Título, eliminação e pressão: como acabou a instável e intensa passagem de Abel Braga no Fluminense
Treinador decidiu entregar o cargo nesta quinta-feira e Marcão comandará o Flu a partir do próximo domingo
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Foram quatro meses e 13 dias entre o anúncio do início e do fim da passagem de Abel Braga como treinador do Fluminense. A sensação é de que esse quarto capítulo da extensa relação durou muito mais tempo. A pressão que culminou na decisão de entregar o cargo começou já no momento em que o nome foi oficializado, se amenizou com o título do Campeonato Carioca, mas logo retornou motivada pelas atuações ruins e maus resultados. Com um elenco mais recheado, o veterano não conseguiu fazer o time render.
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As principais razões para a escolha por Abel envolviam o afeto recíproco entre treinador e clube, além da capacidade de gerir elencos. Claro que a passagem recente pelo Internacional com o vice do Brasileirão ajudou Mário Bittencourt a ter mais respaldo na decisão, mas o conhecimento de Fluminense era o maior peso. Depois de Fernando Diniz, Odair Hellmann e Roger Machado, treinadores da nova geração que estiveram à frente do time durante a atual gestão, a ideia era uma nova abordagem.
Veja a tabela da Série A do Brasileirão
O sentimento que fica na maioria é de gratidão por toda história que Abel já tem no clube. No entanto, há também um entendimento que o treinador carregava certa frustração por não fazer o time render da forma como gostaria. Apesar de dizer após o empate com o Unión Santa Fe (ARG) que ainda estava feliz, a decisão foi tomada justamente pelo entendimento pessoal que não havia mais clima.
Diferentemente de outros anos, como por exemplo o "foi lindo" após uma derrota do Vasco para o Flamengo em 2020, o treinador vinha reconhecendo e criticando a própria equipe em entrevistas. Na virada sobre o Millonarios na altitude, disse que faltou vibração. Na falha de Fábio no 3 a 1 sobre o Olimpia (PAR) admitiu que o lance foi "bizarro". Não pegou mal internamente, mas já mostrava uma mudança do que foi nos últimos anos. Abel entendia que o time não conseguia produzir para cumprir as próprias expectativas.
MONTANHA-RUSSA DE EMOÇÕES
Vinte e um dias separam a redenção de Abel pelo título do Campeonato Carioca e a decisão pela saída. Mas se engana quem acha que a pressão vem pelos resultados recentes. Tudo começou já na estreia com a derrota para o Bangu. O Fluminense jogou mal, não se adaptou ao esquema com três zagueiros e já saiu de campo vaiado. O treinador foi o principal alvo da torcida, que se frustrou com as primeiras impressões do novo time.
A sequência de 12 vitórias consecutivas começou no triunfo sobre o Madureira, em Volta Redonda, mas na segunda partida como mandante, diante do Audax Rio, Abel ouviu os gritos de "burro" ao não utilizar Paulo Henrique Ganso. O jogador, inclusive, acabou sendo uma das razões da birra do torcedor nos primeiros meses do ano. No fim, o camisa 10 acabou se tornando o titular.
Foram necessárias 11 vitórias consecutivas para que Abel, ganhasse algum tipo de voto de confiança. Reforçaram esse momento os três clássicos levando a melhor, uma classificação sobre o Millonarios (COL) na segunda fase da Libertadores e o título da Taça Guanabara com uma goleada sobre o Resende. A relação atingiu o ápice com o triunfo sobre o Olimpia (PAR) por 3 a 1 em casa na ida da terceira fase da competição continental. Mas tudo desandou.
ELIMINAÇÃO, TÍTULO E QUEDA
O ambiente começou a se tornar mais hostil com a venda de Luiz Henrique por cerca de R$ 70 milhões, incluindo o valor fixo e bônus, o que gerou pressão na diretoria. No mesmo dia, o Fluminense perdeu a sequência de vitórias ao empatar com o Boavista utilizando um time completamente reserva. Mas o clima acabou com a eliminação precoce na Libertadores. Mesmo com a vantagem de 3 a 1, o Tricolor caiu nos pênaltis. Abel foi um dos mais cobrados no violento desembarque no aeroporto do Rio de Janeiro.
Depois de muito sofrimento nas semifinais do Carioca, quando Germán Cano salvou o dia no último lance contra o Botafogo, a vaga na final chegou em clima de desconfiança. Mas as expectativas negativas foram revertidas. O Fluminense entrou com uma postura bem diferente contra o Flamengo, buscou jogo e foi premiado com a vitória por 2 a 0 na ida. No segundo confronto, novamente boa atuação e o empate por 1 a 1 que garantiu o título do Carioca depois de 10 anos. A esperança foi renovada e o próprio Abel voltou a ser exaltado.
Mas a sensação que acabou se confirmando é que a confiança nunca voltaria a se estabelecer. Apesar de os xingamentos a Abel nunca terem sido unanimidade na arquibancada, eles ficavam mais fortes. O Fluminense pareceu ficar pior após o título do que era antes. Se na partida com o Internacional no Brasileirão a torcida chegou a cantar o nome de Abel, no empate com o Santa Fe na Sul-Americana ele foi vaiado já quando apareceu no telão. O desgaste era evidente para todas as partes.
A felicidade em estar no clube que ama terminou e, assim, também a relação entre Abel Braga e Fluminense. Possivelmente o último capítulo dessa história intensa e vitoriosa, já que o treinador não pensa mais em assumir times no Brasil. Agora a missão cai nas mãos de Marcão - por enquanto. No domingo, o Flu volta a entrar em campo pelo Brasileirão, às 16h, contra o Coritiba.
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