O futebol americano anseia por novas oportunidades no Brasil
Os atletas treinam em alto nível, mas não enxergam um futuro próximo para a carreira de jogador e, até mesmo, para a modalidade <br>
O Brasil ainda não está perto do que gostaríamos quando o assunto é o desenvolvimento do futebol americano nacional. E posso te falar? Estamos longe disso. Isso porque, além das questões confusas que a própria modalidade traz, como ter mais de um campeonato nacional vigente, ainda existem poucas oportunidades aos atletas que buscam se profissionalizar e tentar, quem sabe, ganhar a vida por meio do esporte que amam. E das chances que surgem, não são todas as que realmente buscam ajudar os jogadores.
Existem, no momento, mais de 13 mil atletas e 300 times de futebol americano Full Pads (equipado) no Brasil, segundo a Confederação Brasileira (CBFA). Mas, dentro de tudo isso, são poucas às vezes que algum desses jovens tiveram “uma luz no fim do túnel” quando o assunto são oportunidades.
Em fevereiro de 2021, o Brasil recebeu o maior Combine (teste) de sua história, onde os jogadores que participassem teriam a chance de ter seus números enviados à National Football League (NFL), Canadian Football League (CFL), entre outras ligas profissionais fora do país, na qual o atleta poderia, de fato, mirar a oportunidade de viver apenas do esporte.
Mais de 200 jovens estiveram presentes no Estádio Mané Garrincha (ou Arena BSB), em Brasília, em um teste que durou o dia inteiro, teve atrasos fundamentais e alguns atletas foram, inclusive, prejudicados pelo fato de não terem tempo de almoçar (o que prejudica o desempenho), além da chuva torrencial que estava acontecendo no dia e que, com a grama do estádio, atrapalhou números e resultados conquistados em algumas das testagens exigidas. Esses cerca de 200 jovens pagaram um valor de inscrição para uma empresa estrangeira, mas que não tiveram retorno algum além de algumas medidas. Destes, menos de dez tiveram a esperança de irem a uma liga profissional fora do país, durante um ano. E no fim, nenhum deles de fato ganhou uma oportunidade.
E você deve estar se perguntando: mas não tiveram jogadores que foram, de fato, para a CFL? Sim, tiveram. Mas após o Combine realizado pela Confederação Brasileira de Futebol Americano, em fevereiro de 2022, poucos meses antes que antecederam o Draft Global da liga canadense. Nele, Ryan David foi selecionado pelo Calgary Stampeders e Otávio Amorim, pelo Toronto Argonauts. Os jogadores tiveram a chance após atualizarem suas marcas no teste recente.
É preciso que exista responsabilidade quando apresentamos aos jovens atletas do Brasil a possibilidade de um futuro por meio do futebol americano. Não como aconteceu em fevereiro de 2021. Mas como foi em 2022. E é preciso ir além. É essencial que empresas e instituições que querem realmente melhorar o cenário do esporte no país consigam dar oportunidades mais concretas aos jovens. Façam testes mais intensos com a presença de tomadores de decisão, de fato, no país. Ou que, ao menos, estejam de olho.
Não basta a gente testar os nossos jovens, criar a expectativa de que algo vai mudar e de que eles têm um rumo para seguir, se o trabalho não for realizado até o final e de forma séria. É preciso dar mais chances e mostrar que o Brasil olha para o futebol americano de forma que ele saía do amadorismo. E, mais do que isso: não podemos ver a exportação de atletas como algo ruim para o esporte nacional. Quanto mais jovens tiverem a oportunidade de jogar fora do nosso território, em alto nível, é o melhor. Este é o cenário que vai ajudar a modalidade crescer ainda mais com representantes no exterior e, consequentemente, aumentar exponencialmente o nível da categoria no país.