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Um mês sem Gabriela Anelli: cinco pontos que tentam explicar as investigações atualmente

Gabriela Anelli não resistiu aos ferimentos após ser atingida no pescoço por uma garrafa durante confusão entre torcedores

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Gabriela Anelli morreu em uma briga de torcedores do Flamengo e do Palmeiras (Foto: Reprodução / Redes Sociais)

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A morte de Gabriela Anelli completa um mês nesta quinta-feira (10). A torcedora do Palmeiras veio a óbito após dois dias internada por ter sido atingida por estilhaços de uma garrafa de vidro arremessada durante um confronto entre torcedores palmeirenses e flamenguistas antes do duelo entre as duas equipes pelo Campeonato Brasileiro, no dia 8 de julho.

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UM MÊS, DUAS PRISÕES

Jonathan Messias Santos da Silva, torcedor do Flamengo, está detido preventivamente desde o dia 25 de julho. Ele é o principal suspeito de ter lançado a garrafa que acertou Gabriela Anelli. Porém, inicialmente Leonardo Felipe Xavier Santiago foi preso em flagrante pela Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade). Ele foi solto depois de dois dias no CDP de Pinheiros, na Grande São Paulo, após recomendação do Ministério Público acatada pela 5ª Vara Criminal da Barra Funda.

Trinta e um dias depois do falecimento da torcedora palmeirense, ainda não há confirmação sobre quem foi o autor do crime, que responderá por homicídio doloso, com agravante por motivo fútil, já que, mesmo não tendo a intenção de atingir a vítima, houve risco assumido ao atirar o objeto durante o conflito.

PRIMEIRO SUSPEITO

O caso começou a ser investigado pela Drade, mas posteriormente passou para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que é um dos órgãos de execução da Polícia Civil em São Paulo. A solicitação para a alteração teve a anuência do Coronel Guilherme Derrite, atual Secretário de Segurança Pública do Estado.

Diferentemente das investigações conduzidas pela Drade, que apontaram a autoria do crime a Felipe Xavier Santiago, a operação montada pelo DHPP chegou até Jonathan Messias Santos da Silva.

Quando isso aconteceu, Felipe já tinha sido solto após solicitação do Ministério Público de São Paulo.

A detenção em flagrante do flamenguista foi baseada em uma suposta confissão dele pouco depois do conflito que terminou com o crime contra Gabriela Anelli. A defesa do acusado, no entanto, nega a afirmação que, segundo César Saad, que é delegado titular da Drade, Felipe Xavier Santiago teria admitido a autoria do arremesso da garrafa em um depoimento classificado como informal por Saad.

Por conta da ausência de provas concretas, o MP/SP solicitou a soltura de Felipe, que foi acatada pela juíza Marcela Sant’anna, em 12 de julho, dois dias após o torcedor do Flamengo dar entrada no CDP de Pinheiros.

Após o prosseguimento das investigações pelo DHPP, que apontaram outro suspeito, os advogados de Leonardo solicitaram a cassação das medidas cautelares impostas pela Drade.

CONDUÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES

O DHPP, então, assumiu as investigações do zero até chegar em Jonathan Messias Santos da Silva, o segundo suspeito, que segue preso preventivamente.

A investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa buscou as imagens originais de pessoas que filmaram em suas janelas e câmeras de segurança dos condomínios da rua Padre Antônio Tomaz, onde ocorreu o conflito entre torcedores do Palmeiras e do Flamengo.

Mesmo com algumas pessoas reticentes, houve contribuição com o órgão de Segurança Pública, com a cessão dos vídeos no formato em que foram gravados, para que assim não houvesse comprometimento na reprodução.

Também foram ouvidos moradores, profissionais de segurança particular e guardas civis municipais que estavam nos arredores quando a confusão entre os torcedores aconteceu.

Após as investigações feitas pela equipe do DHPP de forma presencial, houve uma condução por meios digitais. Um drone sobrevoou o local onde o crime aconteceu e também foi feita uma reconstituição virtual da região.

A parte decisiva para chegar no principal suspeito, de acordo com o Departamento, no entanto, foi a perícia. Os profissionais responsáveis utilizaram todas as imagens obtidas, sincronizaram em termos de horário e avaliaram frame a frame até o momento em que a garrafa de vidro foi arremessada, bateu no portão do tapume de acrílico que dividia o setor das duas torcidas e estourou, tendo os estilhaços atingido Gabriela Anelli. A confirmação, para o DHPP, veio através da utilização de um software profissional que isolou o som das filmagens e fez com que os peritos identificassem o barulho da garrafa quebrando. Para o órgão, a partir dali, não restaram dúvidas sobre a autoria do crime.

O problema é que não havia clareza em relação à identificação da pessoa que lançou a garrafa. A equipe da DHPP, então, acompanhou os movimentos seguintes do flamenguista, que se dirigiu a um veículo, trocou a camisa cinza que utilizava e colocou uma branca, do Flamengo. Na sequência, ele entrou no Allianz Parque, onde o órgão vinculado à Polícia Civil conseguiu ter clareza na identificação física através do sistema de biometria facial utilizado para entrada no estádio do Palmeiras.

Somado a esse conjunto de fatos, não restaram dúvidas à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de que Jonathan foi o autor do arremesso da garrafa cujos estilhaços atingiram fatalmente Gabriela Anelli.

De qualquer forma, o caso foi esclarecido para o DHPP. O autor, em prisão temporária, foi interrogado ontem e indiciado pelo crime e, na presença de advogados, ele reservou-se no direito de permanecer em silêncio e manifestar-se apenas em juízo. É possível agora representar pela prisão preventiva, mas caberá ao MP a manifestação e ao juiz a decretação ou não. Não temos dúvida - disse Ivalda Aleixo, delegada titular do DHPP, em contato com o Lance!.

Mesmo com as identificações do Departamento apontando Jonathan Messias como principal suspeito, Leonardo Xavier, que já estava solto após os dois dias de prisão cumpridos a pedido da Drade, foi ouvido pelo DHPP.

- Ele estava em liberdade, porém com medidas cautelares. Mas não cabia ao DHPP se manifestar sobre ele enquanto não terminássemos a investigação. Inclusive, ele foi ouvido novamente. A Drade fez o flagrante de Leonardo. Essa prisão foi confirmada e convertida em preventiva. Porém, depois houve a manifestação do MP para que a prisão fosse revogada diante da possibilidade de não ter sido Leonardo. A Juíza acatou e encaminhou para o DHPP prosseguir na investigação do homicídio ocorrido. Seguimos a partir daí - afirmou Ivalda à reportagem.

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DEFESA DO ACUSADO

O advogado de Jonathan Messias Santos Silva , José Victor Moraes, fez o pedido de habeas corpus (recurso para garantia do direito à liberdade de um cidadão) na 2ª instância do TJ-SP, nesta segunda-feira (7).

Segundo José, a polícia irá fazer um termo de indiciamento e representação para transformar a prisão temporária em preventiva. Na terça-feira (8), Jonathan ficou em silêncio durante o interrogatório no DHPP, que segundo o advogado, tratava de uma estratégia da defesa.

José Victor disse que Jonathan só irá falar em juízo e em momento oportuno, e afirmou que os vídeos utilizados pela perícia não foram juntados nos autos do processo. 

- O laudo não é assertivo em mostrar culpabilidade, cita probabilidade e que os vídeos não são originais. Isso pressupõe que são editados em momentos distintos, não dá para precisar se ao certo a garrafa que acertou a vítima tenha sido disparada ou não por ele - disse José.

O advogado do torcedor informou que a família irá contratar uma perícia particular contestar a prova considerada como fraca. José alegou que seu cliente trocou de camisa antes de entrar no estádio para não ser reconhecido como um torcedor do Flamengo, com o intuito de evitar brigas. 

A defesa de Jonathan diz que ele é inocente e trabalhador, e que não possui antecedentes criminais. O advogado ainda afirmou que ele é professor público, e por conta das investigações, foi afastado pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

E O PALMEIRAS NISSO?

O Verdão colaborou em todos os momentos com as investigações, fornecendo as imagens das câmeras de segurança do Allianz Parque e, principalmente, do sistema de biometria facial, que foi fundamental para identificar Jonathan Messias Santos da Silva.

A equipe alviverde também enviou dois diretores e mandou uma coroa de flores no velório de Gabriela Anelli. No jogo como mandante seguinte ao falecimento da torcedora, contra o São Paulo, pela Copa do Brasil, foi feita uma homenagem com a foto da jovem exibida nos telões do estádio palmeirense minutos antes da bola rolar.

No entanto, houve um descontentamento por parte da família de Gabriela, que reclamou de não ter tido o pedido de um ingresso para o Choque-Rei em que Anelli foi homenageada pelo clube. O bilhete seria para o avô da garota, que manifestou o desejo de ir ao Allianz Parque no dia da partida.

O Lance! apurou que houve uma falha de comunicação onde a solicitação feita pelos familiares de Gabriela Anelli não chegou às pessoas competentes.

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