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Yamada detalha ao L! trabalho realizado na base do Corinthians: ‘Não estamos de brincadeira’

Corinthians estreia hoje na Copinha. Gerente-geral da base revela como o clube vem trabalhando para oferecer mais atletas ao profissional e ter projeto rentável de longo prazo

Fernando Yamada Corinthians
imagem cameraFernando Yamada, ex-goleiro do Corinthians, é um dos responsáveis pela formação de novos atletas do clube do Parque São Jorge (Reprodução)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 02/01/2020
15:04
Atualizado em 03/01/2020
16:07

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Maior vencedor da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o Corinthians inicia nesta sexta, às 21h30, contra o Retrô-PE, sua jornada em busca do 11º título da principal competição de base do futebol brasileiro. Gerente-geral e um dos responsáveis pelo departamento de formação de atletas do clube do Parque São Jorge, o ex-goleiro Fernando Yamada explica ao LANCE! o que vem sendo feito para que o Timão seja competitivo nas categorias inferiores e ofereça novos talentos para o time profissional.

Em alta por conta da realização da Copinha ao longo deste mês de janeiro, a categoria de base do Corinthians levantou apenas três taças em 2019. Os números, embora escassos para um clube desta dimensão, não são a prioridade da atual gestão do departamento. O foco é revelar jogadores e ver o elenco principal recheado de atletas formados no próprio clube. 

Yamada atendeu a reportagem no CT Joaquim Grava no dia 19 de dezembro, data em que time sub-20 se reapresentou aos treinos de olho na disputa da Copinha. Ao longo da conversa, revelou a reestruturação feita no departamento de base, explicou o plano de ação do Corinthians para a captação de novos atletas e ilustrou como o clube trabalha para colher resultados esportivos com os 'Filhos do Terrão' e ainda ser lucrativo no longo prazo. O conteúdo da entrevista foi dividido. 

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LANCE!: O Corinthians venceu três títulos na base em 2019 (sub-10, sub-12 e sub-14). Como você vê essa temporada do clube na categoria?
Yamada: O nosso trabalho é pautado em três pilares. O principal deles é ofertar o maior número possível de atletas para a equipe principal. Isso é muito claro para nós. Para que serve a categoria de base? Para produzir jogadores ao time principal. Óbvio que nesse caminho, nessa estrada, será normal você ofertar jogadores para as Seleções Brasileiras de base e, com isso, os títulos baterão na sua porta. O que vinha acontecendo e, infelizmente, acontece no Brasil é o inverso: busca-se o título na base e não a formação do atleta. Esse é um grande erro. O que significa um título na base? O que o clube ganha com isso? Não tem premiação. É óbvio que o Corinthians é um clube grande, um dos maiores do país, e ganhar faz parte do processo de formação do atleta. Os jogadores do Corinthians precisam gostar de ganhar, mas o foco tem que ser outro. 

O Corinthians hoje tem um processo que é tratar o jogador como um indivíduo único. Cada atleta tem suas dificuldades e aquilo que precisa ser melhorado. Temos nossos pilares: físico, comportamental e inteligência de jogo. Estamos muito atentos a isso. Para jogar no profissional do Corinthians não é fácil. A torcida acostumou-se a ganhar títulos e a expectativa é altíssima. Então, o jogador da base para jogar no profissional não pode ser mais ou menos. Tem que ser um jogador regular, um jogador que atende os quesitos acabei de citar e a responsabilidade é enorme. Trabalhar na base é muito complexo. O jogador da base não tem maturidade para se desafiar. O ambiente externo acaba massageando muito o ego do jogador do Corinthians e isso atrapalha muito o desenvolvimento. 

As metas traçadas pelo departamento foram alcançadas?  
Esse ano (2019) estamos muito satisfeitos. Nesse ano, o Corinthians ofertou mais de cinco jogadores para o profissional. Partindo do ano em que essa gestão assumiu o clube, lá em meados de março/abril de 2017, o Corinthians era o atual campeão da Copa São Paulo e quantos jogadores tinha ofertado para o profissional? O Pedrinho, o Mantuan e o Léo Jabá. Em 2018, tivemos o Carlos Augusto, o Filipe (goleiro) e o Carlinhos (centroavante), que acabou não ficando. Esse ano, o Corinthians saiu da Copinha na semifinal, de forma invicta, e ofertamos cinco jogadores para o profissional. Se você for pensar agora, nesse fim de temporada, temos o Léo Pereira que foi relacionado, mas não chegou a jogar. Esse é o nosso foco. O Corinthians sempre ganhou títulos e sempre vai ganhar, mas não há nada mais importante na base do que revelar jogadores e nós fizemos isso. 

Quais as metas do Corinthians para 2020? 
Atingimos duas metas em 2019: oferecer mais jogadores para o time profissional do Corinthians e termos mais atletas nas Seleções Brasileiras de base. Em 2017, tivemos dois ou três jogadores na Granja Comary e nesse ano foram 12. Na verdade, para ser exato, foram 10 jogadores para a Seleção Brasileira, um para a seleção colombiana e outro na seleção argentina. Isso é significativo. Aqui é o chão da fábrica. A nossa filosofia segue a mesma neste ano. Queremos ter os melhores profissionais, os melhores professores. Ano passado perdemos o Eduardo Barroca (deixou o sub-20 do Corinthians para treinar o time profissional do Botafogo), quatro preparadores físicos - um deles para o Fortaleza a pedido do Rogério Ceni. Não abrimos mão de termos os melhores aqui, a base é uma universidade. Essa é nossa meta. Hoje, o Corinthians oferece plano de carreira para todos os profissionais. No processo seletivo, você tem que detectar que o profissional pode evoluir no clube. Levamos em conta o caráter, o perfil acadêmico, a disposição para aprender, o perfil pessoa, a carreira e, assim, você o mantém motivado apresentando um bom plano de carreira. Isso vale para todos. Pouca gente reconhece, mas a categoria de base do Corinthians é muito séria. 

Qual é o perfil do jogador formado no Corinthians?

O Corinthians leva três aspectos aspectos em consideração. O primeiro é resgatar o futebol brasileiro. O que é isso? Ter jogadores talentosos. O segundo é respeitar a cultura do clube. O que é isso? Formar jogadores corajosos, agressivos e talentosos. E o terceiro é aquilo futebol atual pede: atletas dinâmicos, rápidos, fisicamente privilegiados, jogadores com mudança rápida de direção e ágeis. Hoje, o jogador de alto nível que disputa uma Champions League chega a tomar 3 mil decisões em 90 minutos. O futebol está muito intenso, muito forte fisicamente falando, mas o jogo ficou muito cerebral. O jogador fica muito tempo sem a bola e precisa ser assertivo na tomada de decisão. Tem que ser muito rápido. O projeto pessoal que estamos criando e vamos dar o pontapé em 2020 tem a ver com isso. É esse olhar: jogadores rápidos, mudança de direção, perna rápida e tecnicamente ajustado. O que é ser tecnicamente ajustado? É ser um jogador equilibrado. O atleta que não for ambidestro dificilmente jogará em alto nível daqui alguns anos. O futebol está tão rápido, as linhas estão tão organizadas, o espaço está cada vez mais curto, que não dá tempo de dominar, levantar a cabeça, tomar uma decisão, ajeitar o corpo e passar a bola. Se o cara só tem um lado bom, ele será presa fácil. Os jogadores que não se encaixarem terão dificuldade no futuro. O Corinthians pesquisa ferramentas no mercado que vão ajudá-lo a formar esse tipo de jogador. Esse é um caminho sem volta.

"O Corinthians é um dos maiores clubes do mundo e não estamos de brincadeira. Nosso trabalho é sério e não abrimos mão dos nossos princípios"

Quais são os desafios enfrentados pelo departamento de base para que haja esse equilíbrio entre formar um jogador para o profissional, mas sem perder a competitividade nas competições das categorias inferiores?
Esse é o ponto-chave. Um dos principais aspectos que nós observamos em um atleta é o pilar comportamental. O que é isso? É o jogador ser agressivo, competitivo, ter espírito de aprendizagem, ser aberto a novos estímulos, ter humildade. Isso o Corinthians não negocia. Para jogar aqui o jogador tem que ser muito forte mentalmente e corajoso. Você tem que olhar mais para o jogador e menos para o jogo. Estamos entregando mais jogadores para o profissional do que em anos anteriores e é isso que tem que ser medido. O ciclo de um trabalho de base leva seis anos. Quando que o Flamengo começou a colher frutos de resultado esportivo e também a revelar jogadores? Faz dois anos. O Noval (Carlos Noval, diretor da base do Rubro-negro), que foi quem iniciou o projeto, está no Flamengo há oito anos. Então, tem sete anos que o Flamengo reformulou o projeto de base e agora está colhendo frutos: resultados esportivos e jogador no time profissional. É isso que o Corinthians busca.

O que a base do Corinthians considera um caso de sucesso ao longo de todo esse processo de formação?
É o jogador que chegou no Corinthians com 12 ou 13 anos, fez toda a categoria de base no clube, teve passagens pelas Seleções Brasileiras inferiores, chegou ao sub-20, subiu para o profissional e nos deu resultado esportivo e financeiro. A categoria de base é muito complexa, as pessoas não têm noção disso. Vou te dar um exemplo. Tem jogador que com 15/16 anos passa pelo estirão e acaba ficando um pouco mais lento durante esse processo. Muita gente fala que o atleta não serve mais durante esse período, mas é algo normal. Daqui a pouco, acabou a maturação dele e você vê que o cara é um craque. O Kaká, no São Paulo, foi isso. Ele não foi titular na base, mas chegou no profissional e olha o que aconteceu. Por conta disso, o Corinthians criou o 'Projeto Piloto'. Os atletas que têm essa maturação tardia, que não sustentam o jogo fisicamente, são colocados em uma categoria específica. Não vamos abrir mão deles. Não queremos ser imediatistas, não queremos o resultado para ontem. Na base se trabalha com tempo. Quase que perdem o Kaká e olha o jogador que ele virou. Esse é só um exemplo. Veja bem o tamanho da responsabilidade da base. Nós trabalhamos com o sonho de um garoto, com o maior patrimônio dos pais. Quem é pai sabe o que eu estou dizendo. Independente da situação financeira ou social de uma família, pergunte a um pai ou a uma mãe qual é o maior patrimônio deles. A resposta é fácil, os filhos. O Corinthians é um dos maiores clubes do mundo e não estamos de brincadeira. Nosso trabalho é sério e não abrimos mão dos nossos princípios.

No fim da temporada, o Dyego Coelho assumiu o time profissional com a missão de levar o Corinthians para a Copa Libertadores. Como ele já era o técnico do sub-20 acabou levando alguns jogadores da base para treinarem no CT Joaquim Grava. O quanto te ajuda ter no profissional um treinador que esteja integrado com o que vem sendo feito na categoria de base?
Esse é um ponto importantíssimo no nosso trabalho. O Coelho sabia do nível e do potencial dos jogadores da base. Ele pôde fazer escolhas sem qualquer tipo de interferência. Ele sabe o quão forte e sério é o trabalho da base do Corinthians, por isso não teve dúvidas para subir alguns garotos.

Você já teve algum contato com o Tiago para demonstrar o funcionamento do seu departamento?
Ainda não tive essa oportunidade. Falo muito com o Vilson (gerente de futebol), todos os dias. Acho que o nosso papel na base é esse: ser um facilitador, aproximar o profissional do que vem sendo feito aqui e atualizar a comissão técnica. Temos feito isso.

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