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O jogo da vida! Autores de denúncia de racismo, torcedores do Corinthians falam sobre experiência na Argentina

Giovane Marcos e Guilherme Vieira perderam o jogo de ida, contra o Boca, em SP, por denunciar atos racistas, mas foram contemplados para assistir a volta, em Buenos Aires

Torcedores do Corinthians que denunciaram o racismo, na Bombonera
imagem cameraGuilherme e Giovane acompanharam classificação do Timão na Bombonera (Foto: Acervo pessoal)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 08/07/2022
15:41

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Nada era mais emblemático para o Corinthians do que garantir a sua classificação às quartas de final da Libertadores, contra o Boca Juniors-ARG, com um gol de um jogador negro. Já para a dupla de torcedores, Giovane Marcos e Guilherme Vieira, nada era maior do que estar na Bombonera.

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+ Onde estão os jogadores do Timão que conquistaram a Libertadores há 10 anos

Os dois corintianos estiveram na Neo Química Arena para acompanhar o empate sem gols pelo jogo de ida, mas não conseguiram assistir a partida, pois pouco antes da bola rolar denunciaram atos racistas vindo de torcedores do Boca. Eles precisaram permanecer na sede do Juizado Especial Criminal (Jecrim) instalada no estádio corintiano para prestar depoimento e testemunhar contra os argentinos.

Além de Giovane e Guilherme, também fez parte do grupo de denunciantes o garoto Gabriel Ferreira, amigo de Guilherme, ambos residentes em Franco da Rocha, município paulista que fica aproximadamente a 56km da região onde está localizada a Neo Química Arena, em Itaquera. Eles parcelaram o ingresso e foram para a Arena com o dinheiro da passagem contado.

O LANCE! contou a história dos amigos Gabriel e Guilherme, e a matéria chegou ao conhecimento do empresário Milson Januário, corintiano fanático, que se sensibilizou com o ocorrido e decidiu arcar com a viagem dos garotos até Buenos Aires, para acompanhar o Timão no confronto de volta.

– Eu queria que esses rapazes tivessem o reconhecimento merecido, por terem perdido um jogo tão importante para denunciar algo maior, que é o racismo e o preconceito. É uma questão de respeito, dignidade e recompensa por fazer a coisa certa. Não é por ter ou não dinheiro, mas é pelo reconhecimento – disse Milson ao L!.

Milson, Milena, Giovane e Guilherme
Na ordem: Guilherme, Giovane, Milena e Milson no embarque de São Paulo a Buenos Aires (Foto: Acervo pessoal)

Por motivos pessoais, Gabriel não conseguiu viajar à Argentina. Foram então Giovane e Guilherme. O segundo, vivia a sua primeira experiência fora do Brasil e confessa ter caído em lágrimas no momento em que Gil converteu o pênalti decisivo e classificou o Timão à próxima fase da Libertadores.

– Você é louco, eu não estava acreditando, comecei a cantar e só sabia chorar – contou o garoto de 18 anos, ao encontrar com a reportagem no embarque, no Aeroporto de Guarulhos, na última quarta-feira (6).

Giovane, por sua vez, fazia a sua segunda viagem internacional. A primeira tinha sido justamente para Buenos Aires, para um jogo contra o mesmo Boca Juniors, na Bombonera, em 2013, pela primeira partida das oitavas de final da Libertadores.

No entanto, naquela ocasião o autônomo precisou assistir a partida infiltrado na torcida xeneize, já que à época os corintianos estavam proibidos de frequentar os estádios nos jogos fora de casa pela Libertadores, por conta da morte do garoto boliviano Kevin Espada, em Oruro, na Bolívia, na estreia do Corinthians naquela edição da Liberta, contra o San José. Na ocasião, um sinalizador atingiu o jovem, que veio a óbito.

+ Veja a tabela do Corinthians na Libertadores e simule as quartas de final

– Foi totalmente diferente da forma que eu fui da primeira vez, cantando com a torcida, com a classificação. Para mim, foi inesquecível estar lá e viver esse momento, que é épico para o futebol. São poucos que vão lá e conseguem fazer isso lá dentro, na atmosfera que é lá. E eu poder fazer parte dessa história e poder falar para os meus netos um dia, é um momento que você nem tem o que falar. Só tenho a agradecer por ter feito parte dessa história. Essa data vai ficar marcada. Todo corintiano vai saber dessa data. E para mim vai ficar mais marcada porque estava Lá. Um momento marcante na história do Corinthians e na minha vida – contou Giovane.

Milson e a sua esposa, Milena Utrilla, estiveram em Buenos Aires juntos com Giovane e Guilherme. Eles não estavam planejando essa ida, ainda que já tenham feito diversas loucuras pelo Timão. O empresário, por exemplo, estava na invasão corintiana em Tóquio, para acompanhar a conquista do Mundial de Clubes, em 2012, no Japão.

– Já fomos a muitos jogos do Corinthians, até mesmo fora de casa, mas hoje em dia tem até jogos na Arena que deixamos de ir, por conta de uma série de coisas. Já conhecia a Bombonera e sei que é um estádio desconfortável para a torcida visitante, e como a minha esposa está com alguns problemas no joelho eu tinha achado melhor não ir. Mas ao ver as reportagens dos meninos, não teve jeito, decidi proporcionar isso a eles e participar desse momento juntos - relatou Milson.

Milson e Milena, assim como Giovane e Gabriel, foram contemplados pelo Corinthians com ingressos para a partida. No entanto, o casal optou por assistir a partida em um setor mais confortável, uma espécie de camarote dedicado ao Boca Juniors, justamente por conta das limitações físicas de Utrilla.

No fim da partida, o casal ainda passou por momentos de apuros, pois não encontrou a van reservada para buscá-los no estádio. Para piorar, a bolsa de Milena, contendo dinheiro e cartões, estava no veículo.

Eles ficaram por mais de uma hora esperando em uma rua na favela de La Boca e foram resgatados por policiais, que os levaram para uma unidade de delegacia nas proximidade.

Após um tempo perdidos, Milena entrou em contato com a reportagem, que estava em Buenos Aires e resgatou o casal, o levando até o hotel onde estavam hospedados, no bairro da Recoleta.

– Nos sentimos muito mal, como ‘perros’ (cachorro, em espanhol), largados na rua. O motorista disse que não poderíamos entrar com a bolsa, então deixei no local. Quando voltamos, ninguém conseguiu nos atender. Não tínhamos dinheiro para nada. As únicas pessoas que nos ajudaram foi um pessoal de uma lanchonete por ali, que nos deu três pedaços de pizza e não nos cobrou. Me senti muito mal – contou Milena.

No dia seguinte, o hotel entrou em contato com o responsável pela van, que comunicou o desencontro com o casal e devolveu a bolsa de Milena Utrilla com os pertences.

Mesmo em meio aos apuros passados, Milson em nenhum momento se arrependeu da ação feita.

– Claro que a gente fica frustrado em ir até a Argentina nas circunstâncias que fomoss e passar pelo que passamos, mas no dia seguinte eu recebi o vídeo dos meninos comemorando a vitória com um ‘poró-pó´pó’ cheio de lágrimas, e aquilo me valeu tudo – disse o empresário, emocionado.

Tão único quanto a vitíoria na 'Batalha da Bombonera', a história proporcionada por Milson e Milena e vivenciada por Giovane e Guilherme fez o enredo desse Boca e Corinthians tivesse o desfecho perfeito, trazendo a mensagem que combater o mal impregnado na sociedade sempre compensa, independentemente de idas à Buenos Aires.

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