Vítima de racismo, Gerson mantém o foco em campo e dita o ritmo do Flamengo em vitória sobre o Bahia
Meio-campista sofreu ofensa racial do colombiano Ramírez no início do segundo tempo e foi peça-chave do Rubro-Negro na virada para 4 a 3, neste domingo
A vitória do Flamengo sobre o Bahia, neste domingo, teve um grande protagonista dentro e fora de campo: o meia Gerson. Vítima de mais um caso de racismo no futebol, o camisa 8 rubro-negro mostrou "sangue frio" ao manter a postura após o triste ocorrido e respondeu com mais uma bela atuação no Maracanã, se tornando um dos destaques na virada por 4 a 3, pela 26ª rodada do Campeonato Brasileiro.
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O episódio ocorreu no início do segundo tempo, pouco após o primeiro gol do Bahia. Após desentendimento com o meia do Bahia Indio Ramírez, Gerson relatou ter sofrido injúria racial, mas foi ignorado pelo árbitro e chegou até a ser ironizado por Mano Menezes e pelo restante da comissão técnica do clube baiano.
Mesmo com um desabafo "entalado na garganta" e que só viria à tona ao fim da partida, Gerson permaneceu em campo e decidiu responder primeiro na bola. O meia, que já vinha sendo um dos destaques do lado rubro-negro, chamou a responsabilidade no momento adverso da partida, em que a equipe perdia por 3 a 2, e ditou o ritmo rumo à virada.
Apesar de não ter marcado gol nem dado assistência, o camisa 8 teve papel fundamental no time que atuou grande parte do jogo com um a menos. Principalmente na parte ofensiva. Atuando como segundo volante e com a função de armador, Gerson foi peça-chave para a construção de quase todas as jogadas ofensivas do Flamengo.
E os números provam a boa atuação do meia. Além das 74 ações com a bola - o segundo mais participativo na equipe -, o meia se destacou pelos passes decisivos (3), pelos 80% de sucesso nas tentativas de dribles e pelos 10 duelos ganhos no chão.
DESABAFO E APOIO RECEBIDO
Após a partida, que terminou com a vitória rubro-negra, Gerson enfim pôde desabafar. Além de acusar o colombiano Ramírez de racismo, o meia criticou a postura de Mano Menezes no episódio e deu o seu recado sobre o assunto:
- Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Bruno fingiu que ia chutar a bola e o Ramírez reclamou. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: "Cala a boca, negro". Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito.
- O Mano até falou "Ah, agora você é vítima, não é? O Daniel Alves te atropelou e você não falou nada". Claro, porque teve respeito entre eu e ele. Eu nunca falei de treinador, mas o Mano tem que saber respeitar. Estou vindo falar aqui por mim e por todos os negros do Brasil - completou Gerson.
A mobilização foi imediata. Tanto companheiros de equipe quanto o vice-presidente de futebol do Fla, Marcos Braz, demonstraram apoio a Gerson. O técnico Rogério Ceni foi além e aproveitou a entrevista coletiva para elogiar o meio-campista e destacar a importância dele para o time.
- O Gerson é genial. Para mim, é o melhor segundo volante com sobras no Brasil. Além de ser uma pessoa importante, com astral, bom humor, e que carrega o time para o ataque... Eu admiro o Flamengo ter um jogador como ele no Brasil. Espero que ele fique pelo menos o tempo que eu estiver aqui. É um jogador muito acima da curva, tem a leitura do jogo que pouca gente eu vi em 30 anos de futebol. Jogador de seleção - disse Rogério Ceni.
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Com a vitória, o Flamengo chegou aos 48 pontos e assumiu a vice-liderança do Brasileirão, atrás somente do São Paulo, que tem 53 pontos e um jogo a mais. Após mais uma semana livre para treinos, o Rubro-Negro encerra as atividades em 2020 no próximo sábado, às 19h (de Brasília), diante do Fortaleza, no Castelão.