Jornalista cobriu do Carnaval de Salvador ao Penta e agora trabalha na Florida Cup: ‘Paixão é pelo esporte’
Patricia Maldonado vive nos EUA, é figura carimbada na Bahia e apresentou programas de variedades na TV, mas ao LANCE! disse ser apaixonada mesmo pela cobertura do futebol
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Quem acompanha a cobertura do Carnaval de Salvador pela Band, certamente já viu a jornalista Patricia Maldonado apresentando a chegada dos trios elétricos no circuito Barra-Ondina, mas talvez não saiba que ela despontou na TV cobrindo esportes, mais especificamente o futebol. Depois de um tempo dedicada a alguns programas de variedades, ela hoje vive nos EUA e está de volta ao mundo esportivo, desta vez trabalhando na Florida Cup.
Em entrevista ao LANCE!, Patricia contou como começou na profissão, lembrou de sua passagem pelo SporTV e da convivência com Armando Nogueira, além da emoção na cobertura do Penta da Seleção Brasileira em 2002 e o dia a dia como mulher em um ambiente tão dominado por homens. Versátil como repórter e apresentadora, ela já fez um pouco de tudo na televisão, mas diz que nada se assemelha à paixão que sente pelo dia a dia do esporte.
- A partir do momento que eu comecei a trabalhar com esporte, a ver o dia a dia do repórter esportivo, eu me apaixonei de vez. Não tem comparação com nenhuma outra área, acho que quando você trabalha com esporte, você lida com uma emoção completamente diferente. Eu ia trabalhar em um jogo no final de semana, eu não estava nem indo trabalhar, eu pensava “eu ainda estou ganhando para fazer o que eu gosto de fazer”, era mais ou menos isso. Imagine, eu fui em Copa do Mundo e a primeira que eu cobri o Brasil foi campeão, então você imagina o que é isso para quem gosta de esporte, é uma coisa louca, eu olhava onde eu estava e pensava: “o mundo gostaria de estar aqui e eu estou aqui”, eu estava lá entrevistando o Ronaldo no dia que o Brasil foi campeão do mundo. Poxa, eu estava lá vivendo um pedaço da história do futebol - afirmou a jornalista.
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Quis o destino que o futebol voltasse para a rotina de Patricia Maldonado. Em 2015, mudou-se para Orlando, nos EUA, com seu marido e suas duas filhas, buscando uma nova vida, mas na verdade reencontrou o passado. Naquele mesmo ano aconteceu a primeira edição da Florida Cup, chamando a atenção da jornalista, que se propôs a cobrir o evento no ano seguinte para a Band.
Os laços dela com a competição se estreitaram quando conheceu e ficou amiga do presidente e do CEO da Florida Cup. Entre pitacos e conselhos em conversas informais, eles resolveram apostar no conhecimento da jornalista e a convidaram para trabalhar na comunicação do torneio, proposta que foi prontamente aceita e que construiu uma parceria que dura até hoje.
- Eles me ofereceram cuidar dessa parte do Brasil, mas a gente continua tendo um assessor para a parte internacional. Em 2017, 2018 e 2019 eu cuidei dessa área, e nos últimos anos tive ajuda de uma empresa, que veio trabalhar comigo, porque eu precisava ter uma base aí no Brasil também, porque não adiantava eu estar só aqui, precisava de muita reunião, de acompanhamento de várias coisas que eu não conseguia fazer sozinha a distância. Para mim foi maravilhoso, porque eu continuo trabalhando com o que eu gosto, reencontrando meus amigos e mais uma vez tenho aquela sensação de parecer que não estou trabalhando, de estar fazendo o que eu gosto, falando de um assunto que gosto, lidando com pessoas que conheço e que me identifico.
Em um país cujo mercado do futebol ainda é emergente, Patricia comemorou o crescimento da Florida Cup dentro e fora de campo. Para ela, os americanos estão cada vez mais interessados no "soccer" e acredita que a presença do New York City, time da MLS, possa chamar mais atenção para a competição, que ainda é acompanhada majoritariamente por latinos e brasileiros.
- Eu vi um crescimento muito grande de 2016 para cá e tenho certeza que a tendência é só aumentar, porque o interesse do americano pelo torneio tem crescido naturalmente. O esporte está ficando cada vez mais popular, além disso o fato de o Kaká ter jogado aqui em Orlando ajudou bastante. Então são vários fatores e próprio evento, por ter várias coisas, acaba tendo um chamariz legal, mas é fato que o futebol, aos poucos, tem conquistado os americanos. Neste ano nós temos uma coisa que eu acho legal, que é um time da MLS jogando, que é o New York City, então vai ajudar bastante.
Ao recordar dos amigos e das pessoas que conheceu ao longo de sua trajetória na imprensa esportiva, Patricia não deixou de citar sua maior referência na profissão: Armando Nogueira. Foi com ele, pelo SporTV, que ela cobriu sua primeira Copa do Mundo, em 2002, na Coreia do Sul e no Japão. Essa foi, para ela, a cobertura mais importante de sua carreira, também pelos ensinamentos do "mestre", os quais ela leva até os dias atuais.
- Eu tinha pouquíssimo tempo de casa, fui escolhida entre outros repórteres maravilhosos para ir, foi um pacote de coisas. Eu acho que eu destacaria o fato de eu ter a oportunidade de cobrir uma Copa do Mundo com o Armando Nogueira. Claro, eu tive coisas incríveis, como entrevistar o time que foi pentacampeão, a gente tinha os direitos, então estava todo o tempo ao lado do Ronaldo, de todos os caras que entraram para a história mesmo, mas acho que para mim, pessoalmente, como jornalista, o mais bacana foi trabalhar ao lado do Armando Nogueira, que é um dos caras mais importantes do nosso jornalismo, me ensinou muito, foi muito generoso comigo, até hoje penso nele quando gravo alguma coisa - relembrou.
Em ambiente quase todo dominado por homens, Patricia conquistou seu espaço em uma época em que ainda menos mulheres atuavam no jornalismo esportivo, principalmente no futebol. Patricia lembra que no começo os colegas desconfiavam de sua capacidade, mas logo viram que não teriam a menor chance de criticá-la no dia a dia das coberturas.
- Acho que só no começo que os repórteres homens ficavam meio com o pé atrás comigo do tipo “vamos ver se ela sabe mesmo”, “deixa eu ver se ela não está aqui porque conhece alguém”. Em toda coletiva, durante um tempo, eles falavam “deixa a Patrícia começar”, achando que eu iria perguntar qualquer coisinha, e de cara eu já perguntava o que todo mundo queria saber, mas não porque eu era um gênio, mas sim porque tinha acontecido alguma coisa ou no jogo ou no treino que todo mundo queria saber. Então eu ia direto ao ponto para fazer a pergunta mais importante, porque eu entendia do assunto.
Naquela época, Patricia era uma das poucas mulheres que participavam de transmissões esportivas e apesar de um episódio ou outro como o contado acima, ela diz que não pode reclamar do tratamento dos colegas e não lembra de ter levado uma cantada. Em sua opinião, a postura que tinha durante o serviço e o trabalho que entregava não davam espaço para essas coisas.
- Eu tive pouquíssimos episódios em que eu me senti desrespeitada por ser mulher, mas assim, quase nada, eu não posso reclamar disso não. Vários são meus amigos até hoje, todos da imprensa são meus amigos até hoje, eu posso citar 200 nomes de pessoas que trabalhavam com esporte na mesma época que eu com quem eu falo até hoje, jogadores e técnicos também, enfim, se eu fosse falar para alguma menina que queira trabalhar com isso qual o segredo para ser respeitada é entender do assunto e a se comportar com seriedade, deixar bem claro que você está lá para trabalhar e nada mais do que isso.
Patricia Maldonado fala com gosto do torneio que trata como se fosse um filho, mas em momento algum deixa escondido o prazer de ter voltado a trabalhar com o futebol, uma paixão que no começo da carreira parecia tão distante e que hoje é um pedaço da sua vida que ela não se vê sem.
- Outro dia eu estava gravando aqui em Orlando com o Marcelinho Carioca e com o Clebão, eu estava com dois caras que daqui 50 anos ainda vão falar deles, vão saber quem eram esses caras. Então eu juro, é uma coisa muito louca trabalhar com esporte. Como eu te falei, eu nunca me imaginei trabalhando com esporte e hoje eu não me imagino não trabalhando com isso. Eu saí e não saí do jornalismo esportivo. De alguma maneira continuo curtindo essa área que é tão bacana - concluiu a jornalista.
Confira outros trechos da entrevista de Patricia Maldonado:
RELAÇÃO COM O ESPORTE
Eu sempre pratiquei muito esporte, acompanhei muito esporte na TV, sou muito fã daquela época do Luciano do Valle, daquele domingo inteiro falando de esporte, mas apesar disso eu nunca fui uma pessoa focada em ser repórter esportiva especificamente. Eu queria ser repórter, trabalhar em jornal, que era meu grande sonho. Eu acho o dia a dia do jornalista do impresso muito legal e essa era a minha vontade. Eu fiz faculdade pensando nisso.
DA TV ALIANÇA PAULISTA (INTERIOR DE SÃO PAULO) PARA O SPORTV
Minhas matérias iam sempre para o Globo Esporte de São Paulo também, muitas vezes eles usavam, porque a TV Aliança Paulista é uma afiliada da TV Globo. Um belo dia, eles precisavam de uma menina para o SporTV e o José Maria de Aquino, o grande responsável pela minha carreira esportiva, me indicou. Eles me acharam, me chamaram para conversar e me fizeram uma proposta muito legal, eu falei para fazermos um teste, era um começo, me mudei para São Paulo, nem aluguei apartamento, nada, fui morar na casa da minha avó, porque eu não sabia se iria dar certo, e deu super certo, foi o máximo, foi um dos momentos mais legais da minha carreira.
PAIXÃO PELO FUTEBOL
Quando eu falo trabalhar com esporte, obviamente trabalhei com outros esportes, além do futebol. Trabalhando no SporTV você faz tudo, eu fiz muito tempo Brasil Open de tênis, fiz mundial de motovelocidade, fiz Superliga de vôlei... Enfim, cobri tudo o que você puder imaginar, o que foi muito legal também, porque eu conheci até esportes que eu não tinha tanto contato, como basquete, fiz várias transmissões, aprendi muito sobre o esporte, mas o que me pega é o futebol, o que eu tenho vontade mesmo de estar dentro, o que eu quero cada vez aprender mais, é o futebol.
PATRICIA ERA RARIDADE NO ESPORTIVO
Na época que eu era repórter esportiva de campo, vale dizer isso, porque repórter esportiva tem um monte, mas repórter que participa da transmissão do jogo, no campo, não tinha muita gente fazendo isso, hoje tem muitas, hoje tem repórter mulher em tudo quanto é lugar, graças a Deus. Mas não é mérito meu, não. Não fui eu que abri essa porteira, quando eu cheguei várias outras mulheres já tinha trabalhado arduamente para que a gente conquistasse nosso espaço. Eu acho que a gente entende tanto quanto ou mais do que eles (os homens), então vamos mostrar o nosso trabalho, mostrar o que a gente sabe, e a ideia que eu tenho olhando daqui é que a mulherada partiu para o trabalho.
BLINDADA PARA CANTADAS
Eu posso falar de boca cheia que eu nunca fui cantada por um jogador de futebol, por exemplo, e isso que todo dia, de segunda a segunda, eu estava em treino. Já ouvi uma coisinha ou outra, uma graça, se colar colou, sabe? Mas cantada mesmo tipo “quero sair com você”, eu não ouvi. Das duas uma: ou sou feia demais ou minha postura me blindava, eu quero acreditar que é a segunda opção.
CONSELHO PARA AS COLEGAS QUE LEVAVAM CANTADAS
Quando eu trabalhava e via alguma menina levar uma cantada e fazer brincadeira, achar que está tudo bem, eu falava: “não, não está tudo bem”, porque quando você faz isso, você estraga uma classe toda. Um jogador que dá uma cantada em uma repórter no campo e essa cantada é bem recebida, ele acha que é normal fazer, que não tem problema nenhum fazer a mesma coisa com as outras. Isso acaba generalizando.
PREPARAÇÃO É FUNDAMENTAL
Estar preparada para uma cobertura é uma coisa importante, quando você coloca uma jornalista que não está preparada para cobrir alguma coisa e ela não faz do jeito certo, aí aumenta o preconceito, porque alguns podem ver que ela não conseguiu fazer, pensam com preconceito e falam “olha como mulher não sabe o que está fazendo aqui”. Então isso é ruim para todo mundo.
FLORIDA CUP NO CALENDÁRIO DA FAMÍLIA
Eu sou suspeita para falar do torneio, eu estou com eles desde 2016, eu me sinto parte dele. Para mim não existe mais final de ano e começo de ano sem Florida Cup, eu nem invento viagem, nem deixo ninguém da minha família inventar, porque é uma coisa do meu calendário, eu brinco com eles que agora não tem mais como e eles têm que me aguentar, enquanto existir a Florida Cup, eu vou estar nela. Como eu disse, sou suspeita, porque eu adoro mesmo, sou parte dessa família Florida Cup, mas eu acho que qualquer um que vem para cá querendo conhecer o evento, se apaixona, não tem como, porque não é um torneio de futebol e ponto final, é muito mais do que isso.
CLUBES QUEREM PARTICIPAR DO TORNEIO
Para quem quer uma pré-temporada de excelência, não existe lugar melhor, realmente os campos de treinamento são incríveis, os hotéis são incríveis, o campo que eles jogam, o Exploria Stadium, é um dos estádios mais modernos dos EUA. Enfim, acho que não tem nada melhor olhando o que existe por aí, isso a gente escuta de todos os times que vem para cá, todos ficam impressionados com a estrutura, além de clubes que querem participar, tem muitos que mandam email querendo vir, estrangeiros também, não só brasileiros. E não existe reconhecimento maior do que isso.
FUNÇÃO DURANTE A COMPETIÇÃO
Eu cuido para que os jornalistas tenham todas as condições possíveis para trabalhar, para eles fazerem o melhor trabalho. Eu estou sempre em contato para ver se está dando tudo certo, se eles estão com todos os acessos necessários, se eles precisam que a gente faça uma ponte com algum jogador, com algum técnico, ou se estão precisando de algum equipamento, porque às vezes é uma bobeira, mas como eu moro aqui, posso ajudar. Então estou sempre de olho, sempre em contato com eles, para que o trabalho deles seja feito da melhor maneira possível, mas além disso eu prezo pela diversão deles, quero muito que eles curtam as atrações que o evento oferece.
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