Ao L!, Gerson lembra decepção como torcedor e sonha com a América: ‘Pode ser minha maior conquista’

Seleção Brasileira, Europa, Jogos Olímpicos, Jorge Jesus... Camisa 8 do Flamengo fala sobre início avassalador pelo clube da Gávea e o sonho de ser campeão da Copa Libertadores

Escrito por

Desde o título da Libertadores em 1981, com Zico no comando do time da Gávea, são gerações de rubro-negros aguardando uma oportunidade de reconquistar a América. Agora, após 38 anos, o Flamengo nunca esteve tão próximo do bicampeonato e terá o River Plate, da Argentina, como adversário na final da Copa no próximo sábado, dia 23, às 17h (de Brasília). No gramado do Estádio Monumental, em Lima, Gerson será um dos representantes da Nação a tentar transformar a frustração de campanhas passadas em glória.

Em entrevista ao LANCE!, o camisa 8 revelou que sua maior decepção como torcedor envolveu uma eliminação do Flamengo na Libertadores. Agora, o meia nascido e criado em Nova Iguaçu tem a chance de encerrar este capítulo e escrever um novo episódio, com ótimas memórias para os rubro-negros.

- Minha maior decepção como torcedor do Fla foi a eliminação para o América-MEX em 2008. E como é a vida, né?! Volto ao Brasil, para o Flamengo, e tenho a possibilidade de fazer a competição que foi a minha maior decepção como torcedor ser a minha maior conquista. Esse é o futebol - comentou o "Coringa".

'Temos um adversário complicadíssimo pela frente. O River é acostumado a chegar em finais de Libertadores. Precisamos trabalhar muito e bem focado para conseguir superá-los', afirmou Gerson

Houve quem desconfiasse do futebol de Gerson quando a diretoria rubro-negra o anunciou, em julho. O futebol apresentado pelo camisa 8, contudo, eliminou as dúvidas. Fundamental na campanha que levou o Flamengo à decisão em Lima, ele destacou ao L! a experiência de defender o clube e a importância de Jorge Jesus e dos companheiros no dia a dia.

As boas apresentações fizeram o meia despertar as atenções do técnico Tite. A convocação para a Seleção Brasileira parece ser uma questão de tempo e, para Gerson, "um sonho diário". A identificação com a Nação também foi algo natural e imediato - uma marca até aqui neste retorno ao Brasil. O "Coringa", porém, leva a tranquilidade mostrada com a bola nos pés para fora das quatro linhas. Pagode, churrasco e soltar pipa continuam sendo as suas preferências no tempo livre. Confira, abaixo, a conversa do LANCE! com o meia.

LANCE!: São pouco mais de quatro meses de clube e o time está próximo de conquistas importantes. Esperava viver essa situação tão rapidamente?

Gerson: Quando acertei minha vinda ao Fla já vislumbrava conquistas. O projeto apresentado, a estrutura, o time que nós temos. Tudo isso nos dá a confiança a estabilidade para fazer o melhor em campo em busca de títulos. Não me surpreende estarmos na disputa de grandes torneios. Esperamos concretizar nossos sonhos e objetivos. Sem os títulos nada que fizemos até aqui será lembrado.

Diego Alves, Filipe Luís, Rafinha, Gabriel, Everton, Arrascaeta... São muitos nomes de qualidade. Este é o elenco mais qualificado com o qual você trabalhou? Busca aprender, conversar com os atletas mais experientes?

- Busco desfrutar cada segundo neste clube e ao lado desses grandes jogadores. Tem sido fantástico esse começo de caminhada no clube. Tenho tudo aqui. Companheiros experientes e de qualidade, jovens com um enorme talento, comissão técnica fantástica, estrutura fenomenal... O Flamengo é referência hoje e não deve em nada aos grandes clubes da Europa. Busco aprender a cada treino e jogo.

Em momentos difíceis da partida, em jogos decisivos, você demonstra muita tranquilidade em campo, até para dar um drible, encontrar um passe em situação mais apertada. De onde vem essa calma para jogar bola?

- Acredito que essa tranquilidade em momentos difíceis vem da minha personalidade. Procuro sempre aparecer para o jogo, dar opção. Em um elenco qualificado como o nosso, temos que estar sempre no mais alto nível para jogar. Aprendi muito também nessas minhas três temporadas na Europa. Evolui muito tática, técnica e psicologicamente. Evolui muito. Busco o melhor posicionamento para receber a bola livre e o nosso time é muito bem treinado também. Tudo isso facilita.

A tranquilidade segue fora do campo também? Como tem aproveitado o tempo livre na cidade?

- Gosto de estar sempre por perto dos meus amigos e familiares. Nas minhas folgas costumo sempre reunir a rapaziada para um churrasco com aquele pagode. E, claro, soltar pipa.

Sua participação nos dois momentos do jogo - defensivo e ofensivo = tem sido muito destacada. Se considera um "todo-campista"?

- Meus três anos de Europa me ensinaram muito e me fizeram repensar muita coisa. Vi que tinha a necessidade de melhorar a minha intensidade de jogo e busquei muito essa melhoria. Além disso, evolui taticamente. Joguei em uma Liga que te exige muito defensivamente e fui obrigado a crescer nesse quesito. Hoje, me sinto à vontade pra jogar em diversas funções e consigo ter essa intensidade que o Jorge Jesus pede. Se não for ótimo no defensivo e ofensivo, o Mister cai em cima (risos).

O Mister disse, recentemente, que o trabalho dele passa por potencializar o talento dos atletas. Qual a responsabilidade do treinador em sua boa fase?

- O Mister é um treinador fantástico. Consegue extrair o melhor de cada atleta no dia a dia e consequentemente nos jogos. Ele consegue potencializar as virtudes de cada atleta e também ensina caminhos que a gente em um primeiro momento não consegue ver. Ele tem responsabilidade direta na boa fase de toda a equipe.

A informação que temos é que sua vontade foi determinante para que o acerto entre Flamengo e Roma saísse. Qual foi seu papel na negociação?

- Meu papel foi dizer que queria jogar no Flamengo. Quando surgiu a possibilidade meus olhos brilharam. Minha cidade, meu país, clube de coração, perto dos familiares e, acima de tudo, com um grande time e a possibilidade de disputar as melhores competições podendo conquistar títulos. Não podia dizer não ao clube que sempre torci na infância.

Você e Gabigol não tiveram sucesso na Europa e retornaram ao Brasil, onde sobram hoje. Por qual motivo não deu certo? O nível é diferente?

- Eu discordo um pouco dessa ideia do “não deu certo”. Na minha primeira temporada fiz 11 jogos, na segunda 31 e na terceira 40. Existia um planejamento em que na primeira temporada seria de adaptação, a segunda com mais oportunidades e a terceira de afirmação. E assim foi. Cheguei na Europa com 18 anos. O que evolui nesse período eu tenho certeza que não conseguiria aprender aqui no Brasil. Cresci e evolui muito. E isso também é muito importante.

Há planos de voltar para a Europa em um outro momento?

- Sendo bem sincero, ainda não parei para pensar nisso. É jogo quarta e domingo desde que cheguei (risos). Tirando a brincadeira, não tenho motivos para pensar nisso no momento. Estou muito feliz no clube, no Flamengo. Estamos disputando as melhores competições com possibilidade de título e eu com a possibilidade de escrever meu nome na história do clube. Momento é de pensar no Flamengo. Só no Flamengo.

Você tem idade para defender o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2020. Tem esse sonho de disputar uma Olimpíadas? O quanto isso pesou na decisão de acertar com o Flamengo, sabendo da visibilidade que o clube poderia te dar?

- Vestir a camisa da Seleção Brasileira é sempre será um sonho. Qualquer atleta sonho em defender o seu país e comigo não é diferente. Tenho a consciência de que será o meu trabalho no Flamengo que me fará chegar à Seleção. É manter o trabalho que vem sendo feito no dia a dia e evoluir cada dia mais.

E a Seleção principal... Se vê vestindo a Amarelinha em breve? Quem sabe na próxima Copa do Mundo?

- Sonho diariamente com isso. Tenho certeza que mantendo o meu trabalho em alto nível aqui no Flamengo as chances irão aparecer. Não adianta pensar em Seleção e esquecer o Flamengo. As duas coisas caminham juntas. Somente estando bem e a equipe brigando por títulos terei oportunidade de vestir a Amarelinha.

Dá para perceber que rapidamente você se integrou aos torcedores. O Vapo é uma cena recorrente nos jogos do Flamengo, a brincadeira em ser o Coringa também pegou nas redes sociais. O que falar dessa conexão com a Nação?

- Fantástico. A comemoração do Vapo eu fiz de maneira espontânea e viralizou. Todos que me param para tirar foto querem tirar fazendo o “Vapo”. É sensacional todo esse carinho que recebo dos torcedores do Flamengo mesmo com pouco tempo de clube. Espero que esse carinho só aumente daqui em diante. Quanto a brincadeira do “Coringa”, surgiu pois muita gente estava me perguntando sobre jogar em diversas funções. Aí falei pra me chamarem de “Coringa”. E pegou. Até o Mister me chama de “Joker” (risos).

Siga o Lance! no Google News