muito mais interesse em saber o porquê faz, o porquê fez, o que vai acontecer. Se jogar assim, como adversário vai reagir, e nós profissionais temos que estar atentos a isso, não ficar com conversa furada. Ser direto, ser objetivo, que o atleta gosta e capta bem melhor.
Como é você? Não parece tenso.
Não sou tenso, sou muito tranquilo, e acredito demais nas coisas que eu faço e penso né, é algo que assim que me dá confiança e que foi assim muito importante. Nós nos apresentamos no dia 03 de janeiro, o grupo de jogadores no dia 11 de janeiro, mas no dia 03 de janeiro nós já definimos de acordo com o elenco a forma que a gente ia jogar pra não perder tempo, não podia perder tempo, então vamos jogar assim, temos esses jogadores, tá chegando esse, tá chegando aquele, olha a vida deles, faz se encaixar melhor assim e a partir do primeiro dia de trabalho com bola, já foi colocado em campo aquilo que a gente ia fazer.
Você acha que ajudaria mudar o calendário?
Na verdade nós temos um grande problema referente a isso, a janela europeia ela é no meio do ano, porém a asiática que esta levando outros jogadores, China e mundo árabe que está voltando aos poucos, é no começo do ano, então a gente nunca vai conseguir resolver tudo.
Qual é a melhor opção?
Sim, se tivesse que escolher, a europeia. E para qualificar o nosso futebol Portella, teria que ser 6 jogos por mês, uma quarta tem, outra quarta não tem,
para dar tempo.
Qual a mudança para o futebol?
Pelo espetáculo, para ter os jogadores em melhores condições, que é um espetáculo, de ir pra campo e fazer o melhor fisicamente, tecnicamente todos os quesitos é diminuir o número de jogos, não tenho dúvidas disso.
Seis no máximo por mês?
Seis no máximo, uma quarta sim, uma não, uma quarta sim, uma quarta não.
Como você pensa o futebol?
Futebol, eu o vejo sendo muito simples, e alguns profissionais estão querendo complicar, né, estão querendo inventar, essa é a verdade. Então eu vejo com uma simplicidade muito grande.
O que é inventar?
É.... uma coisa assim que me incomoda, que a gente sabe que a gente escuta e que a gente vê, é trazer pra campo algo que você não treinou né, então se aquilo que eu treino não está dando certo, que garantia que aquilo que eu não treino vai dar certo? E acaba perdendo o grupo, perdendo a confiança dos atletas, porque um olha para o outro e diz: “Pô, a gente não treinou isso porque estamos fazendo assim?” É a cobrança hoje dos jogadores que são inteligentes demais.
Qual a melhor lição de Tite?
Organização, as coisas muito bem definidas, claro, as coisas muito bem definidas para os atletas, este comprometimento com a bola que cada vez mais vai fazer parte do futebol, é como sair, como agredir o adversário, todos sabendo muito bem o que fazer, com e sem bola, isso dentro de campo foi o maior aprendizado com o Tite.
Molhar a grama é um macete? Porque todo mundo escorrega lá.
Aquele gramado lá, ele tem que ser molhado, é uma grama europeia por conta da Copa, tem que ser molhado, então tem que acostumar jogar nele, como os brasileiros não tem os costume de jogar nele...
Você usa trava alta?
É nós usamos, o Corinthians usa, porque acostumou, mas quem vai jogar não usa.
O jogador não gosta?
Muitos jogadores que vão para a Europa e têm dificuldades porque lá tem que jogar de trava, o jogo fica mais rápido, fica mais bonito né, é bola no chão, quando acostuma a gente pega equipes no nosso estádio que estão acostumadas a jogar assim tipo Santos, o jogo fica bonito, fica aquele jogo rápido, a bola anda.
Além da lógica, você utiliza algum atalho?
Dentro de uma partida?
Sim.
Atalho, a gente nunca costuma e o jogo vai te mostrando. Eu vou dar como exemplo porque acho que fica mais fácil, muitas vezes assim a gente trabalha, treina a semana inteira para que se construa tal bola para que chegue essa bola no pivô, um exemplo, daqui a pouquinho o jogo esta te mostrando que um passe do zagueiro pode entrar direto no pivô e se a gente aproximar desse pivô e estar mais próximo da área, isso é um atalho, é... de simplificar para que aconteça aquilo que você imagina no que talvez seria construído, eu vejo assim você ter a leitura do jogo logo e procurar explorar aquilo antes que a equipe contrária se arrume, porque muitas vezes o treinador do outro lado vê essa dificuldade e acaba arrumando e acaba te dificultando pra isso.
Se fosse resumir o Carille poderia dizer que você é um organizador?
Com certeza é. Todo mundo sabendo o que fazer dentro de uma organização, com certeza.
Muito obrigado
Fui bem?
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