Dos campos aos games: Bangu investe nos e-Sports, visa modernizar marca e mantém raízes de inclusão social
Em entrevista ao LANCE!, idealizadores do projeto contam como surgiu o modelo, suas inspirações e o cuidado para manter as raízes do clube e da comunidade do bairro
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O Bangu lutou por negros, por pobres e por todas as minorias, tornando-se um clube percursor desde o início de sua linda história. Hoje, o clube busca se modernizar e aposta em mais uma porta de entrada para a atualidade: os e-sports.
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Em parceria com a equipe Divine, o clube lançou sua primeira equipe de e-sports para o Fifa, o maior jogo de futebol no mundo. Mas claro, sem esquecer suas raízes. Tudo começou com uma seletiva promovida no shopping de Bangu para aproximar a comunidade do projeto e captar jogadores para formar a equipe. Foi aí que tudo começou. Olhar para frente, mas sem esquecer do seu povo. Como sempre foi.
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o diretor de marketing Daniel Tavares e os idealizadores Ramon Teles e Vitor Hugo Menezes explicaram como foi o pontapé inicial para levar o Bangu ao mundo dos jogos eletrônicos. Daniel explica que a ideia surgiu como uma forma de modernizar a imagem centenária do clube para se aproximar do público jovem.
- O objetivo principal de montar uma line de e-Sports para o Bangu era reaproximar a marca, que já é muito conhecida e centenária, com o público jovem dentro de um cenário que está crescendo. Nossa missão era essa. Aí óbvio que também é entrar em um cenário gamer, onde também grandes clubes como o Corinthians e o Santos estão tomando essa ponta de entrar no cenário de e-sports. O Bangu, por ser pioneiro em tantas coisas como ser o primeiro clube a ter patrocínio no Brasil, também aderiu. Essa é a nossa intenção. Manter o clube atualizado, moderno e pioneiro -, afirmou.
Vitor Hugo explicou que a ideia não surgiu do zero. Ele e Daniel se conheceram, conversaram sobre a ideia e a Divine, equipe de Vitor e Ramon, tornou-se Bangu e-sports. O Fifa foi o primeiro jogo representado pela equipe, mas o projeto deu tão certo de forma tão rápida, que as outras plataformas como League of Legends e Free Fire foram alcançadas.
- O projeto não foi iniciado do zero. Eu e o Ramon já tínhamos um time, que era o DIVINE, junto com o Gustavo, que por conta do trabalho não conseguiu continuar com a gente. Por coincidência do destino, eu e o Daniel nos conhecemos e ele apresentou o projeto, incluímos o nosso projeto dentro do Bangu e estamos conseguindo levá-lo no que está se construindo. A ideia era só o Fifa, mas a gente viu que a gente conseguiria fazer mais do que Fifa com o que a gente está conseguindo montar. Cada coisa no seu lugar. Conseguimos estabilizar o Fifa e já fomos campeões. Em menos de três meses, perdemos uma final em uma federação para um grande time do ProClubs. Lançamos o Free Fire, estamos lançando o LOL, o CS e o Overwatch -, contou.
Manter as raízes e se aproximar do público da comunidade com inclusão social
O diretor de marketing do Bangu falou sobre a importância de aproximar o projeto com a comunidade do tradicional bairro carioca, mostrando que o clube está de portas abertas para revelar novos jogadores e, sim, dar a oportunidade de uma vida melhor em termos financeiros para jovens gamers.
- Quando a gente pensou em montar a primeira line de e-sports do Bangu, a primeira ideia que nós tivemos foi de montar a line e apresentar para a comunidade de Bangu. Óbvio, que quando você faz uma ação que a tem a internet como pano de fundo, é óbvio que nós trouxemos atletas e pessoas interessadas na seletiva que vieram de Niterói, mas como o evento foi presencial no Bangu Shopping durante 10 dias, nós tivemos um volume absurdo de pessoas que moram aqui na região.
A relação de inclusão social ainda é muito pouco visada, porque hoje ser atleta profissional na área de games é uma coisa que muitas pessoas não acreditam. Muitos se perguntam: "Então quer dizer que eu que jogo 8 horas, 10 horas em casa posso ganhar dinheiro com isso?". Galera, pode. É isso que a gente mostrou um pouco aqui para o pessoal da região de Bangu. O Bangu está de portas abertas. Se você tem talento e já faz isso durante horas em casa, vem ser nosso atleta, vem trabalhar com a gente que pode sim ganhar dinheiro e virar uma profissão. É a nossa missão trazer a garotada da região de Bangu, Campo Grande, que é um dos maiores bairros do Rio de Janeiro, para ser atleta de e-sports -, explicou.
Pioneirismo dentro de campo e nos jogos
E se o Bangu foi pioneiro dentro de campo, ele precisa ser nos games também. Está no sangue do clube. Por isso, a equipe se tornou a primeira a ter uma line exclusivamente feminina no Free Fire, que são treinadas por mulheres, inclusive com a presença de uma jogadora LGBT. A intenção é, com calma, desenvolver um projeto vencedor.
- Óbvio que a gente têm as referências, que são as referências dos clubes que deram certo, que estão no projeto que está se fazendo de maneira madura. O Flamengo começa o projeto de e-sports específico no LOL (League of Legends) há dois, três anos e agora recentemente se estruturaram um pouco mais e partiram para outras modalidades também. A nossa estrutura começa com o Fifa, e com um tempo menor, já estamos ingressando em outras plataformas como o Rainbox Six, o próprio LOL e o Free Fire. No Free Fire, o Bangu, mais uma vez pioneiro, ele passa a ser o primeiro clube de futebol a ter uma line totalmente feminina. Então, no Free Fire, a gente tem uma equipe montada só por meninas e treinadas por meninas. Isso tudo buscando ser pioneiro, mas óbvio que trazendo as referências de quem está fazendo da maneira correta. Vale lembrar também que no Free Fire, nós temos um participante LGBT na line feminina. Nós temos três lines no Free Fire, separados por Mobile e Emulador. Um mobile masculino e feminino, além do emulador e misto. -, afirmou.
Os e-sports ainda carregam uma certa rejeição do grande público, muito por falta de conhecimento sobre a profissionalização daquilo que muitos enxergam como apenas uma brincadeira. Com o preconceito, vem a obrigação de difundir a ideia de como os e-sports podem proporcionar uma vida aos jogadores, e não uma perda de tempo como muitos acham.
E-Sports são para todos, sem exceções
Os idealizadores explicam que, sim, a rejeição foi encontrada por parte do projeto, mas explicam como isso pode sim se tornar uma profissão para jovens jogadores e até mesmo adultos.
- Óbvio que a gente teve alguma rejeição da galera que é um pouco mais velha, que é mais tradicionalista. Mas em termos gerais, por nós termos feito uma seletiva no Bangu Shopping em novembro de 2019 para aproximar a comunidade e os torcedores para que eles possam participar e serem atletas dessa equipe, foi uma maneira que a gente encontrou que gerou um respaldo muito positivo para gente. A aderência e a galera está comprando muito mais a ideia atualmente, tanto que as nossas redes sociais do Bangu e-sports cresceu mais de 300% em um mês e meio -, afirmou Daniel.
- Ao invés de levar isso só como uma brincadeira, hoje em dia você pode levar como uma profissão. Ao invés da sua mãe ficar brigando com você para sair do vídeo-game, você fazer com que isso seja rentável até que ela brigue com você para não sair do vídeo-game (risos). Faça isso ser rentável para você -, contou Vitor.
- É claro que a área em si é uma área jovem, mas tem muita gente adulta que atua e atua já sustentando sua família, seus filhos somente com o e-sports. É uma maneira geral de ganhar dinheiro. A gente visa a área mais jovem, mas é para todo mundo -, afirmou Ramon.
As dificuldades do dia a dia com a falta de investimento
Mesmo com o crescimento meteórico das competições de jogos eletrônicos no Brasil e no mundo, os idealizadores revelam que o esporte ainda sofre com a falta de investidores, que não enxergam a rentabilidade e a visibilidade que as modalidades oferecem.
- É como se fosse uma empresa normal, mas ainda sem remuneração ainda. Sem fins lucrativos porque não temos investimento. A gente consegue chegar em patamares que hoje em dia é praticamente impossível se você chegar com um grupo de amigos, mas você tendo uma estrutura toda te dando este suporte, você consegue chegar. A gente está no Campeonato Brasileiro da CPN e a gente conseguiu chegar porque a gente teve organização, todo mundo trabalhando, se ajudando, montando o projeto e levando. Todos juntos. Se você deixar uma pontinha para lá, tudo desanda. Cada um faz sua função. O projeto funciona com cada diretor em sua função, trocando informações e trabalhando em cima do marketing, que é a força do Bangu, implementando isso nos idosos para que eles entendam que isso não é mais uma coisa de brincadeira, um passatempo.
Eu brinco com o Daniel que a gente vai colocar o nome do Bangu no mundial, com 10 milhões de pessoas assistindo a live do Fifa, com o nosso atleta com a camisa do Bangu representando o Bangu. O Bangu vai ser conhecido internacionalmente mais ainda por conta do jogo. Tem a força, tem o nome, mas aquela proporção que chega, que infelizmente a gente não consegue no futebol, só no e-sports vai conseguir hoje em dia. Aqui, no Brasil, ainda falta muito incentivo no e-sports. Se a gente tivesse metade dos incentivos que tem lá fora, com certeza o Brasil ia ser uma potência como é no futebol -, finalizou.
* Estagiário, sob supervisão de Tadeu Rocha
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