Homenagens em letra e música: conheça canções que são reverências a Pelé
Memórias que artistas têm do 'Rei' atravessam décadas e estão registradas na música brasileira
A sucessão de homenagens a Pelé chegou também ao campo da música. Morto na última quinta-feira (29), aos 82 anos, devido à falência de múltiplos órgãos após a progressão de um câncer no cólon, o "Rei do Futebol" inspirou canções de artistas de diversas áreas e ficou marcado no repertório brasileiro.
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O LANCE! resgata alguns destes momentos musicais feitos para camisa 10, que também deixou em sua vida um legado como cantor e compositor.
REI PELÉ (1961)
Flamenguista de coração e autor de pérolas como o "Samba Rubro-Negro", "E O Juiz Apitou", "No Boteco do José" e "Acertei No Milhar", Wilson Batista fez uma triangulação luxuosíssima para homenagear o "Rei do Futebol". Ao lado de Jorge de Castro e Luiz Wanderley, ele escreveu em 1961 "Rei Pelé".
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O "cha-cha-cha" foi interpretado por Luiz Wanderley (que entrou para a história também por ser parceiro de João do Vale em "Coroné Antônio Bento") e detalhava a maneira como Pelé já encantava o mundo e despertava a vontade dos torcedores verem ele de perto. E olha que o "Rei" ainda não tinha conquistado sequer o bicampeonato mundial com a Seleção Brasileira.
REI PELÉ - de Wilson Baptista, Luiz Wanderley e Jorge de Castro
Mamãe, me leve no Maracanã
Numa tarde linda de sol
Quero ver, eu quero ver
Um rei jogar futebol
Ô, Rei Pelé
Vamos tomar café
Rei Pelé
Vamos tomar café
Rei Pelé que brilhou na Suécia
Rei Pelé fez sucesso no Uruguai
Rei Pelé mora em Vila Belmiro
Rei Pelé do Brasil não sai
Ô, Rei Pelé
Vamos tomar café
Rei Pelé
Vamos tomar café...
O HOMEM DE TRÊS CORAÇÕES (1962)
No ano seguinte, um conterrâneo de Pelé decidiu homenageá-lo. Nascido também em Minas Gerais, Noite Ilustrada (pseudônimo dado a Mário de Souza Marques Filho pelo humorista Zé Trindade) também chegou a tentar a sorte como jogador de futebol. Porém, enveredou pelo caminho da música e fez sucesso como cantor, interpretando sambas como "Volta Por Cima", "Ai, Que Saudades da Amélia" e "Laranja Madura".
Em 1962, o artista decidiu homenagear o seu conterrâneo com uma música que traz um "quê" de nostalgia da cidade que ficou para trás.
O HOMEM DE TRÊS CORAÇÕES - de Noite Ilustrada
Em uma cidade pequena
Do meu estado também
Sereno, calmo, manhoso
Ordeiro como ninguém
Nasceu Pelé
Nasceu Pelé...
A maravilha negra
De um mundo novo
Rei de um grande povo
Amante do futebol
Num estádio qualquer
Todos gritavam de pé
Vai, Pelé!
Vai, Pelé!
Ele, com humildade
Sombrio e sem vaidade
Dominava a bola no peito e no pé
Olhava um companheiro deslocado
Não dava passe, que não fosse acertado
Ai a torcida vibrava com seu lançamento
Sentindo a emoção da partida em cada momento
Corria os noventa minutos causandlo emoções
Impondo a arte, que trouxe de Três Corações
Mas percebendo o momento o gramado deixou
E a torcida gritando com ele chorou
Na sua tristeza estava estampada alegria
Tantos anos de glória, nos gramadas que corria
O rei agora, está nos braços da família
MORENGUEIRA CONTRA 007 (1965)
Compositor da histórica marcha "Pra Frente Brasil" que embalou o tricampeonato mundial da Seleção Brasileira, Miguel Gustavo tinha uma outra faceta para lá de irreverente. Além de autor de jingles, ele escreveu sambas de breque interpretados por Moreira da Silva, como "O Rei do Gatilho", "O Último dos Moicanos" e "O Rei do Cangaço". E uma das histórias mirabolantes protagonizadas por Kid Morengueira traz Pelé em apuros às vésperas da Copa do Mundo de 1966 e tem no "elenco" a atriz Claudia Cardinale.
MORENGUEIRA CONTRA 007 - de Miguel Gustavo
Moreira da Silva contra 007!
Sexo e volência no mais espetacular filme de espionagem
Do famoso diretor americano Abelardo Chacrinha Barbosa
Com James Bond, Cláudia Cardinale
E Edson Arantes do Nascimento!
Começa o filme contra o 007
Saltando em Santos com a Cláudia Cardinale
Com seu decote italiano ela é tão bela
Que ninguém vê o James Bond junto dela
Os dois se hospedam na concentração do Santos
E, entre tantos, ninguém sabe por que é
Que ela desfila de biquíni na piscina
E na maior intimidade com o Pelé
A bonitinha não percebe a tabelinha que ele faz
Pelé controla a Cardinale
Dá-lhe um beijo
E avança mais
Gol do Brasil!
Temperamento latino é fogo...
O James Bond
Nesse instante
Dá o flagrante
Diz que Pelé
Tem que pagar pelo que fez
Entram em luta corporal e o 07
Vai abater o jogador
Com um soco inglês
Porém, Moreira
Que assistia a toda a cena
Entra sem pena
Vai no 7 e manda o pé
Rabo-de-arraia e antes que caia
Dá-lhe um coco
Apara o soco
E livra a cara do Pelé
Moreira leva James Bond para o DOPS
E na fofoca mais fofoca que eu já vi
Vem jornalista, embaixador inglês se irrita
E entra na fita todo o Itamaraty
Aí, Moreira leva a Cláudia Cardinale
Para jogar um pif-paf em Guarujá
Vão ao boliche e comem pizza lá no Brás
E cantam samba de Vinícius de Moraes
Cláudia confessa o seu amor por Morengueira
Faz a besteira de dizer que o ama com fé
Só foi a Santos com o 007
Para ajudá-lo a raptar nosso Pelé
Roubar Pelé pra não jogar contra a Inglaterra
Porque os ingleses sofrem de alucinação
E toda noite vem um fantasma de chuteiras
Fazendo gol no gol da sua seleção
E vem o time brasileiro se sagrando campeão
Termina o filme com Moreira dando um drible no espião
O James é derrotado e acabou sua missão, ão, ão...
OBRIGADO, PELÉ (1971)
Um ano depois da conquista do tricampeonato com a Seleção Brasileira, Pelé decidiu se aposentar do escrete canarinho. Miguel Gustavo foi convocado, desta vez, para escrever uma canção de agradecimento para o "Rei".
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Em 1971, foi lançada "Obrigado, Pelé". A canção inicialmente foi gravada pelo grupo MPB-4. Integrante do grupo, Miltinho contou ao LANCE! como a música chegou ao conjunto vocal (clique aqui e saiba mais). Posteriormente, Wilson Simonal também fez sua leitura.
OBRIGADO, PELÉ - de Miguel Gustavo
Todo mundo sambando com a bola no pé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé
Todo mundo sambando com a bola no pé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé
É a glória
E sempre humilde, sempre igual
Negão, tricampeão, ao natural
Lutou e só de gol fez mais de 1000
Ficou até na história do Brasil, um mil
Gol de Pelé!
Todo mundo sambando com a bola no pé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé...
Todo mundo sambando com a bola no pé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé...
Você tem o seu clube
Eu tenho o meu
Escrete, cada país
Possui o seu
Mas quando Pelé balança o marcador
Em todo mundo vibra o torcedor
De pé
Gol de Pelé!
Todo mundo sambando com a bola no pé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé
Todo mundo sambando com a bola no pé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé
Galera, a tua fera vai sair
De pé, com toda fé, toda coragem
Nos campos de todo mundo a aplaudir
Meu povo, rei Pelé pede passagem
Olé
Gol de Pelé!
Todo mundo sambando com a bola no pé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé, olé
Obrigado, Pelé...
REI PELÉ, REI LUIZ (1971)
Também no ano de 1971, foi a vez de Jair Rodrigues interpretar uma música em homenagem ao amigo Pelé. O intérprete de "Disparada" e de "Deixa Isso Pra Lá" gravou um baião que fazia uma curiosa tabela. "Rei Pelé, Rei Luiz", de Durval Vieira e Reginaldo Santos, fazia reverências ao Atleta do Século e a Luiz Gonzaga, rei do baião. Mais tarde, Joci Monteiro deixou seu registro no LP "Fofoca de Artista".
REI PELÉ, REI LUIZ - de Durval Vieira e Reginaldo Santos
Ô, ô, ô, rei Pelé e rei Luiz!
Venham ver
A comparação que eu fiz...
Ô, ô, ô, rei Pelé e rei Luiz!
Venham ver
A comparação que eu fiz...
Pelé tem raça e talento
Luiz tem talento e raça
Pelé põe bola na rede
Luiz, xaxado na praça
Pelé, jogando
Faz gol
Luiz, cantando
Faz graça
Ô, ô, ô, rei Pelé e rei Luiz!
Venham ver
A comparação que eu fiz...
Pelé defende o esporte
Luiz decanta o sertão
Pelé veste a chuteira
E Luiz veste o gibão
Pelé é o Rei do Futebol
E Luiz é o Rei do Baião
Ô, ô, ô, rei Pelé e rei Luiz!
Venham ver
A comparação que eu fiz...
Pelé tem perna de ferro
Luiz tem peito de aço
O Pelé controla a bola
E Luiz controla o baixo
Pelé é um jovem homem
E Luiz é um velho macho
Ô, ô, ô, rei Pelé e rei Luiz!
Venham ver
A comparação que eu fiz...
Ô, ô, ô, rei Pelé e rei Luiz!
Venham ver
A comparação que eu fiz...
O REI PELÉ (1974)
O "Rei do Ritmo" e um dos nomes fundamentais da história da música brasileira, Jackson do Pandeiro. também incluiu no seu repertório uma homenagem ao eterno camisa 10. Em 1974, o intérprete de "Um a Um" lançou o rojão (estilo musical de ritmo acelerado que narra a história do autor ou de uma pessoa) "O Rei Pelé". À época, o craque havia saído do Santos. A música é feita por Jackson do Pandeiro e Sebastião Silva.
O REI PELÉ - de Jackson do Pandeiro e Sebastião Silva
Quem é aquele moço com a bola no pé?
(É o Rei Pelé!)
Eu perguntei quem é o moço com a bola no pé?
(É o Rei Pelé!)
A bola lhe deu dinheiro,
Lhe deu nome, lhe deu fama,
A bola lhe colocou
Entre os maiores dos homens
Quem é o moço com a bola no pé?
(É o Rei Pelé!)
Sim, mas quem é aquele moço com a bola no pé?
(É o Rei Pelé!)
Ele tem um drible certo
E tem um tiro certeiro.
Com ele não tem defesa
Pra ele não tem goleiro
É tricampeão do mundo
É o rei dos artilheiros.
Quem é o moço com a bola no pé?
(É o Rei Pelé!)
Olha, quem é aquele moço com a bola no pé?
(É o Rei Pelé!)
TWO NAIRA FIFTY KOBO (1977)
No mesmo disco no qual lançou músicas como "Odara" e "Gente", Caetano Veloso fez pela primeira vez em seu cancioneiro uma citação a Pelé. O LP "Bicho", de 1977, traz uma citação ao "Rei" nos versos da curiosa "Two Naira Fifty Kobo".
TWO NAIRA FIFTY KOBO - de Caetano Veloso
No meu coração da mata gritou Pelé, Pelé
Faz força com o pé na África
O certo é ser gente linda
E dançar, dançar, dançar
O certo é fazendo música
A força vem dessa pedra que canta Itapoã
Fala tupi, fala iorubá
É lindo vê-lo bailando ele é tão pierrô, pierrô
Ali no meio da rua, lá
No meu coração da mata gritou Pelé, Pelé
Faz força com o pé na África
O certo é ser gente linda e dançar, dançar, dançar
O certo é fazendo música
A força vem dessa pedra que canta Itapoã
Fala tupi, fala iorubá
É lindo vê-lo bailando ele é tão pierrô, pierrô
Ali no meio da rua, lá...
LOVE, LOVE, LOVE (1978)
O impacto com a despedida definitiva de Pelé dos gramados rendeu música de Caetano Veloso um ano depois. Uma das faixas do LP "Muito" foi batizada com as palavras mais emocionantes do discurso de adeus do "Rei" no gramado do New York Cosmos: "Love, Love, Love". O disco ainda traz as canções "Terra", "Muito Romântico" e "Sampa".
LOVE, LOVE, LOVE - de Caetano Veloso
Eu canto no ritmo, não tenho outro vício
Se o mundo é um lixo, eu não sou
Eu sou bonitinho, com muito carinho
É o que diz minha voz de cantor
Por nosso Senhor
Meu amor, te amo
Pelo mundo inteiro
Eu chamo
Essa chama que move
Pelé disse
Love, love, love
Absurdo
O Brasil pode ser um absurdo
Até aí, tudo bem, nada mal
Pode ser um absurdo
Mas ele não é surdo
O Brasil tem ouvido musical
Que não é normal
Meu amor, te quero
Pelo mundo inteiro eu espero
A visão que comove
Pelé disse
Love, love, love...
Na maré da utopia
Banhar todo dia
A beleza do corpo convém
Olha o pulo da jia
Não tendo utopia
Não pia a beleza também
Digo prá ninguém
Meu amor, desejo
Pelo mundo inteiro
Eu vejo
Que não tem quem prove
Pelé disse
Love, love, love
Na densa floresta feliz prolifera
A linhagem da fera feroz
Ciclones de estrelas
Desenham-se
Livres e fortes diante de nós
E eu com minha voz
Meu amor, preciso
Pelo mundo inteiro aviso
Olha o noventa e nove
Pelé disse
Love, love, love...
PIVETE (1978)
O ano de 1978 expõe a dimensão de Pelé para o futebol brasileiro. Craques da música, Chico Buarque e Francis Hime escreveram a música "Pivete", na qual o personagem-título tinha como uma de suas referências Pelé (a outra ligada a futebol era Mané Garrincha). Ao regravá-la em 1993 para o disco "Paratodos", Chico alterou o piloto de Fórmula 1: a menção a Emerson Fittipaldi deu lugar a Ayrton Senna.
PIVETE - de Chico Buarque e Francis Hime
No sinal fechado
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Meio se maloca
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança para-lama
Já era para-choque
Agora ele se chama
Emersão
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção
No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas...
E POR FALAR NO REI PELÉ?! (1978)
Também em 1978, o Atleta do Século apareceu de outra maneira na música brasileira. No LP "Recado", Gonzaguinha o mencionou no título da música "E Por Falar no Rei Pelé?!". A letra traz referências futebolísticas para saudar a luta do povo em sua dia a dia. Luiz Gonzaga Júnior ainda tem em seu disco a música "O Que Foi Feito Devera".
E POR FALAR NO REI PELÉ?! - de Gonzaguinha
Craque mesmo é o povo brasileiro
Corre em campo
Se esforça o tempo inteiro
Vira pra ponta
E centra e cabeceia
E ele mesmo é o goleiro que escanteia
E o gandula que apanha no fosso a pelota
E a galera que a equipe incendeia
Craque mesmo é o povo brasileiro
carregando esse time de terceira divisão
nesse jogo sem gol, mas que emoção,
couro cru também é um mata fome!
Sempre um bamba se esquece
E a bola come
Sempre um morre
É fatal a indigestão
Craque mesmo é o povo brasileiro
Com os homens em cima na marcação
Transformando a partida em pedreira
Uma rinha sem gol, mas que emoção
Na redonda ele se atira qual leão
Tá pensando
Que é um prato cheio de feijão
E não é não!
TEMPO BOM, FAZ TEMPO (1980)
A Mussum não bastou contracenar com Pelé em "Os Trapalhões e o Rei do Futebol". Também músico e ex-integrante dos Originais do Samba, ele lançou um disco solo que incluía a faixa "Tempo Bom (Faz Tempo)", na qual trazia uma nostalgia do tempo no qual o craque era o camisa 10 canarinho. A música é de Bidi.
TEMPO BOM (FAZ TEMPO) - de Bidi
Meu cumpadi
A malandragem tá nisso
O dia que todos os tristes quiserem ir juntos
Toda tristeza vai se acabar
Quem espera tempo bom, é sertanejo
Tem tanta coisa que eu gosto
Mas faz tempo que não vejo
Gasolina no carrão, faz tempo
Um chuchu com camarão, faz tempo
Fogareiro à carvão, faz tempo
Uma nota de um barão, faz tempo
É, faz tempo que o tempo
Não dá um tempo
Carne seca com feijão, faz tempo
Um Pelé para seleção, faz tempo
Chuva boa no sertão, faz tempo
Um abraço no João, faz tempo
É, faz tempo que o tempo
Não dá um tempo
O meu time campeão, faz tempo
Um amor no coração, faz tempo
Solução pra "inflaçãozis" , faz tempo
Para os índios proteção, faz tempo
É, faz tempo que o tempo
Não dá um tempo
É, faz tempo que o tempo
Não dá um tempo
Um ricaço na prisão
Minha luz de lampião
E o dinheiro do povão
Minha casa à prestação
O FUTEBOL (1989)
Em seu LP de 1989, Chico Buarque dissertou sobre a essência do futebol brasileiro. E ela passa pelos pés de Pelé. Em "O Futebol", o início traz o momento de humildade, mas a canção termina com uma linha de passe que reúne o "Rei" com ídolos do quilate de Mané, Didi, Pagão e Canhoteiro. O disco ainda traz as faixas "Morro Dois Irmãos", "Tanta Saudade", "Baticum" e "Valsa Brasileira".
O FUTEBOL - de Chico Buarque
Para estufar esse filó
Como eu sonhei
Só
Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual ao jogador
Qual compositor
Para aplicar uma firula exata, que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nêga
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca
Parafusar algum João
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível
Minha nêga
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha
Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um senhor chapéu
Para delírio das gerais no coliseu
Mas que rei sou eu
Para anular a natural catimba do cantor
Paralisando esta canção capenga, nêga
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da ideia quando ginga, a-ia-ia
Para Mané
Para Didi, para Mané
Quando é para Didi, para Mané
Para Didi, para Pagão
Para Pelé e Canhoteiro
O NOME DO REI É PELÉ (2004)
Responsável por uma sucessão de canções sobre futebol ("Goleiro", "Zagueiro", "Umbabaraumba, Ponta de Lança Africano", "Camisa 10 da Gávea", "Fio Maravilha" e "Cadê o Pênalti?"), Jorge Benjor estendeu sua lista ao Atleta do Século. Em 2004, o cantor gravou "O Nome do Rei É Pelé", na qual se empenhou em contar toda a história do camisa 10 em faixa do álbum "Reactivus Amor Est (Turba Philosophorum)". O disco traz as faixas "Mexe Mexe", "Tupinambás" e "O Rei e a Rosa Cruz".
O NOME DO REI É PELÉ - de Jorge Benjor
Dondinho e Celeste idealizaram
E fizeram o rei chamado Pelé
O nome do rei é Pelé
O nome do rei é Pelé
Pelé de todos os tempos
Incomparável Pelé, Pelé
Pelé da arte e da magia
Com a bola nos pés, Pelé
Menino de três corações, Bauru, Vila Belmiro
Seguindo o seu futuro e seu destino
Com 21 anos de carreira
Veio, viu e venceu
Jogou 1375 partidas
Fazendo a rede balançar constantemente
Por dez anos seguidos
Foi o artilheiro do campeonato paulista
Participou de 50 campeonatos no Brasil e no exterior
Com a realeza de fazer 1281 gols lindos
De cabeça, de virada, de balãozinho, de bate pronto
De bicicleta, de carrinho, de letra
De peito, de peixinho, de falta, de pênalti e nos incríveis gols de placa
E no bendito milésimo gol
Viva, viva o Atleta do Século
Salve a mágica
A mágica da mágica camisa 10 de Pelé
O nome do Rei é Pelé, o nome do Rei é Pelé
Pelé de todos os tempos
Incomparável Pelé, Pelé
Pelé da arte e da magia
Com a bola nos pés, Pelé
O nome do Rei Pelé, o nome do Rei Pelé...
LINHAS DE PRAZER (2010)
No álbum "Contra-Ataque - Samba e Futebol", Carlinhos Vergueiro colocou em campo Pelé em uma lembrança que encheu muitos corações. A faixa "Linhas de Prazer", que recorda ataques de diversas épocas, traz o camisa 10 nas consagradíssimas linhas ofensivas do Santos e da Seleção Brasileira. Além de sambas como "Torresmo À Milanesa" e "Monalisa", o cantor dedica canções a outros craques, nas músicas "Zico", "Romário" e "Raí",
LINHAS DE PRAZER - de Carlinhos Vergueiro
Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe
Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagalllo
Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro
Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Rivellino
Linhas de prazer
Linhas de poesia
Linhas plenas de magia
Minhas ilusões
Minhas vibrações
Minhas recordações
PELÉ (2018)
Em 2018, o "Rei" voltou a dar música. Os irmãos Paulo Tatit e Zé Tatit escreveram "Pelé" e a destinaram para o projeto infantil Palavra Cantada, que tem Paulo e Sandra Peres. Com isso, as crianças puderam conhecer um pouco mais da história do principal jogador do futebol brasileiro.
PELÉ - de Paulo e Zé Tatit
Você aí que diz que sabe tudo de bola
Que é craque até em jogo de botão
O que eu vou te contar
Não se aprende na escola
São coisas de uma outra dimensão
Aconteceu no tempo em que seu pai
Ainda era um garotão
E o futebol passava só no rádio
Nem tinha televisão
Era um moleque negro
Que brilhava nos campos
Tão pobres lá de Três Corações
Foi contratado pra jogar no time dos Santos
E convocado pra Seleção
Com 17 anos era um craque
Como nunca ninguém viu
E o mundo inteiro descobriu o Brasil
Ele é, ele é, ele é
O nosso rei da bola, o rei Pelé
Ele é, ele é, ele é
O rei de toda a Terra
Que conquistou a coroa
Pelo toque de seu pé
Quando ele entrava no campo
O outro time tremia
Só de ver o rei se aquecer
Por que nesse momento
Todo mundo sabia
Que com ele era pra valer
Tinha goleiro que até rezava
Para ele não se aproximar
Tinha zagueiro mau que quando entrava
Era pra machucar
Nenhum grandão inglês
Nem cabra pernambucano
Ninguém intimidou nosso rei
E ainda mais se o cara fosse corintiano
Aí ele entortava de vez
Se ele decidia ir sozinho
Não dava pra segurar
Mas era generoso e dava a bola
Pr'um companheiro marcar
Ele é, ele é, ele é
O nosso rei da bola, o rei Pelé
Ele é, ele é, ele é
O rei de toda a Terra
Que conquistou a coroa
Pelo toque de seu pé
Como é que uma canção pode contar a magia
De cada toque que ele inventou
Num monte de palavras e numa só melodia
Num dá pra descrever nem um gol
E olhe agora o que eu vou te dizer
Você não vai acreditar
Porque ele marcou mil e tantos gols
E foram todos de arrasar
E pra comemorar ele saia correndo
Com todo time dele atrás
No auge da alegria ele vibrava pulando
No alto dava um soco no ar
Um soco da glória da vitória
De quem sabia ganhar
E pra ganhar tem que saber perder
Para poder se superar
Ele é, ele é, ele é
O nosso rei da bola, o rei Pelé
Ele é, ele é, ele é
O rei de toda a Terra
Que conquistou a coroa
Pelo toque de seu pé...
O HOMEM DOS TRÊS CORAÇÕES (2020)
A voz de Alcione entoou a mais recente homenagem em letra e música para Pelé. Lançada em 2020, "O Homem dos Três Corações" traça paralelos entre música, balé e futebol para contar a consagração do "Rei". A faixa foi lançada pela "Marrom" (que já é consagrada por músicas como "Sufoco", "Meu Ébano" e "Gostoso Veneno") em "Tijolo Por Tijolo".
Um dos autores da canção, Altay Veloso contou ao LANCE! o que o inspirou a compor esta música ao lado de Paulo César Feital (autor de "Saigon").
- A gente é muito ligado ao futebol. Assim como já houve homenagens a atletas anteriormente, achamos justo que Pelé recebesse esta reverência, principalmente por meio da voz da Alcione - e acrescentou:
- Também quis homenagear outros jogadores. Fui muito amigo do Zizinho, que era ídolo do Pelé, e achei justo citá-lo, por isso falei com o Feital.
Altay, que fez sucesso com "Encontro Marcado" e "Entra E Sai De Amor" e teve suas músicas gravadas por Leny Andrade, Zizi Possi, Elba Ramalho, Nana Caymmi, Emílio Santiago e Roberto Carlos, destacou a magnitude de Pelé.
- Trata-se de um atleta que encanta o planeta. É uma entidade, uma divindade espiritual. Não há ninguém que se assemelhe a ele. As lembranças dele na Copa de 1970 são muito emblemáticas para mim e para todos os que acompanharam - afirmou.
O HOMEM DOS TRÊS CORAÇÕES - de Altay Veloso e Paulo César Feital
É, já quase findando o tempo regulamentar
Respirando fundo, enchendo o peito de ar
Trincando os dentes, partiu com a bola em viés
Um drible da vaca, na dor da ilusão no revés
Os deuses ao verem Arantes improvisar
Assim como fazem artistas de jazz
Que rompem as regras
Que nem Holiday no piano bar
Perguntaram quem é esse homem
De Três Corações a dançar
Barishnikov com duas chuteiras nos pés
A arquibancada gritou é um astro tupiniquim
Da constelação de Zizinho, Niemeyer e Jobim
Estrela que nem Luiz Gonzaga
Que nem Pixinguinha
E que nem Portinari, que nem Radamés
Dando um lençol no zagueiro
Menino sem pestanejar
Partiu com a bola no peito e parou no ar
E a nega formosa e ardente
Desceu pelo corpo do seu grande amor
Depois de assanhada e dengosa
Beijar seus pés
Então saciada
No fundo da rede adormeceu
De gozo e fé
A sonhar com Deus Pelé
Não faltaram maneiras de contar a história de Pelé também na safra musical brasileira.