Falcão escreve carta sobre a queda de 1982: ‘Ser lembrado sem ter ganhado’
Ex-camisa 15 da Seleção Brasileira redigiu uma mensagem aos torcedores em relação ao revés histórico para a Itália, na Copa da Espanha. Aos 66 anos, ele se sente campeão<br>
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A convite do LANCE!, o ex-atleta e treinador Paulo Roberto Falcão revelou os seus sentimentos sobre a histórica campanha da Seleção Brasileira de 1982. O elenco de Telê Santana, que é elogiado por Pep Guardiola e serviu de inspiração para diversos apaixonados por futebol pelo mundo, foi recordado por Falcão. Este conteúdo foi publicado inicialmente em 11/04/2020.
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Ídolo de Internacional e Roma lembrou a marcante derrota para a Itália, por 3 a 2, jogo que eliminou o Brasil e aquela inesquecível geração no Mundial, na Espanha, em 1982. Leia, na íntegra, as palavras do ex-camisa 15 sobre a partida histórica, o grupo e a comoção com a queda no texto exclusivo "1982: 'Não tenho como ficar triste'”.
"O esporte precisa causar emoção. O torcedor tem de se sentar numa poltrona ou numa arquibancada e sentir-se tocado com o que vê em campo ou em quadra. Por isso, os times devem ter performance e jogar bem.
Muitas equipes que vencem não emocionam a torcida. Independentemente se ganha ou não, um time entra para a história quando se torna marcante. Mil novecentos e oitenta e dois é isso: uma Seleção que emocionou.
A reprise dos jogos da Copa da Espanha só está acontecendo no 'SporTV' (em 2020) por esse motivo: aquele time mexeu com as pessoas. É importante construir um time que ganhe, mas que entre para a história por ter jogado bem. Do contrário, torna-se apenas um dado estatístico.
Não me lembro de outra Seleção Brasileira que tenha perdido e ainda assim seja tão reverenciada como a de 1982. Penso que foi o destino. Entramos classificados contra a Itália. Eles fizeram um gol no início do jogo e nós empatamos em seguida.
Ninguém errava naquele time; valorizávamos o coletivo. Quando Cerezo recebeu do Waldir Peres, a bola passou rápida por mim e acabou mais próxima do Júnior e do Rossi. Era o 2 a 1 da Itália. Não falamos nada; não vimos erro do Cerezo. Aquilo foi uma dividida, e Paolo Rossi teve mais sorte.
Quando empatei, já no segundo tempo, foi uma emoção indescritível. Na pior das hipóteses, o jogo terminaria 2 a 2 e nós estaríamos na semifinal. Meu gol era o da classificação. Tão marcante quanto aquele gol foi nossa vibração.
Quando o Júnior me deu a bola, dominei e pensei em tocar para o Cerezo, que passava. Três jogadores da Itália foram atrás dele. A jogada se transformou num drible e eu chutei. Nunca tive aquela força com a canhota. Brinco dizendo que o Brasil chutou comigo aquela bola.
Ao contrário do que muita gente ainda pensa, tínhamos, sim, poder de marcação. Em cinco jogos, marcamos 15 gols e levamos cinco. Estávamos sempre próximos um do outro; o time era compacto.
Nas laterais, contávamos com dois craques que poderiam jogar no meio-campo, tamanha a técnica que possuíam. Quando o time atacava, Oscar e Luizinho ficavam. Se eu, Zico e Sócrates estivéssemos marcados, Júnior e Leandro avançavam, com muita qualidade. Todos jogavam, tocavam de primeira e apertavam.
O ambiente também era ótimo, de muita responsabilidade. O time treinava demais. O som do vestiário era a música do Júnior, o 'Voa, Canarinho, voa', que virou sucesso e se transformou no nosso hino.
Das sete partidas daquela Copa, disputamos cinco; paramos na semi. Ainda assim, elegeram-me o segundo melhor jogador da competição; ganhei a Bola de Prata. Penso que o justo, mesmo, era a Seleção Brasileira ter ganho a Bola de Ouro. Afinal, há times que marcam mais pelo que fazem do que pelo que conquistam. Assim foi conosco.
'É importante construir um time que ganhe, mas que entre para a história por ter jogado bem'
Evidentemente, a derrota foi pesada. A entrevista do dia seguinte foi difícil. Tínhamos uma ótima relação com a imprensa. Lembro que alguns jornalistas choravam.
Para mim, todo esse reconhecimento mundial, até hoje, é uma grande vitória. Não tenho outra explicação para isso que não seja a emoção que causamos. Se vale mais que um título não sei, mas é gratificante sermos lembrados com tanto carinho e respeito mesmo sem termos sido campeões.
Ser lembrado sem ter ganhado. É como ter dirigido um filme há 50 anos e esse mesmo filme ainda hoje comover as pessoas. O diretor deve se sentir feliz com isso.
A Seleção Brasileira de 1982 levou alegria ao mundo e emoção à torcida. Por isso, apesar da derrota, não tenho como ficar triste. Fomos campeões. Campeões do encantamento".
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