Fluminense atravessa instabilidade no campo e vê torcida viver gangorra de emoções em quatro meses
Tricolor passou por fases de confiança e de estar desacreditado em uma diferença de poucos dias e luta por mais estabilidade
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A arquibancada reflete o que acontece no campo. É assim que o futebol costuma funcionar. No Fluminense, se o ano é marcado pela irregularidade de uma equipe que está rapidamente alternando entre altos e baixos, as fases de lua de mel com a torcida também vem durando pouco. Na vitória sobre o Vila Nova na partida de ida da Copa do Brasil, os jogadores voltaram a ouvir os cantos de "time sem vergonha", xingamentos a Abel Braga e até "olé" quando o jogo se encaminhava para um vexame. Isso tudo menos de 20 dias depois do ápice da relação em 2022 com o título carioca.
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Cercado de expectativas por conta do alto investimento em reforços e do segundo ano seguido na Libertadores, o Flu ainda não correspondeu nas atuações o nível que o torcedor tricolor aguardava. Mesmo assim, teve a melhor campanha do Campeonato Carioca e foi campeão diante do maior rival, o Flamengo, de quem havia perdido nos dois anos anteriores. Mas a montanha-russa de sentimentos nessa relação ajuda a traduzir o sentimento até de frustração até o presente momento.
Veja a tabela da Série A do Brasileirão
ESTREIA COM VAIAS
As expectativas eram altas para o primeiro jogo do ano, mas a derrota para o Bangu acabou sendo um balde de água fria na Ilha do Governador. O Fluminense jogou mal, não se adaptou ao esquema com três zagueiros e já na estreia saiu de campo vaiado. Abel Braga foi o principal alvo da torcida, que se frustrou com as primeiras impressões do novo time. A partir dali, demorou até o time perder novamente, mas as cobranças seguiram.
"BURRO"
A sequência de 12 vitórias consecutivas começou no triunfo sobre o Madureira, em Volta Redonda. No entanto, na segunda partida como mandante, diante do Audax Rio, Abel ouviu os gritos de "burro" ao não utilizar Paulo Henrique Ganso. O jogador, inclusive, acabou sendo uma das razões da birra do torcedor nos primeiros meses do ano. Antes da partida, assim como em outras oportunidades, os tricolores cantaram o nome do treinador, mas isso não tem sido uma constante em 2022.
SINTONIA
Foram necessárias 11 vitórias consecutivas para que Abel, enfim, ganhasse algum tipo de voto de confiança. Nesse meio, três clássicos levando a melhor, uma classificação sobre o Millonarios na segunda fase da Libertadores e o título da Taça Guanabara com uma goleada sobre o Resende e excelente campanha do time formado, na maior parte do tempo por reservas. A relação atingiu o ápice naquele momento com o triunfo sobre o Olimpia (PAR) por 3 a 1 em casa na ida da terceira fase da competição continental. Mas a partir disso tudo desandou.
VENDA DE LUIZ HENRIQUE E QUEDA DE RENDIMENTO
Tudo começou com a confirmação da venda do atacante Luiz Henrique para o Real Betis, da Espanha, por R$ 70 milhões, incluindo o valor fixo e os bônus. Os números foram considerados baixos pela torcida, que se revoltou pedindo explicações, dadas pelo presidente Mário Bittencourt no dia seguinte. Mais tarde, o Fluminense perdeu a sequência de vitórias ao empatar com o Boavista utilizando um time completamente reserva. Poucos dias depois, a eliminação na Libertadores acabou de vez com o resquício de bom clima que havia. Cobrança no aeroporto, muros vandalizados e insatisfação no ar.
SEMIFINAIS COM SOFRIMENTO
Com a vantagem do empate, o Fluminense até venceu o primeiro clássico com o Botafogo por 1 a 0, mas ia perdendo o segundo por 2 a 1 até Germán Cano salvar o dia no último lance. Foram duas péssimas partidas onde, mesmo com a classificação suada, a torcida terminou vaiando jogadores, Abel e o presidente Mário Bittencourt. A vaga na final do Campeonato Carioca vinha sob forte desconfiança e temor de perder pelo terceiro ano seguido.
SÓ FESTA
Mas as expectativas negativas se revelaram furadas. O Fluminense entrou com uma postura bem diferente contra o Flamengo, buscou jogo e foi premiado com a vitória por 2 a 0 na primeira partida. No segundo confronto, novamente boa atuação e o empate por 1 a 1 que garantiu o título do Carioca depois de 10 anos. Ali, a esperança de que ainda era possível extrair muito desse elenco. Todos os jogadores foram exaltados, diversos se destacaram e o próprio Abel Braga acabou novamente nos braços do torcedor. No treino aberto antes da estreia no Brasileirão, mais exaltação. Mas a sensação era de que a confiança recebida pouco antes nunca voltaria a se estabelecer.
O Vila Nova amplia. Cria do Fluminense, Pablo Dyego não comemora. E a torcida canta “time sem vergonha” #lanceMARACA pic.twitter.com/t9S3wtA1DY
— Luiza Sá (@luizasabg) April 20, 2022
DECEPÇÃO
O Fluminense pós título parece ser pior que o pré, se é que era possível. Depois de levantar a taça, o time foi "arame liso" diante do Santos ao dominar e não conseguir fazer gols no empate por 0 a 0. Depois, sofreu uma derrota acachapante para o Junior Barranquilla por 3 a 0 na Colômbia e ainda venceu o Cuiabá por 1 a 0 com gol no final após mais uma atuação muito ruim.
A insatisfação estava escancarada desde os primeiros minutos no retorno do time ao Maracanã após dois jogos fora. A vitória sobre o Vila Nova teve raiva com o comportamento no primeiro tempo, decepção com o 2 a 0 imposto pelos goianos e certo alívio após a virada. Mas não houve celebração, apenas cobrança. Um misto de vaias e aplausos, além de xingamentos a Abel e até "olé" a cada toque do adversário na bola marcaram o jogo da Copa do Brasil.
- A gente tem noção de que a nossa torcida é exigente e está no direito dela. Eles são o coração do clube e a gente nunca vai para a rota de colisão com eles. Eu já cometi o erro de me desgastar e posso falar por experiência própria que não vale a pena. A nossa torcida é inteligente, e fica um aprendizado para os time e todos que foram ao estádio hoje - disse Fred após a partida.
- Primeiro é que se entrarmos da forma como fizemos no primeiro tempo, mesmo com a superioridade, a gente pode estar chamando a torcida contra a gente. Aprendemos isso, e temos que entrar mais fortes. O outro é que se a torcida tiver do nosso lado até o fim, a gente pode virar jogos como esse, na superação. Ouvi a torcida gritando o segundo tempo até o final. Sempre tentamos jogar da melhor forma, hoje tivemos dois machucados e ficamos com um a menos… Muito difícil - completou.
Para tentar recuperar novamente o bom momento com a torcida, o Fluminense terá mais dois jogos em casa. Neste sábado, enfrenta o Internacional às 19h, pela terceira rodada do Brasileirão. Na terça-feira, terá o Unión Santa Fe às 21h30, pela fase de grupos da Sul-Americana.
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