Seis anos após acidente em mina, ex-Cobresal espera vitória sobre Timão
Franklin Lobos foi um dos 33 mineiros resgatados no Deserto do Atacama após dois meses de soterramento, em 2010. Ele era jogador e defendeu o Cobresal, hoje na Libertadores
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Disputar os Jogos Olímpicos de 1984 com a camisa da seleção do Chile não foi suficiente para garantir uma vida tranquila após o fim da carreira. Menos ainda as passagens por Copiapó, Antofagasta, La Serena, Santiago Wanderers, Iquique, La Calera e principalmente o Cobresal, todos do Chile. Quando precisou pendurar as chuteiras em 1995, aos 38 anos, Franklin Erasmo Lobos Ramírez não conseguiu seguir no futebol, como dirigente ou treinador de clubes. Não havia espaço para ele. Ainda assim, era necessário trabalhar, e o "Morteiro Mágico" das "canchas" chilenas virou motorista de caminhão nas minas de exploração de cobre e ouro na região do Deserto do Atacama.
Ele tinha apenas quatro meses de trabalho na mina de San Jose, 30 quilômetros a noroeste da cidade de Copiapó, quando um desabamento no dia 5 de agosto de 2010 deixou 33 trabalhadores presos a mais de 700 metros de profundidade. Franklin Lobos, ex-jogador profissional de futebol, inclusive da seleção nacional, foi um dos homens que emagreceu mais de 10 kg diante de condições inóspitas de vida, dividindo um refúgio de 50 metros com tantos outros semelhantes. Ele também esperou dois meses debaixo da terra antes de ver novamente a luz do sol. E de novamente chutar uma bola.
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Já se passaram seis anos desde o episódio que comoveu o mundo. Franklin Lobos, que virou personagem do filme "Os 33", tocou a vida. Hoje aos 58 anos, vê de perto o crescimento das filhas, cuida da família e trabalha - longe das minas do norte do Chile. Um de seus grandes divertimentos é o futebol, do qual ficou dois meses distante em 2010. Nesta quarta-feira, às 22h, ele pretende parar na frente da TV para assistir o duelo entre Cobresal e Corinthians. De um lado, o clube chileno onde jogou, e que volta à Copa Libertadores após 30 anos de ausência. De outro, o campeão de 2012, com grandes nomes do elenco, mas que terá trabalho na primeira rodada do maior torneio continental.
- Será uma partida muito difícil contra o Corinthians, um clube que está em alta no Brasil. O Corinthians é muito mais forte economicamente que o Cobresal, mas no futebol isso nem sempre vem na frente. Não estamos bem no campeonato local, então será muito complicado avançar na Libertadores, mas gostaria que conseguissem fazer uma boa partida contra o Corinthians, diante dos olhos de muita gente. Contra uma equipe tão poderosa, vamos assistir e torcer. Espero que possa comemorar uma vitória do Cobresal, um clube pelo qual tenho tanto carinho - conta Franklin Lobos, por telefone, ao LANCE!.
Franklin Lobos, apelidado de Morteiro Mágico por conta da potência de seu chute e dos golaços marcados de fora da área, defendeu o primeiro adversário do Corinthians na Libertadores de 2016 em quatro ocasiões. Entre 1982 e 83, 84 e 85, 86 a 88 e 88 e 89, com curtas passagens por outros clubes entre esses períodos. Ele esteve em um dos dois títulos da Segundona chilena do Cobresal e também na conquista da Copa do Chile ao lado de Ivan Zamorano, que estava no início de sua carreira consagrada pelas passagens por Real Madrid (Espanha) e Inter de Milão (Itália).
Lobos também disputou a Libertadores de 1986, única participação da equipe chilena na história do torneio. Há 30 anos, o Cobresal empatou cinco jogos e venceu um, sem avançar para a segunda fase, mas com a marca assegurada de único time invicto na história da Libertadores.
- Fiz muitos gols importantes pelo Cobresal. O principal deles foi na Liga, contra o Cobreloa. Fiz alguns contra a Católica, um até em uma final em 1984, quando empatamos e só não fomos campeões pelo saldo de gols. Mas logo depois fomos à Libertadores e foi um ano muito especial, porque não perdemos, era um time muito combativo - relembra o Morteiro Mágico, antes de explicar suas características como atleta:
- Eu fazia muitos gols de longe e de bola parada, meu chute era forte e era minha principal arma em campo. Desde pequeno conseguia chutar muito forte, então fui aprimorando até ser profissional. Fiz mais de cem gols, e para um meia isso era muito alto - orgulha-se.
DOS GRAMADOS ÀS MINAS DO ATACAMA
Franklin Lobos encerrou a carreira em 1995, pelo modesto Copiapó, o "Leão do Deserto". Sem conseguir sequência no esporte profissional, começou a dirigir táxi, mas o retorno financeiro passou a não ser suficiente quando suas duas filhas entraram em idade universitária. Por 915 libras mensais, um quarto do que ganhava como jogador, ele mudou de vida e virou motorista de uma empresa mineradora. Seu trabalho consistia em levar e trazer do trabalho os mineiros, e foi assim que ele chegou a San Jose, onde ocorreu o acidente. Seis anos depois, ele orgulha-se do trabalho nas minas, mas não se considera um herói nacional, como reconhece o povo chileno.
- Aprendi muita coisa no trabalho nas minas. Foi uma experiência diferente. A vida de um mineiro requer muito sacrifício, especialmente o de ficar longe de todos e trabalhar muito. É uma vida muito bonita também, e foi uma etapa importante da minha vida. Se um dia tiver de voltar, voltaria de certo, porque mesmo com tantos sacrifícios é uma experiência bonita - diz, antes de completar:
- Não somos heróis nacionais, fomos vítimas. Esse filme que saiu é interessante para que os outros possam ver o que só a gente enfrentou, mas mesmo assim é difícil ser real, muitas coisas são aumentadas ou diferentes, mas faz parte. O filme tem uma hora e meia e passamos muito mais que isso lá dentro. Mas foi importante para que entendessem a realidade dos mineiros e as condições em que trabalham.
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