LANCE! na Jogada: ‘Títulos do Cruzeiro mascararam a má administração’, diz Amir Sommogi
O especialista em gestão esportiva e marketing comentou a dura situação da Raposa, que apresentou recentemente um déficit de R$ 394 milhões no balanço de 2019
O calvário vivido pelo Cruzeiro não é uma obra recente. É uma construção de alguns anos de más administrações, que culminaram no rebaixamento da equipe mineira e uma crise financeira sem precedentes, além de investigações de dirigentes, acusados de vários crimes.
O “buraco” celeste ficou mais evidente quando a Raposa divulgou seu balanço de 2019, que teve um déficit de R$ 394 milhões, contra R$ 73 milhões, para o ano de 2018, um aumento de mais de 500%. A dívida acumulada pela Raposa, detalhada no balanço, está em R$ 803.486.208.
Quando se retrocede no tempo, uma análise mais efetiva dava indícios de que o resultado da gastança poderia ser o cenário trágico visto na equipe celeste.
- O Cruzeiro gastou em 2018 com o futebol R$ 324 milhões. Para você ter uma ideia, o Flamengo, que já faturava mais, gastou R$ 351 milhões e o Grêmio, R$ 260 milhões. Foram gastos praticamente R$ 70 milhões a mais do que o Grêmio em 2018. Por isso a situação é gravíssima. Ele gastou o que tinha e o que não tinha. Os títulos mascararam a má administração do clube. É como se o Athletico-PR faturasse a Copa do Brasil na “bacia das almas”, conseguisse aquela premiação, mas estava quebrado - disse ao LANCE! na Jogada, Amir Sommogi, especialista em gestão esportiva e marketing.
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Sommogi também explicou que as vitórias em campo, como os títulos seguidos da Copa do Brasil(2017-2018), maquearam uma realidade que já era preocupante na Raposa, o que pode ter até refletido no desempenho em campo dos jogadores, que caíram de rendimento de forma abrupta no Brasileiro de 2019, gerando a queda para a segunda divisão.
- Quando o clube está bem administrado, ele fica em uma situação confortável(ao faturar uma premiação alta), pois ele não terá de gastar aquele prêmio. Esse é o ponto que difere o Cruzeiro dos bons exemplos. O Cruzeiro sempre trabalha alavancado. Sempre gasta mais do que poderia. Quando ele vai bem, mascara a má administração, quando vai mal, a situação fica tão grave, que não tem dinheiro nem para pagar salários. Aí, o jogador diz que “não entra”, “não perfomo”, ou “não faço gol” como naquele pênalti que o cruzeirense nunca vai esquecer (diante do CSA, pelo Brasileiro 2019, quando Thiago Neves perdeu a cobrança). Não discuto se o jogador fez certo ou errado, mas é reflexo da má administração - disse Amir, que ainda fez uma ressalva às futuras dificuldades do clube azul em conseguir patrocinadores, pois a imagem no mercado está bem comprometida pela presença constante do Cruzeiro no noticiário policial.
Outra preocupação é se a Raposa saberá jogar a Série B, caso ela seja 100% confirmada ainda em 2020.
- É polícia, receita federal investigando o clube. Que patrocinador quer sua marca vinculada com isso. Então, o Cruzeiro vai ter um grande problema. No seu pior ano da história, vai jogar a segunda divisão. E nem sabemos qual segunda divisão vai encontrar pela frente. Não quero tecer a teoria do apocalipse, mas e se não tiver futebol este ano? O Cruzeiro pode passar dois anos na segunda divisão, pois não sabemos como será essa volta do futebol por aqui - disse.
A análise completa de Sommogi está no vídeo abaixo e o trecho sobre o Cruzeiro começa no minuto 18.
A partir do dia 1º de junho, o Cruzeiro terá uma nova gestão, sob o comando de Sérgio Santos Rodrigues, que foi eleito presidente do clube mineiro até o fim do ano, para completar o mandato de Wagner Pires Sá, que renunciou em dezembro do ano passado.
Sérgio já tem suas primeiras prioridades no cargo, que exige urgência na solução: pagar salários de funcionários e atletas, que estão dois meses atrasados, e quitar a dívida de R$ 11 milhões na FIFA, que vence na próxima sexta-feira, 29 de maio, pela compra do atacante Willian, junto ao Zorya, da Ucrânia, em 2014.
Pagar a dívida da FIFA é a situação mais tensa dos primeiros dias de mandato do novo presidente, para evitar nova punição ao Cruzeiro, como a perda de seis pontos na Série B deste ano por não ter pago o Al-Wahda, dos Emirados Árabes, 850 mil euros, pelo empréstimo do volante Denílson, que fez apenas cinco jogos, em 2016. O novo presidente já está em processo de transição com o conselho gestor para iniciar a dura missão de reerguer o time celeste.