EDITORIAL: Conmebol, o tema racismo também é com você
Atos de injúria racial se avolumam sem nenhum constrangimento nas arquibancadas, mas entidade máxima do futebol sul-americano se esquiva do debate e punições severas
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A Copa Libertadores da América de 2022 carregará para sempre a marca indelével da violência do racismo nas arquibancadas. Não há mais chance para conserto. É mancha que não se apaga. Logo nas primeiras rodadas da fase de grupos, os casos de injúria racial, sobretudo direcionadas a brasileiros, se avolumaram nas arquibancadas de vários países que recebem jogos do maior torneio de clubes sul-americano.
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Os casos - em curtíssimo intervalo de tempo - não são poucos: Fortaleza x River; Estudiantes x Bragantino; Corinthians x Boca; Emelec x Palmeiras e Universidad Católica x Flamengo. Foram quatro episódios apenas nesta semana, o que dá dimensão epidemiológica à incivilidade. Em geral, gestos abomináveis de torcedores imitando macacos.
Atualmente, é difícil imaginar que um torcedor que pratica um ato desta natureza não será flagrado por uma das dezenas de câmeras que hoje acompanham um jogo internacional. O infrator mesmo sabe disso. Mas nem mesmo a certeza da identificação tem constrangido ou impedido de ir em frente com seu preconceito. Parece ainda imperar a ideia de que o estádio de futebol é um terreno alheio às regras sociais e leis.
Porém, a certeza da identificação não se transforma em certeza de punição. É neste vácuo que o racista confia seu espaço de exibição de preconceito. Em geral, as penas têm sido brandas e merecem uma maior discussão das sociedades que estão inseridas.
A CONMEBOL considera ABSOLUTAMENTE INACEITÁVEL qualquer manifestação de racismo e outras formas de violência em seus torneios.
— CONMEBOL 🇧🇷 (@CONMEBOLBR) April 29, 2022
Mais informações: https://t.co/4AqeJXGRaK
Entretanto, o LANCE!, com seu dever na seara esportiva, não pode se esquivar de trazer o importante debate sobre a urgência de punições esportivas no combate a essa prática. A Conmebol precisa deixar o estado de letargia e tratar com seriedade este assunto.
Foram quatro episódios de racismo apenas nesta semana, o que dá dimensão epidemiológica à incivilidade
Em comunicado oficial publicado na tarde desta sexta-feira (29), a entidade máxima do futebol sul-americano classifica de "absolutamente inaceitável qualquer manifestação de racismo e outras formas de violência em seus torneios". No documento, compromete-se a mudar seus códigos "para aumentar e endurecer as penas em casos de racismo", além de anunciar que irá promover ações para eliminar "definitivamente este problema do futebol sul-americano".
Este LANCE!, dedicado a defender incansavelmente um ambiente de respeito coletivo, estará vigilante quanto ao cumprimento dessas promessas de medidas enérgicas. Urge sair da política de discurso e entrar no campo da ação. As notas de repúdio já não são respostas efetivas para este assunto.
Enquanto punições claras aos torcedores e também aos clubes não forem debatidas, cenas de atos racistas vão se tornar ainda mais corriqueiras. Conmebol e clubes devem se sentir - e são! - corresponsáveis pelo que acontecem em suas arquibancadas. Não há mais espaço para omissão.
Em algumas situações, clubes têm aplicado punições aos torcedores identificados. Não está sendo suficiente. Em seu comunicado, a Conmebol deixa escapar que as regras postas não estão dando conta de resolver o problema. Pois que arregace as mangas e torne rígidas e exequíveis normas de combate a essas práticas criminosas.
A atual direção da Conmebol encampou, na pessoa do presidente Alejandro Dominguez, o discurso de modernização da entidade e superação do descrédito provocado pelos escândalos de corrupção que derrubaram a cúpula da gestão anterior. A intransigência com o racismo é item fundamental.
E cabe também à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pressionar por respostas contundentes da entidade sul-americana. No jogo do deixa que eu deixo, a bola cai no chão e todos são culpados igualmente.
O LANCE! estará vigilante quanto ao cumprimento das promessas de medidas enérgicas da Conmebol
O Vasco da Gama entrou para a História, com H maiúsculo, com a chamada "resposta histórica", em 1924. Uma medida que ficou marcada como símbolo da luta contra discriminação racial e objeto de orgulho de seus torcedores. Na época, o clube deixou a liga regional que disputava por não concordar com termos que incluíam a exclusão de negros nos elencos participantes.
E, você, Conmebol, como quer ser lembrada no futuro? O destino está em suas próprias mãos.
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