Mário Bittencourt lamenta a demissão de Diniz: ‘Recebia mensagens pedindo para renovar por 10 anos’

Técnico foi campeão da Libertadores pelo Tricolor


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Presidente do Fluminense, Mário Bittencourt convocou uma entrevista coletiva, para a manhã desta terça-feira (25), no CT Carlos Castilho. Na conversa com os jornalistas, o assunto não poderia ser outro, mas a demissão de Fernando Diniz. Confira os principais trechos!

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- A gente quando comanda um clube toma decisões baseadas em nossos conceitos. Eu fiz um alongamento do contrato dele até o final de 2025. Essa extensão foi baseado no que a gente acreditar, que é tentar dar longevidade ao trabalho dos treinadores. Uma prova disso é que o Fernando é o treinador mais longevo do Fluminense no século. O segundo é o Abel Braga. São os treinadores que mais apresentaram resultados. O tempo de trabalho permite isso. Quando acabou a Libertadores recebia centenas de milhares de mensagens pedindo que o contrato fosse renovado por 10 anos. A legislação não permite isso. Nessa renovação, eu fiz a extensão somente até o final do meu contrato. Eu poderia ter feito até meados de 2026. Mas fiz a prorrogação de um ano e meio porque acreditava que o trabalho voltaria a dar os resultados que a gente vinha tendo.

- Se o contrato não tivesse prazo determinado, a gente poderia ter perdido ele na Libertadores, quando ele era visto como maior técnico do Brasil e por isso foi à Seleção. Se ele não tivesse um contrato com multa. Se ele tivesse um contrato com prazo indeterminado, qualquer clube poderia tirá-lo. A multa é um resguardo para os dois lados. A gente anunciou a renovação há 33 dias, mas vinha negociando a extensão desde o final da Recopa. O Fernando é um cara de transpiração. Eu sentava e falava que a gente precisava conversar. Ele falava, deixa para semana que vem para o final da Recopa. A gente fez a renovação acreditando que poderia voltar a ter a performance.

- A gente acreditava que retomaria a performance e os resultados. Não existe um número de derrotas específicas. Existe uma avaliação técnica do trabalho que vinha sendo feito ao longo da temporada. A gente estava classificado na Libertadores, Copa do Brasil e mal no Brasileiro. Ficamos 6 meses tentando reencontrar o elo. A gente conversava com o Fernando. O futebol tem dia a dia, a performance e o ambiente. Não falo do ambiente interno, a despedida do Fernando foi uma das maiores emoções. Para um presidente, o Fluminense é o mais importante. Não é o Mario Bittencourt, o Diniz. Somos instrumentos para fazer o clube brilhar, assim como os jogadores. Mas todos nós vamos passar e o Fluminense vai seguir. A decisão parte do departamento do futebol e presidência. A gente precisa encontrar caminhos para voltar a vencer e ver a torcida parar de sofrer e sangrar.

- A torcida não está contra nós, nunca esteve. Ela sofre. E a gente também. Sou torcedor e presidente. Uma posição difícil ter que tomar uma decisão. Mas a vida é feita de rompimentos dolorosos. Não significa que um dia a gente não vai resgatar a relação com o Fernando à frente, mas nesse momento era preciso romper. A vida traz rompimentos pessoas, de pessoas que nos deixam, falecem, relacionamentos terminam entre amigos, de forma amorosa. Tem que ficar o que a gente construiu. Foram dois anos e dois meses de muito sucesso, uma história muito bonita, deu certo a relação entre Fluminense e Diniz. Foi um dos fatores que fez a gente ganhar o título mais bonito da história do Fluminense até aqui.

- Nós ontem quando discutimos a saída negociamos um acordo de redução e parcelamento da multa. Não tem nada que faça que não seja pensado no Fluminense. Os treinadores que passaram aqui, alguns tiveram contrato de prazo e outros não. O clube passava por situação difícil eu não queria tomar multa e acabai perdendo o Odair assim. Só para entenderem. Eu estava começando a gestão. No ano seguinte, achei melhor fazer por prazo determinado. Teve uma rescisão de comum acordo com o Roger. Com o Abel foi diferente, ele falou para mim que seria o último trabalho. Com o Diniz foi o acordo que está na CLT. É a mesma multa que vale se o treinador foi embora. Todos os treinadores que passaram por aqui estão integralmente pagos. Se eu fiz é porque o Fluminense tem capacidade de pagar. Quando ele foi para a seleção, a gente recebeu uma multa.

- O que a gente tem aqui é um técnico permanente, que é o Marcão. Todas as vezes que ele assume eu falo. O Marcão é muito qualificado, competente, estudioso, tem todas as licenças e um cara com resultados muito importantes. "Bom, por que ele não foi efetivado?". É um acordo que a gente tem. Ele é um cara muito importante para os momentos das saídas dos treinadores. Por que a gente sempre efetiva o Marcão na saída dos treinadores? Porque o trabalho dele aqui é diário junto do treinador que está aqui. Em todas as vezes que a gente conversou ele falou: "Minha função é ajudar nos momentos de dificuldade". Muitas vezes ele dá treino para os não relacionados em horários diferentes. A gente tem um processo decisório longo. O Marcão participa de todos os treinos dos treinadores do Fluminense. Quando o Fernando foi para a Seleção, quem treinava o time foi o Marcão.

- Os treinadores trazem seus auxiliares e levam quando vão. Sempre imaginei ter um técnico interno para que tudo de bom do trabalho fosse jogado no lixo com uma mudança de comando. É mais fácil dar certo se tiver alguém participando desse trabalho. Nas vezes que o Fernando não estava no banco por expulsão era o Eduardo Barros e o Marcão. Em 2019, ele assumiu o time em setembro e ficou até dezembro. Eu entrei num mandado tampão com o time brigando para não cair. O Marcão inseriu conceito deles. Fizemos 16 jogos, ganhamos 6, empatamos 6, e 4 derrotas. No final, nos classificamos para a Sul-Americana. A outra passagem foi na saída do Odair. Fez 12 partidas, seis vitórias, 4 empates e 2 derrotas e nos classificamos para Libertadores. Contratamos o Roger, que desenvolveu o trabalho e saiu depois da eliminação na Libertadores. E aí o Marcão vai até o fim do Brasileiro de 2021

- O treinador que assumiu o time é da casa, permanente e que nos entregou em três anos a saída de rebaixamento e duas classificações para a Libertadores. Queria muito que vocês respeitassem. Ele é muito competente. Até o dia de hoje não pensamos em treinador, não conversamos com staff nenhum. A gente tem nossa filosofia de trabalho para deixar as pessoas aqui em paz. A tendência é que o Marcão siga até o final da temporada. Em 2009, eu entrei com o Cuca. O clube tinha 16 pontos na quarta rodada do returno. Fui convocado para a gerência de futebol. O clube tinha 99% de chance de cair. Felizmente deu certo, obviamente não foi por minha causa. Ajudei um pouco. Foi muito pelo trabalho do Cuca. A nossa ideia principal é dar tranquilidade ao Marcão. As coisas podem mudar, mas não é nossa intenção. O time vai voltar a vencer.

- Sei que o torcedor está sangrando, que está pedindo promoção. Para o jogo de quinta, eu não consigo. Mas estou prometendo para o jogo contra o Inter. O time está precisando de ajuda, de carinho. Eles estão se dedicando demais. O nosso choro ontem não foi só porque a gente se despediu, mas porque sabemos que não estamos entregando o que o torcedor merece.

- A gente construiu essa relação. Eu sempre falei com ele sobre o futebol. A gente nunca se encontrou além do campo. Sou amigo de todos que trabalham comigo, mas não impede de eu ter que tomar decisões que sangram no coração. A gente deu o mesmo abraço que em 2019, talvez com outra carga emocional. Choramos muito. Resolvemos a parte burocrática que ficou boa para todo mundo e ele pediu para se despedir de todos. Eu participei e vi uma das cenas mais bonitas que vi no futebol de jogadores e renomados e os que estão começando chorando. O choro foi muito de que a gente sabe que deu muito certo, a gente queria, mas não estava dando. Tenho certeza que essa relação de amor...não tem ódio nenhum. Foi um momento muito lindo. A partir de hoje, a gente tem que virar a página para a gente voltar a ganhar jogo

- A gente monta elenco de acordo com o treinador. Por isso, a gente tenta manter o maior tempo possível. A maioria dos jogadores terminam contrato no final de 24/25. Nenhuma decisão é tomada assim: "eu quero esse jogador". O time foi montado com a indicação ou a aceitação do treinador. Agora não adianta olhar a sequência de derrotas e achar que o trabalho não foi bem feito. Ganhamos uma Libertadores e Recopa. Nenhum time é vitalício. Uma das ideias de manter o Marcão são as peças que ele já conhece. Se ele quiser jogar de outra forma, ele já conhece as outras peças. Não significa que vai dar certo sempre, mas a gente tem que minimizar as chances de dar errado. Tem um cara (Marcão) aqui dentro que conhece os 35 jogadores.

- A dificuldade que estamos passando fazem parte de um conjunto. Não é um fator que fez o Fluminense jogar mal. Estamos a seis meses procurando o que está nos atrapalhando. Tivemos um mês a menos, lesões. Do Cano, do André. A maioria saiu por problemas que não foram musculares, foram de impacto. Só reclama de calendário quem está nas grandes competições. Nesse momento, temos um jogador importante na seleção da Colômbia, o André machucado, o Thiago só vem quando abrir a janela. O time nunca teve força total nos últimos seis meses. Mas a gente acha que poderia estar melhor mesmo com todas essas dificuldades. Não para estar entre os quatro melhores, mas melhor do que a gente está.

- A gente está olhando o mercado. Hoje, não temos propostas por André e Arias. Às vezes, a proposta vem por 3 dias. Ano passado, o Arias recebeu uma proposta de um clube russo boa para o Fluminense e o jogador não quis ir. Se chegar outra proposta que ele tenha o desejo de ir, o desejo do jogador normalmente prevalece. Isso aconteceu outras vezes, como quando o Kayky foi para o City. Vamos olhar a janela. Vai depender muito se, e se não tivermos proposta por Arias e André, vamos ter o time da Libertadores e Thiago Silva. Estamos atentos para procurar jogadores imaginando uma possível saída. É monitoramento. Mas a gente precisa esperar o baralho mexer. Este ano a tendência é que a gente venda o André. Conseguiríamos no mercado um substituto à altura? Talvez teria que gastar o mesmo valor.

- Todo ano após conquista é muito difícil para todos os clubes. É um dos fatores que fazem termos dificuldade para ir ao mercado. Quando o clube teve o maior investimento da história, brigou contra o rebaixamento. Há um relaxamento natural. Aqui, depois de 2023, na estreia do Brasileiro não tivemos muito público. Normal. As pessoas falam aqui, 2023 acabou. A gente está tentando reencontrar o futebol. Isso trouxe um pressão. Mais que ganhar, a gente precisa encantar. Mas a gente não precisa encantar, precisa ganhar. O que fez a diferença em 2013, 2019? A torcida. Por que a gente mexeu agora? Porque tem muito campeonato. A gente entendia que precisava mudar essa energia. A gente precisa ganhar jogo para voltar a 2023. Pode até ser este ano na Libertadores. Isso já aconteceu na história do clube há 20 anos.

- Não são erros propositais. São métodos que adotamos no início do ano. Não temos nada identificado. O fato de não ter tido pré-temporada, não é que tenha sido um erro. Poderíamos ter esperado e não estreado contra o Bangu. A gente podia antes de tentar resgatar o jogo ter sido mais pragmático. As escolhas foram afetadas pelas contusões. Não é porque teve intransigência para aplicar método. A gente vinha tentando jogar como 2023 sem as condições de 2023. Aconteceram coisas que a gente poderia ter tomado decisões diferentes, pela fisiologia, comissão técnica, diretoria. Quando não ganhar, isso afeta o ambiente. Jogador chora no vestiário. O Cano não vem fazendo gols, eu falo para minha filha que ano passado ele acertaria. Não é sorte. Mas tem um desgaste emocional. A gente entendeu que precisava de uma modificação no comando.

- Não. Salários e direitos de imagem estão em dia. Premiações da Libertadores, Brasileiro, Mundial estão paga e da Recopa está paga a primeira parcela. Não é isso que faça diferença. Se tivesse três meses de salário atrasado, não é que o jogador esteja fazendo de propósito, mas ninguém gosta de jogar com salário atrasado. Várias coisas podem afetar a performance. Não tenho dúvida de que não tem sacanagem, ninguém está fazendo corpo mole.

- O clube tem um departamento que trabalha todos os dias. Falo dos jogadores para que olhem para eles como humanos. Temos jogadores passando por problemas com filho, com mãe, irmão, de saúde. Eles têm problemas como nós todos. Mas precisam entrar em campo e performar. Então além das partes técnicas e físicas, a gente achou que precisava de uma mexida. O Fernando tem uma maneira de comandar e o Marcão também tem um estilo de comandar também. São mudanças que a gente precisa fazer para tentar retomar a confiança.

- Tem muitos treinadores de qualidade no Brasil. Os clubes funcionam como empresas, mesmo os que não são, e precisamos fazer mudanças para além de questões esportivas. Trabalhei com o Odair e acho que ele é muito bom. Foi auxiliar da Seleção, trabalha no mundo árabe com um dos maiores salários do mundo. É excelente como o Renato, como o Cuca, o Tite, o Vanderlei, o Mano. Todos em algum momento não conseguiram implementar o trabalho e saíram. É o ambiente do futebol brasileiro. Muita gente que estava criticando há seis meses ontem questionou a saída. Qual a cultura do futebol, se o time vai mal, há uma pressão gigantesca. Como não dá para tocar os jogadores, aí não tem jeito. O trabalho aqui é igual há cinco anos. A vida é igual quando perde e quando ganha. Na sexta passada saí com as minhas filhas e fui hostilizado. Não estou me vitimizando

*nota em atualização

Fernando Diniz não resiste à derrota para o Flamengo e é demitido do Fluminense

Fernando Diniz não é mais treinador do Fluminense. Após a derrota no clássico para o Flamengo, a diretoria ido clube se reuniu na manhã desta segunda-feira (24) e optou pelo encerramento do trabalho, segundo publicação inicial do "Ge", que foi confirmada pelo Lance!.

Apesar das classificações às oitavas de final da Libertadores e da Copa do Brasil, a campanha no Brasileirão foi determinante para a queda. O Tricolor ocupa a lanterna da competição com apenas seis pontos somados em 11 rodadas.

Fernando Diniz encerra sua segunda passagem no Fluminense com três títulos conquistados: Libertadores, Recopa e Campeonato Carioca. O treinador entrou na história como um dos nomes mais vitoriosos do clube é responsável por dois títulos inéditos.

Fernando Diniz - Fluminense
(Gilson Lobo/AGIF)

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