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Não ‘mascarar’, vida longa no Timão e triunfo na Europa: metas de Carille

Em entrevista ao LANCE!, técnico do Corinthians fala dos cuidados com o sucesso após ano perfeito e revela desejo de ser primeiro treinador brasileiro com êxito em clube europeu

Fábio Carille na festa de premiação da CBF, onde foi escolhido melhor técnico e técnico revelação do Brasileiro 
imagem cameraLucas Figueiredo/CBF
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 07/12/2017
11:38
Atualizado em 08/12/2017
08:25

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Fábio Carille fechou o primeiro ano de sua carreira como técnico profissional consagrado pelos títulos do Campeonato Paulista e Brasileiro pelo Corinthians. Já cansou de dizer que nem sonhava com tamanho êxito logo de cara. Mas como fazer para o sucesso não subir à cabeça? Essa é uma das preocupações do comandante alvinegro e seu remédio é estipular desafios para não cair no risco de "mascarar", expressão corriqueira no futebol para se referir a um profissional deslumbrado.

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Carille contou que projeta ficar no Corinthians por muito tempo para quebrar a cultura brasileira de trocar técnicos como se troca de roupa. O trabalho de longo prazo, na visão dele, seria o melhor passaporte para outro passo bem mais ambicioso: Carille quer ser o primeiro técnico brasileiro a triunfar em um clube na Europa.

- O ser humano é movido a desafios. Então, sei que não é fácil o que vou falar, mas quando eu falo que quero ficar três, quatro ou cinco anos em um clube no Brasil, eu sei que é difícil, mas é um sonho. Para isso, eu tenho que trabalhar, não me acomodar e fazer cada vez mais. É uma coisa que me incentiva cada vez mais: buscar conhecimentos, buscar isso, buscar aquilo... Quem sabe eu não seja o primeiro da minha geração a fazer sucesso em um time da Europa? Porque o Felipão fez, sim, sucesso, mas lá na seleção de Portugal - declarou o treinador campeão brasileiro.

Historicamente, técnicos brasileiros não possuem êxito em grandes clubes europeus. Recentemente, dois dos principais dos últimos anos tiveram aventuras frustradas. Em 2005, Vanderlei Luxemburgo até começou bem no Real Madrid (ESP), mas foi demitido sem completar um ano de trabalho e não conquistar títulos. Felipão durou ainda menos no Chelsea (ING) em 2009. Caiu em menos de sete meses, sendo que um dos motivos apontados foi a falta de bom relacionamento com o grupo, algo negado pelo treinador. É essa barreira que Carille quer romper e já tem dado passos neste sentido.

Em setembro, já com o título brasileiro encaminhado, o treinador estendeu seu contrato com o Corinthians até dezembro de 2019, com possibilidade de renovar por mais um. Terminada a temporada, abriu mão de parte das férias para concluir um curso na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Atualmente, técnicos brasileiros precisam de licença concedida pela entidade para ingressar no futebol europeu.

- Eu sou movido a desafios e objetivos, e isso faz com que eu mantenha o trabalho com equilíbrio e determinado - afirma o treinador.

Carille também tem tido um cuidado maior com a postura e seus hábitos. Passeios no shopping com a família têm sido menos frequentes. Em Sertãozinho, sua terra natal, já não anda mais vestido despretensiosamente, afinal agora é o comandante do Corinthians e precisa passar uma boa imagem. Até o modo como trata a imprensa tem sido motivo de reflexão do treinador. Há quem diga que ele alterou a postura depois dos títulos. Carille admite, mas diz que é por estar menos tímido e não por "marra".

- É uma preocupação que eu tinha, enfrentar vocês da imprensa - diz.

No seu objetivo de virar um treinador o mais completo possível, tem se voltado para a gestão de pessoas. Conta com um trabalho especial do ex-treinador Renê Simões, que acaba de montar uma empresa para ajudar os treinadores a resolver problemas da carreira. Situações que vão muito além das escolhas dos 11 titulares e esquema tático.

- Renê hoje é mestre em coaching. E ninguém melhor que ele pela vivência que teve. Ele não me fala de tática, de quem tem que jogar, nada disso. De comportamento, me ajudou muito também nas entrevistas. Manda mensagens diárias, não falo com ele, só leio e guardo. Nos momentos difíceis ele falava para eu não mudar minha forma de ser para não causar desconforto entre os atletas. Ele me ajuda nisso, no modo de agir, na gestão de pessoas. Tem me ajudado bastante. Está ajudando também o Zé Ricardo (do Vasco ) e Jair Ventura (do Botafogo) - conta Carille.

Campeão paulista, brasileiro, 100% de aproveitamento contra o rival Palmeiras. Em um ano, Carille passou de auxiliar contestado para técnico de ponta e um dos mais aclamados do país. O sucesso está aí. Agora, o projeto é mantê-lo sem deixar de ser... Carille!

Confira abaixo um bate-papo com o treinador sobre os cuidados para não "mascarar":

Como estão suas saídas com a família? Você gostava muito de ir a shopping...
Continuo indo, bem menos, mas indo (shopping). Quando eu estou muito cansado, quero ficar mais quietinho, fico em casa. Porque eu sei que quando eu vou ao shopping não tem como (não ter assédio). Então eu vou com a cara boa, bem legal, sabendo desse assédio. O mais legal é que não está sendo só corintiano. Tirei foto com dois caras com a camisa do Palmeiras, e eles me parabenizaram pelo trabalho. Isso é legal. Não sou polêmico, nunca vou ser na minha vida. Eu sei que quando eu saio de casa, isso vai acontecer. Se eu não quero, fico em casa. Porque ir e ficar com uma cara mais feia, com descontentamento, não faço. Quando eu saio, vou sabendo que isso vai acontecer. E isso está muito legal

E com a família? Como estão as relações depois dos títulos? Suponho que tenha diminuído o tempo juntos pela correria.
Algumas pessoas da minha família se incomodam, mas tem outros mais mascarados que eu, que são meu pai e minha mãe. Putz! Que mala que eles estão (risos). É uma alegria bastante grande, é algo natural. Evitei falar com eles nos últimos tempos, minha mãe é uma pessoa que consegue me irritar mais que qualquer uma (risos). Está bem legal, bem tranquilo, todos aceitando numa boa.

Então você tem essa preocupação de o sucesso não subir à cabeça...
É um desafio. Só de ser auxiliar do Corinthians, se é um cara de deslumbrar, já deslumbra. Fiquei oito anos, fui campeão... E sempre fui o mesmo. Gosto de fazer as mesmas coisas, fico de chinelo. Como auxiliar eu ia para Sertãozinho e ficava à vontade. Hoje em dia sei que tenho que andar melhor vestido, porque é o técnico do Corinthians. São coisas que têm que ter cuidado. Mas se eu não mudei até agora, não mudo mais, não. Alguém pode pensar até nas questões das minhas coletivas que estou cada vez mais solto, é natural. Hoje eu falo mais, mas porque estou mais solto, acostumei. É uma preocupação que eu tinha, enfrentar vocês da imprensa

Você chegou a desabafar no fim do Brasileiro contra coisas que saíram na imprensa...
Algo que me incomoda é deboche. Achar que sou bom ou ruim faz parte. Mas é ruim quando vem com deboche, acho que não preciso. Aceito qualquer crítica, mas tem forma que chateia. Não fico quieto. Na maioria das vezes eu encontro e falo. O deboche me irrita bastante. Se me acham bom ou ruim, faz parte. Mas a forma que falam me incomoda bastante.

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