Fla e Inter guardam lembranças de outro encontro na Libertadores
Equipes já mediram forças pela competição continental em 1993. Atletas que estiveram em campo recordam ao LANCE! como foram os duelos pela fase de grupos
A rivalidade entre Flamengo e Internacional ganhará a partir desta quarta-feira um capítulo especialíssimo: no Maracanã, as duas equipes começarão a medir forças pelas quartas de final da Copa Libertadores. No entanto, esta não será a primeira vez que as rotas de rubro-negros e colorados se cruzam no sonho do título continental. Em 1993, os dois times se enfrentaram na fase de grupos.
O Flamengo depositava suas fichas na "espinha dorsal" do time campeão brasileiro de 1992, mas trazia algumas novidades para o início de ano:
- A gente já tinha um entrosamento de três anos, contava com o Júnior para dar um bom passe no meio, o "motorzinho" que era o Uidemar, tínhamos Nélio, Piá, Paulo Nunes... E naquele ano, ainda chegaram o Renato Gaúcho e o Nilson para nos fortalecer - lembrou Marquinhos, ao LANCE!.
Do lado do Internacional, que conquistara a Copa do Brasil poucos meses antes, Gato Fernández também traz recordações de jogadores fortes:
- Era um grupo muito forte, tínhamos nomes como Célio Silva, Pinga, que foram ótimos defensores. Maurício, um ponta muito habilidoso, o Gerson. Tinha chegado o Jairo Lenzi...
A PRIMEIRA VEZ NO BEIRA-RIO
Na primeira rodada do Grupo 4 (que ainda contava com os colombianos America de Cali e Atlético Nacional),os dois adversários brasileiros não saíram do 0 a 0 no Beira-Rio. A partida, disputada em 10 de fevereiro de 1993, ficou marcada por jogadas ríspidas e poucas oportunidades:
- Foi um jogo muito difícil, como é de se esperar qualquer partida pela Copa Libertadores. Mesmo vindo de um título, o Inter não se preparou bem para a competição continental. Por isto, fomos deixando escapar pontos - lamentou o então goleiro da equipe, Gato Fernández.
À época meia do Flamengo, Marquinhos, recordou a sensação que pairou na equipe:
- Foi bem acirrado. O Inter jogando em casa, a gente tendo o propósito de contra-atacar. Mas, aos poucos, a gente soube neutralizar as chances deles, tivemos também oportunidades. Eu, por um triz, não marquei em uma cabeçada.
NO MARACA, FLAMENGO SE FIRMOU PARA PASSAR DE FASE
O novo encontro na edição de 1993 teve festa em vermelho e preto no Maracanã. Logo aos três minutos do duelo, Marquinhos recebeu passe de Júnior e estufou a rede:
- Foi fundamental marcarmos aquele gol cedo. O propósito deles era jogar bem fechados. Mas, depois disto, eles tiveram que se lançar à frente e nós pudemos criar novas chances para definirmos a vitória.
Neste momento, entrou em cena outro jogador na equipe comandada por Jair Pereira: Uidemar, que voltava de lesão, distribuiu bem as bolas e freou o ímpeto colorado.
- Acho que sempre dei sorte de jogar muito bem contra o Internacional. Além disto, naquela época, a torcida já sabia "empurrar" demais a gente. Tínhamos um time bom, bem mesclado, que se doava muito mesmo não tendo as estruturas que os jogadores têm à sua disposição atualmente.
'Naquela época, a torcida já sabia 'empurrar' bem a gente', diz Uidemar
Ainda na etapa inicial, o Rubro-Negro ampliou, quando Paulo Nunes completou passe de Nilson. Após o intervalo, o Colorado esboçou uma reação graças a uma cartada ousada. O técnico Antônio Lopes sacou o volante Jandir para lançar em campo o atacante Jairo Lenzi.
- O Lopes falou para eu avançar um pouco mais. Jogar mais aberto, aproveitando os espaços deixados pelo Charles Guerreiro e tentar mudar a situação. Lembro que cheguei a arriscar uma bola e o Gilmar deu uma "abafada". O Maurício também quase marcou - detalha o atacante, que completa ao falar sobre aquela disputa da Copa Libertadores:
- A gente caiu em um grupo muito complicado, e jogar contra o Flamengo, no Maracanã, era muito complicado. O time deles era ótimo, tinha Júnior, Paulo Nunes, Gaúcho...
'Jogar contra o Flamengo no Maracanã era complicado', lembra Jairo Lenzi
Apesar da reação do Inter, a torcida do Flamengo foi quem logo comemorou o gol. Após um contra-ataque, Marcelinho surgiu livre e tocou na saída de Fernández:
- Por mais que fosse difícil encarar o Inter, nós soubemos controlar bem o jogo naquela noite - crê Marquinhos.
No finzinho, Jairo Lenzi diminuiu o marcado para a equipe gaúcha, selando o placar de 3 a 1:
- Gilmar saiu uma bola errada. A bola chegou até mim, tentei de três dedos e fiz o gol. A gente tinha crescido no jogo e, apesar da derrota, foi gratificante ter marcado em uma partida no Maracanã.
As duas equipes tiveram rumos opostos naquele Grupo 4 da competição. O Flamengo se classificou na liderança, com sete pontos (três vitórias, um empate e duas derrotas). A equipe caiu nas quartas de final, para o futuro campeão São Paulo.
- Deste time, fica a lembrança de jogadores que sempre tiveram atitude. Acima de tudo, a cobrança vinha de nós mesmos - crê Uidemar.
já o Internacional amargou a eliminação na lanterna, sem vencer nenhum dos seis jogos. Gato Fernández atribuiu frustração a turbulências:
- Não chegamos em plenas condições. A prova foi o jogo com o Flamengo, no qual eu fiz uma sucessão de defesas. Acho que fomos surpreendidos e "acordamos" muito tarde para a competição. Quando vimos, tivemos de vencer um time competitivo no Maracanã.
Fernández enumerou alguns erros da equipe na trajetória na Copa Libertadores:
- Sofremos com a falta de planejamento, inclusive de problemas de renovações de contrato durante a competição. Além disto, muitos de nós não vínhamos em um bom momento. Gérson, que era um grande jogador e amigo, lastimavelmente, já não estava mais 100% (o atacante descobrira no ano anterior que era portador do vírus HIV, mas seguiu como titular na conquista da Copa do Brasil e atuou na Copa Libertadores de 1993. Gérson morreu em 17 de maio de 1994, aos 28 anos).
EX-ATLETAS PALPITAM SOBRE 'NOVA EDIÇÃO' DO ENCONTRO
Os jogadores que já saborearam a disputa de um Flamengo e Internacional pela Copa Libertadores não escondem: a tensão vai pairar nas quartas de final. Porém, sobram qualidades ao falar das equipes atuais:
- Ah, eu acho que vão ser dois jogos bem difíceis, em especial lá no Beira-Rio. Mas acredito que o Flamengo tenha mais chances pelo investimento, pela forma como o treinador cobra bastante dos seus jogadores e pela qualidade que o time mostra em campo - declara Marquinhos.
O ex-colorado Jairo Lenzi vê méritos nas duas equipes:
- É inegável que o Flamengo tem jogadores de ponta e conta com um técnico do nível do Jorge Jesus. Mas não dá para deixar de lado o trabalho recente do internacional, que se mostra bem compacto, e tem o Guerrero em um bom momento. É muito difícil dizer um resultado.
Aos olhos de Uidemar, os flamenguistas estarão sob forte expectativa a partir desta quarta-feira:
- O Flamengo é muito favorito e vem jogando bem com Jorge Jesus. Agora, os jogadores têm de saber que a torcida está muito ansiosa, pelo investimento alto, e farão uma cobrança muito grande. O time precisa de sangue frio, pois será, como a gente diz, um "jogo de 180 minutos".
Para o ex-goleiro Gato Fernández, a tensão vai pairar entre os clubes:
- Eu creio que as duas equipes chegam em boas condições nestas quartas de final. O Flamengo tem um elenco estelar, mas o Inter vem em uma crescente. A vaga será decidida em detalhes.
Certamente, quem já ganha com este reencontro é o torcedor.