Na última quinta-feira, o título brasileiro de 2010 do Fluminense fez nove anos. No entanto, essa conquista nacional só foi possível por conta de uma façanha conhecida como "arrancada histórica", que nesta sexta-feira completa uma década. Em 2009, o Time de Guerreiros nasceu após contrariar os matemáticos, que calcularam 99% de chances do Tricolor ser rebaixado no Campeonato Brasileiro, dando início a uma era de títulos para o clube das Laranjeiras.
Na ocasião, Fluminense terminou o primeiro turno na penúltima posição, com 15 pontos e a equipe não mostrava sinais de reação, tanto que foi vencer apenas na sétima rodada do returno. Antes dessa vitória sobre o Avaí, por 3 a 2, no Maracanã, o Tricolor era o lanterna, tendo que tirar uma diferença de oito pontos para o Náutico, que na ocasião, ocupava a 17ª posição.
Após a vitória sobre o clube catarinense, o Fluminense engatou uma sequência impressionante, somando sete vitórias, quatro empates e apenas uma derrota, para o Flamengo, que acabou ficando com o título brasileiro. Titular absoluto nessas duas temporadas, indo do inferno ao céu, o lateral-direito Mariano, atualmente no Galatasaray, da Turquia, concedeu entrevista exclusiva ao LANCE!. O jogador valorizou a arrancada histórica como fato primordial para o título Brasileiro no ano seguinte.
- Eu acho que o lindo do futebol é isso. Você pode estar no inferno e tudo muda tão rápido que logo você já está no céu de novo (risos). A nossa confiança de livrar do rebaixamento e a nossa campanha na Sul-Americana, nos deu uma moral gigantesca para entrar forte no Brasileiro. Claro que mudaram alguns jogadores e o treinador que chegou tinha experiência em ganhar Brasileiros. Isso fortaleceu mais ainda o grupo.
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Confira a classificação do Campeonato Brasileiro
Paralelamente a arrancada, o Tricolor teve forças para chegar até a decisão da Copa Sul-Americana. Infelizmente o Tricolor foi superado pela LDU, do Equador. Porém, na avaliação de Mariano, a campanha foi fundamental para evitar o rebaixamento.
- A Sul-Americana foi o nosso gás, foi onde a nossa moral e confiança aumentava a cada partida. Acho que a juventude da grande parte dos jogadores nos ajudou a suportar as viagens e, claro, a nossa vontade de vencer a competição continental e fugir do rebaixamento. Faltou o título da Sul-Americana pra ser um 2009 ainda mais histórico.
BATE BOLA COM MARIANO
Você marcou o seu nome na história do Fluminense em dois momentos distintos. O primeiro em uma arrancada histórica. Como o elenco teve forças para contrariar os matemáticos?
- Realmente foi uma arrancada sensacional, como você disse. Ficou marcado na história do clube e que bom que marcou por algo positivo. O grupo se fechou, apesar dos jogadores jovens que tínhamos no elenco. Creio também que a Sul-Americana nos ajudou muito, nos deu bastante certeza pelas vitórias que conseguimos, e quando chegávamos nos jogos do Brasileiro, tínhamos mais confiança de que tudo daria certo.
Qual é o grau de importância do técnico Cuca para aquele verdadeiro milagre?
- Na minha opinião, ele teve uma importância realmente muito grande. Ele deu muita moral para os jogadores jovens que estavam subindo e também usou a experiência de alguns jogadores que tínhamos no elenco. Particularmente, para mim, ele foi fundamental no meu crescimento dentro do Fluminense.
Teve algum momento em que vocês pensaram que não iriam conseguir? E quando de fato acreditaram que daria sim para se livrar do rebaixamento?
- Cara, foi jogo a jogo. Sabíamos que era muito difícil, tínhamos que jogar um jogo de cada vez e quando as vitórias aconteciam nossa confiança crescia também. Tenho certeza que a Sul-Americana era o nosso combustível, porque quando vencíamos os jogos a gente entrava nos jogos do Brasileiro muito mais fortes e confiantes.
Em 2009 o Fred foi figura primordial. Já em 2010, o atacante perde muitos jogos por conta de lesões. Como era a sua relação com ele e qual foi o tamanho da presença e ausência do goleador?
- Todos nós sabíamos da capacidade do Fred. Ele tinha chegado da Europa, onde jogou no Lyon e claro que ganhou status de ser "o cara” do time. Mostrou tudo isso na nossa temporada de 2009, no Brasileiro, como na Sul-Americana. Em 2010 ele teve muitas lesões, mas nos ajudou muito também, com a experiência e o seu comando dentro do grupo. Ele foi importantíssimo para o nosso título.
Na sua opinião, qual era o melhor time? O de 2009 ou o de 2010?
- Quando se ganha título, não tem como falar que o time não é bom, né? 2010 claro!
O Muricy herdou o time do Cuca e foi Campeão Brasileiro. Quais eram as principais diferenças entre os treinadores?
- O Cuca deixou uma cara ao time, a confiança de muitos jogadores aumentou quando ele chegou no clube. O Muricy tinha sua experiência no Brasileiro, tricampeão brasileiro, sabia como jogar e também tinha o entendimento que tinha que ter um time forte para poder suportar. Juntou a nossa confiança com a experiência dele e deu tudo muito certo.
Após sair do Fluminense em 2012, você faz carreira sólida na Europa, atuando em três países. Quais são as principais diferenças que sentiu em relação ao futebol brasileiro e entre França, Espanha e Turquia, qual o estilo mais lhe agrada?
- Todos têm sua importância na minha carreira. Graças a Deus fui campeão onde passei. Ganhei títulos pelos três, Copa da França com o Bordeaux, Europa League no Sevilla, e pelo Galatasaray, sou bicampeão turco, conquistei uma Copa da Turquia e uma Supercopa. Mas confesso que o nível na Espanha é superior aos outros. Estilo de jogo, jogadores que atuam, equipes são mais fortes. Espanha me agradou bastante, mas estou muito bem adaptado e contente aqui no Galatasaray, um clube enorme.
Mesmo com todo esse tempo fora do Brasil defendendo Bordeaux, Sevilla e Galatasaray, o Fluminense é o time que mais lhe marcou?
- No Brasil, sim. Foi onde comecei a crescer e aparecer no futebol. Foi onde ganhei meu primeiro título, a minha primeira convocação para a Seleção Brasileira e onde pude jogar em um estádio histórico, que é o Maracanã.
Com 33 anos, pensa em voltar para o Brasil e para o Fluminense?
- Penso em voltar sim. Para o Fluminense, não posso garantir, pois não sabemos do futuro, mas é um clube que tenho um grande carinho.
Mesmo longe, tem acompanhado o Tricolor?
- Sempre que posso, acompanho sim. Não só o Flu, como o Campeonato Brasileiro no todo. Libertadores, Sul-Americana, os clubes brasileiros, tento acompanhar tudo o que posso sim.
O Fluminense se livrou do rebaixamento faltando duas rodadas e a projeção para o futuro não é animadora, já que o clube vive em uma grave crise financeira. Como se sente em saber que a instituição mudou tanto desde que você foi embora?
- É difícil falar de um grande clube que vive uma situação difícil ano após ano, mas o nosso futebol mudou muito, pessoas que entraram para administrar, dívidas que deixam no clube... Todos sabemos que não é fácil e a maioria das vezes sobra para o clube e para o elenco. Mas creio que irá mudar, o Fluminense é grande e pode passar por cima de tudo isso. Tem uma grande história que é muito maior e supera toda essa fase ruim.
Algo que gostaria de acrescentar ou dizer para o torcedor tricolor?
- O Fluminense é grande e a torcida também. Sigam apoiando seus jogadores, porque são eles que lutam, se sacrificam e se entregam para fazer o melhor e dar alegria para todos os tricolores de coração.