‘Não cheguei nem sairei com eles’: atleta brasileiro do futsal deixado em bunker na Ucrânia fala ao L!
Gaúcho Matheus Ramires, ao retornar do banho, reparou que brasileiros não estavam mais em hotel na Ucrânia: 'Sou muito diferente deles. Alguns nem me cumprimentaram'<br>
O jogador de futsal Matheus Ramires, atleta do SkyUp, de Kiev, está há menos de um mês no país. Ele foi um dos três brasileiros que ficaram para trás na fuga de outros compatriotas da capital da Ucrânia, Kiev. Desapontado com a situação e confiante em sua saída, Matheus contou em entrevista exclusiva ao LANCE! os bastidores do episódio.
- Estamos bem. Estamos dentro do hotel e tem comida aqui ainda. Tem repórteres e a comissão italiana do Shakhtar Donetsk ainda. Ficamos surpresos com tudo, mas está tudo certo. Tudo bem. Não cheguei com eles nem sairei com eles. Deus sabe o que está fazendo. Da próxima vez que tivermos a oportunidade, vamos dar um jeito de ir embora - afirmou o atleta ao L!
"Alguns não tiveram educação nem para cumprimentar. Outros conversaram bastante. Discutimos ideia do que poderíamos fazer"
Matheus é novo na cidade de Kiev. O gaúcho foi contratado pelo clube local no começo de fevereiro e tinha pouco mais de 20 dias na região. Ele, outro compatriota da equipe, Jonatan Moreno, e um brasileiro que encontraram pelo caminho, David Abu-Gharbil, não acompanharam o grupo de atletas e familiares do Shakhtar Donetsk, que saiu neste sábado.
"SUBI PARA TOMAR BANHO E FALAR COM A MINHA FAMÍLIA"
O grupo de cerca de 30 pessoas havia seguido uma orientação do Itamaraty para buscar um trem que retiraria os brasileiros do local. O comboio nacional partiu de Kiev rumo à fronteira do país ucraniano.
- Chegamos no hotel tem umas 40 horas. Eu passei 95% do tempo dentro do bunker com eles. Os outros 5% foram que eu fui no meu quarto tomar banho, falei com a minha família e voltei - contou ele, que seguiu:
- Eu simplesmente subi para tomar um banho e falar com a minha família. Falei com meu pai, irmã e namorada. Quando voltei, eles não estavam mais aqui. A comissão italiana do Shakhtar não acreditou quando viram que eu estava aqui - explicou Matheus.
Matheus conta que evitou ir às ruas de Kiev e manteve-se sempre próximo ao grupo de compatriotas. Ele havia conversado com alguns brasileiros sobre as possibilidades de fuga do conflito. Porém, nem todos mantiveram a calma diante da guerra.
- Conversei com todos e falei com todos, tá? Alguns não tiveram educação nem para cumprimentar. Alguns poucos. Outros conversaram bastante. Discutimos ideia do que poderíamos fazer. Eu estou nos vídeos deles.
"É simplesmente inacreditável"
UEFA, FEDERAÇÃO UCRANIANA E BRASIL AJUDAM NA RETIRADA
Mesmo com o sentimento de "ter sido deixado para trás", Matheus acredita que os brasileiros tiveram seus motivos para a apressada partida. Desde quinta-feira, jogadores como Maycon, ex-Corinthians, David Neres, ex-São Paulo, e outros nomes conhecidos do futebol compartilharam vídeos no bunker pedindo socorro.
- A gente entende que eles estavam desesperados porque estavam com a família e crianças. Eu entendo e desejo a maior sorte do mundo. Sou muito diferente de vários deles. Mas no momento do desespero, tu não pode deixar de avisar. Pelo menos avisar. Não precisava ajudar em nada. Era só avisar.
- Estou eu e meu companheiro de clube, além de um brasileiro que conhecemos no caminho. Nosso presidente nos liberou para vir ao hotel. Falamos que só iríamos com o brasileiro que encontramos. Não deixaríamos um brasileiro para trás. Ele trabalha na cidade, e ajudamos com o pouco que temos. E os caras que tem tudo o que tem... É simplesmente inacreditável - desabafou o jogador.
Via rede social, atletas do Shakhtar, como Marlon Santos, e seus familiares compartilharam o drama quando o grupo saiu de carro do hotel, que fica no centro da capital, até uma estação de trem após ajuda da Uefa e do governo brasileiro.
Segundo informações que eles divulgaram, todos entraram na locomotiva e farão uma viagem até a cidade de Chernivtsi, à oeste da Ucrânia, a 535 km de Kiev, nas proximidades das fronteiras com a Romênia e a Moldávia.
ENTENDA O CASO
Desde 2014, a região de Donetsk se declarou independente da Ucrânia e, por conta dos conflitos geopolíticos, o Shakhtar teve que deixar a cidade de origem e atuar em Kiev. O mesmo acontece com a região de Luhansk.
Na última segunda-feira, Vladimir Putin, presidente da Rússia, reconheceu a independência das duas províncias. Na última quinta-feira, a Rússia decidiu invadir militarmente a Ucrânia com o argumento de que está atuando em defesa das reivindicações territoriais.
No entanto, há pouco esclarecimento se a nação de Putin busca apenas garantir a soberania de Donetsk e Luhansk ou se planeja se expandir territorialmente.