Complicações das drogas e ‘coração de boi’: cardiologista explica causa da morte de Maradona
Com vida desregrada e luta contra as drogas, ídolo argentino, que morreu aos 60 anos, sofria com desgastes no coração: 'Não tinha força para bombear sangue com eficiência'
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O mundo do esporte parou para homenagear o eterno camisa 10 da Argentina Diego Maradona, que morreu nesta quarta-feira. Pouco depois de completar 60 anos, o craque foi vítima de uma parada cardiorrespiratória, em Tigre, cidade próxima à Buenos Aires. Tendo driblado muito mais que adversário em campo, Maradona vinha superando uma luta contra problemas no coração e a superação contra as drogas.
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De acordo com as informações do laudo da necropsia, Maradona morreu por insuficiência cardíaca aguda. O LANCE! conversou com o especialista no assunto e cardiologista Nabil Ghorayeb, médico do esporte do Hospital do Coração, em São Paulo, que revelou mais detalhes sobre a doença que vinha acompanhando o astro do futebol.
- A gente chama de edema agudo de pulmão, quando o coração não consegue bombear o sangue para a circulação de forma eficiente. O sangue se acumula no pulmão. É uma complicação final de uma doença grave chamada insuficiência cardíaca, uma doença que ele já tinha há anos. O coração dele não tinha força para bombear sangue com eficiência para o corpo - explica o especialista.
'O coração dele não tinha força para bombear sangue com eficiência para o corpo'
A vida de Diego dentro dos gramados sempre rendeu elogios por seus dribles e sua genialidade em campo. Contudo, fora das quatro linhas, o ex-atleta não mantinha uma vida das mais regras. Por conta da fama, Maradona nunca escondeu seus problemas com vícios em substâncias químicas. Para o médico, a vida indisciplinada foi a grande causa do problema cardíaco.
- O que sabe é que ele tinha uma dependência química muito grande de drogas lícitas e ilícitas, como cocaína e álcool, pelo o que se lê na imprensa. Isso provocou uma miocardiopatia dilatada, quando o músculo do coração perde a força e aumenta de tamanho. Então ele fica com o coração grande, um "coração de boi", e perde a força. É uma situação que se pensa em transplante cardíaco, o que geralmente não se usa em caso de dependentes químicos.
O especialista afirma que as drogas podem afetar o corpo humano de diversas maneiras, dependendo do conteúdo utilizado. Para um esportista, é evidente que as substâncias podem afetar diretamente a atuação em campo. Contudo, no caso de Maradona, pelo uso de drogas ilícitas, como cocaína, o risco cardíaco era maior.
Nabil ainda ressalta que a abstinência é uma dependência de ordem psicológica e química e que, por isso, podemos afirmar que o corpo humano possui dificuldade em parar. Os efeitos que podem levar à abstinência são parecidas com as da overdose: arritmia, mal estar. Por ser um cardiopata, as complicações do não uso podem sim ter afetado a ausência de substâncias tão poderosas.
Na Copa do Mundo de 1994, o argentino chegou a ser flagrado em um teste antidoping, que verificou uma substância ilegal em seus sangue, em um momento marcante que acabou sendo seu capítulo final como jogador da seleção nacional.
Quando pendurou as chuteiras, Maradona também viveu problemas com seu peso e sempre teve no coração seu ponto fraco. O especialista do Hospital do Coração lembra que, independente da substância ingerida ou utilizada pelo ex-jogador, que era fã de charutos cubanos e não negava seu vício em cocaína, de alguma maneira elas afetaram, inclusive, seu rendimento dentro dos estádios.
- Qualquer droga, como cocaína, maconha, ou as lícitas, como energéticos e anabolizantes, pode modificar a performance do atleta, variando pela quantidade, tipo de substância. Por exemplo, o anabolizante não é proibido, é um remédio. Só que, se usado em ciclo de dois meses, pode levar ao deterioramento do músculo cardíaco, aumento da pressão, entre outras lesões pelo organismo.
Maradona chegou a ficar internado por alguns dias pouco antes de falecer e teve que passar por uma cirurgia na cabeça por uma dificuldade na pressão sanguínea. Embora o laudo médico não tenha explicado ao fundo o motivo da internação e poucas notícias tenham revelado o que houve com o craque, Maradona se recuperou e voltou para casa. Para o médico, ainda não é possível identificar como a preocupação com o cérebro tenha afetado nas dores no coração.
- Não se sabe bem o que aconteceu (nesta última cirurgia no cérebro de Maradona). Ele tinha um hematoma na cabeça. Pode ser um trauma? Bateu? Foi um rompimento de um aneurisma? Não sabemos direito. O que se supõe, não era algo muito grave, porque ele estava acordado, foi decidido a data e hora, não foi uma emergência... Não tem como saber se levou à outros riscos. Ele tinha um problema cardiológico crônico. Então não foi um infarto, mas uma deficiência cardíaca.
Nesta quinta-feira, a Argentina segue de luto oficial e contou com aglomerações durante a pandemia de Covid-19 para se despedir do corpo de Maradona, que foi velado na Casa Rosada, sede do governo federal argentino.
*sob supervisão de Tadeu Rocha
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