Sob as luzes do lampião: um Corinthians ‘bem retirado’ do Tatuapé ao Tietê e Itaquera
No dia em que o Timão completa 112 anos, o LANCE! traz a relação do clube com os bairros de São Paulo em que ele foi sediado
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Quando a reportagem do LANCE! chegou até as esquinas das ruas José Paulino e Cônego Martins, no bairro do Bom Retiro, um grupo de funcionários do Corinthians realizavam manutenção no obelisco de pedra instalado no local para lembrar a fundação do clube.
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Entre os reparos, estava a troca de uma luminária, que representa justamente a luz de um lampião que iluminou o radar corintiano naquele 1º de setembro de 1910. Foi ali que o Timão nasceu.
Um time fundado por operários, para ser do povo, foi abraçado por vários lugares, mas nunca deixou de ter os seus berços.
BOM RETIRO
Foi entre as esquinas das ruas José Paulino e Cônego Martins que iniciou a história corintiana, no dia 1º de setembro de 1910. E foi ali também que o clube alvinegro viveu os seus primeiros anos, ainda como integrante da várzea paulistana.
Mesmo com dificuldades financeiras, os primeiros associados corintianos arcavam com o aluguel do Campo do Lenheiro, que tinha esse nome, pois o dono da propriedade era um vendedor de lenha. Para receber os seus jogos lá, o Timão pagava 30 mil réis por mês.
- O Corinthians nasceu em 1910 como um time de futebol de várzea, um clube já, mas, principalmente, um time de futebol de várzea do bairro do Bom Retiro. Então, em uma ordem, o Corinthians é um clube fundado no Bom Retiro, por operários do Bom Retiro, que reunia imigrantes italianos, portugueses e espanhóis - contou o jornalista e pesquisador da história corintiana Celso Unzelte, em contato com o LANCE!.
A primeira partida com mando corintiano foi no local, sediado na Rua dos Imigrantes, atualmente batizada como José Paulino. Ela também foi a primeira vitória do Timão, pelo placar de 2 a 0, sobre o Estrela Polar. A partida aconteceu no dia 14 de setembro de 1910, duas semanas após a fundação do Corinthians.
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No dia seguinte ao primeiro triunfo, o presidente Miguel Battaglia entregou o cargo, pois se mudaria para o interior de São Paulo. Al
O Time do Povo recebeu 22 jogos no Campo do Lenheiro. Como à época, o clube era varzeano, alguns desses confrontos não possuem informações sobre resultados. Em relação àqueles que têm registros dos placares, o retrospecto corintiano na sua primeira casa é de 13 vitórias, um empate e somente uma derrota, para o Tiradentes, no dia 14 de abril de 1912.
Hoje, o local ainda lembra o Corinthians. O obelisco de pedra localizado nas esquinas da fundação corintiana leva o nome daquelas que deram vida ao Timão. No entanto, a homenagem é discreta, tamanho a importância do marco e do clube alvinegro que começou ali.
As reformas são espaçadas. Os últimos registros foram feitos em um intervalo de 10 anos, em 2010 e, mais recentemente, em 2020, quando rampas de acessibilidade foram instaladas no local. Ambas manutenções foram capitaneadas pela subprefeitura da Sé, responsável pela região onde o monumento está instalado.
Em uma rápida volta no quarteirão, uma senhora, em uma padaria, afirmou à reportagem que nem mesmo sabia que aquele marco representava a fundação do Corinthians e que o apelo às pessoas do bairro era pequeno, quase esquecido. E ainda que o bairro fosse amplamente corintiano, foi baixo o número de pessoas vista com a camisa do clube pelas redondezas na tarde de quarta-feira (31), véspera do 112º aniversário do Timão.
Pouco depois do contato com a mulher no estabelecimento comercial, um representante da Gaviões da Fiel, principal torcida uniformizada corintiana foi até o local a fim de fazer uma vistoria antes do início das celebrações pelos 112 anos do clube alvinegro.
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Moradores da redondeza afirmaram ao L! que é comum que um grupo de torcedores vá ao obelisco encerrar a madrugada que marca os aniversários. A via crucis, no entanto, geralmente inicia na sede da Gaviões da Fiel, que fica localizada no mesmo bairro, na rua Cristina Tomás, a menos de 2 km de distância do marco da fundação corintiana.
TIETÊ
Antes de se transferir para a Zona Leste de São Paulo, onde fincou a sua identidade, o Corinthians se transferiu mais ao centro da cidade, no bairro do Tietê.
Quando se tornou um clube de futebol profissional, em 1913, o Timão transitou entre o Parque Antarctica, que ainda não havia sido adquirido pelo então Palestra Itália, que anos mais tarde se tornaria a Sociedade Esportiva Palmeiras, e a Chácara da Floresta, propriedade vizinha onde viria a ser o novo estádio corintiano, em 1917.
Doado pela prefeitura de São Paulo, o terreno da Ponte Grande se tornou a casa do Timão durante quase 10 anos. Para isso acontecer, torcedores, diretoria e até jogadores ajudaram a levantar o local, o tornando habitável para a prática esportiva.
- Com o tempo, ele começa a ter pretensões maiores, uma delas é jogar o campeonato oficial, que ele conseguiu em 1913. E aí começa o sonho de grandeza, aí a mudança da sede para o centro da cidade, mudança do estado, já em 1917, para Ponte Grande, onde ficava o Clube de Regatas Tietê, na Ponte das Bandeiras, e lá o Corinthians fica até 1926 - relata Unzelte.
Dois amistosos contra o Palestra Itália marcam as primeiras partidas com mando corintiano na Ponte Grande. O primeiro jogo terminou empatado em 3 a 3, já o segundo teve o Timão derrotado por 4 a 2. Ambos confrontos amistosos.
O triunfo inicial do Corinthians na sua segunda casa ocorreu no dia 24 de abril de 1918. Dois a um sobre o Mackenzie, pelo Campeonato Paulista.
No total, foram 102 partidas no Tietê, com 80 vitórias, 11 empates e 11 derrotas. Além do primeiro título corintiano em casa própria: o Paulistão de 1923 - antes o clube havia sido campeão estadual em 1914, 1916 e 1922, mas as duas primeiras conquistas foram celebradas no Palestra Itália, e a terceira na Chácara da Floresta.
TATUAPÉ
Em 1926, São Jorge guerreiro entrou na vida corintiana. E isso com a aquisição do Parque São Jorge, no bairro do Tatuapé, onde até hoje se encontra a sede social do Corinthians.
A mudança de estádio foi um passo de ousadia do então presidente corintiano Ernesto Cassano, que adquiriu o terreno por 750 mil conto de réis.
E o clube de operários, que atraiu imigrantes espanhóis, italianos e portugueses no início da sua história, também passa abraçar os árabes naquele momento. Isso porque Assad Adballa e Nagib Sallem eram os proprietários do local, que já se chamava Parque São Jorge pela devoção que eles tinham pelo santo padroeiro do 'corinthianismo'.
Inclusive, o primeiro jogo do Corinthians na Fazendinha ocorreu antes da compra, em 1923, quando o Time do Povo foi visitante em um duelo contra o Sírio, pelo Campeonato Paulista daquele ano. O Timão venceu aquele jogo por 1 a 0, gol marcado pelo centroavante Gambarotta.
- Quando ele (Corinthians) compra o terreno do Parque São Jorge, dois anos depois inaugura o campo do Parque São Jorge, reformado. Ali, inclusive, São Jorge passa entrar na mitologia corintiana por causa do Parque São Jorge. E o Corinthians faz uma expansão para a Zona Leste da cidade, sediado na Zona Leste, no Tatuapé, embora o futebol do Corinthians não fosse disputado só na Zona Leste, porque o Parque São Jorge sempre foi um estádio pequeno demais para o tamanho do Corinthians, que passa a jogar no Pacaembu, eventualmente no Morumbi - destaca Celso Unzelte.
Ainda que com a fundação do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, em 1940, e a expansão do Morumbi, casa do São Paulo Futebol Clube, durante as décadas seguintes, o Corinthians mandou jogos no Parque São Jorge até o fim dos anos 90.
A última partida oficial no estádio foi uma derrota por 4 a 1 para o Mogi Mirim, pelo Campeonato Paulista de 1999. Em 2002, o Timão até chegou a receber o Brasiliense, mas em uma partida amistosa.
A sua sede social não acompanhou o crescimento da nação corintiana. Hoje, alguns jogos são recebidos na Fazendinha, mas apenas de equipes da base e o feminino do Corinthians.
ITAQUERA
Se já tinha uma relação forte com a ZL de São Paulo, esse contato se intensificou em 2014, quando o Timão definitivamente foi para o mais profundo leste paulistano, inaugurando a Arena Corinthians, que em 2020 passou ser chamada de Neo Química Arena, com a venda do naming rights para a Hypera Pharma.
O terreno onde fica situado o estádio corintiano já tinha relação com o Corinthians. Por muitos anos, o espaço de areia batida foi utilizado como local para treinamentos das categorias de base corintiana. A cor do barro onde os garotos jogavam foi intitulada como ‘terrão’, o que batiza até hoje as crias do clube alvinegro como ‘Garotos do Terrão’.
Em oito anos de história, a Neo Química Arena recebeu 281 jogos do Corinthians, com 166 vitórias corintianas, 77 empates e 38 derrotas alvinegras. No local, o Timão conquistou os títulos paulistas de 2017 e 2018, além de confirmar o Brasileirão de 2017, disputado em pontos corridos, com uma vitória por 3 a 1, de virada, sobre o Fluminense.
A história corintiana em sua casa atual segue sendo escrita. Contra o Internacional, neste domingo (4), pelo Campeonato Brasileiro, por exemplo, o clube alvinegro chegará a 1 milhão de espectadores no ano em jogos realizados no estádio.
Atualmente, a capacidade de Neo Química Arena é de pouco mais de 46 mil lugares. Há estudos
Enquanto isso, a parte financeira ainda é um problema em relação à arena corintiana, financiada pela Caixa Econômica Federal para a construção do estádio. Neste ano, um novo acordo para ampliação da carência para o pagamento foi feito, para que o Timão inicie a quitação das parcelas a partir de 2023. A dívida total do clube com o banco ultrapassa R$ 600 milhões. O empréstimo inicial foi de R$ 400 milhões.
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