Vivemos em uma era que projetar a imagem para o grande público se tornou uma necessidade a entidades, marcas e pessoas que desejam chegar a um patamar profissional de sucesso.
E no Futebol Americano Brasileiro, que luta para que o esporte seja mais difundido e cresça dentro e fora de campo, trabalhar ações contínuas de comunicação e marketing se tornou um fator que vai além da expansão. Virou questão de sobrevivência.
O especialista em marketing digital Carlos Denker, que também é apaixonado seguidor do FA dentro de fora do país, fez um verdadeiro Raio-X de como o esporte pode se beneficiar e mais: sair das sombras de outras modalidades e alcançar mais camadas de público consumidor e praticante.
A prosa que tivemos com Carlos trouxe pontos que podem servir para toda a modalidade, que trabalha para ser reconhecida e precisa se articular como conjunto para voos mais altos.
1 - O esporte em geral tem dependido de trabalhos do mkt digital para gerar conteúdo e engajamento, assim, tornando seus produtos mais consumidos. No FA Brasileiro, como vê esse processo?
Por anos vimos o esporte apenas através da televisão, rádio, revistas e jornais. Tínhamos acesso apenas a materiais onde a grande mídia decidia o que era interessante ou não. Uma parte da população ainda tinha um acesso mais exclusivo com os canais fechados por assinatura. Porém com a internet TUDO, absolutamente tudo mudou. A democratização do acesso ao conteúdo mudou, hoje você decide o que você quer ver e quando quer ver, gosto de chamar de "democratização da informação".
No FABR as coisas ainda caminham devagar. Claro que houve uma evolução de alguns anos pra cá, porém ainda seguimos a pequenos passos. A culpa disso é devido à falta de orientação e direcionamento, muito achismo e pouca análise de dados concretos.
Se estamos falando de expansão de público consumidor, precisamos primeiro estudar o comportamento desse público. Um exemplo prático disso: muitos acreditam que o FABR vai atingir a grande massa quando chegar aos canais fechados de TV, porém o mercado mesmo mostra que cada vez mais as pessoas estão reduzindo o consumo de canais por assinatura na televisão e a busca e o consumo desse público está direcionado cada vez mais para a internet, redes sociais e plataformas de streaming.
O trabalho vai além de apenas marcar presença nas Redes Sociais e cada esfera do esporte precisa entender o seu papel: as confederações precisam fazer a sua parte cuidando da disseminação do esporte na região, os clubes precisam focar em fomentar o esporte e desenvolver a sua comunidade e os atletas ficam responsáveis por focar no seu marketing pessoal. Eu vejo ainda tudo isso muito confuso dentro do cenário BR.
É necessário enxergarmos além da paixão, precisamos de racionalidade e projetos que façam o esporte ser rentável, claro, se o foco for a profissionalização da modalidade. É viável, é possível e é palpável, mas precisamos de planejamento e plano de ação, com todos pensando em prol do mesmo objetivo: "Todo movimento só cresce mediante a um desejo coletivo por algo."
2 - Os times e ligas precisam melhorar em quais aspectos para que sejam vistos como um bom produto para marcas e patrocinadores?
Se a ideia é trazer para o mercado que o FA é um bom local para se investir um capital, é necessário adotar uma filosofia: “Ser interessante antes de ser interesseiro”. Antes de tudo, é necessário sim desenvolver um projeto interessante, seja da liga ou dos clubes. A captação de atenção das ligas e dos times possuem a mesma finalidade, porém precisam de abordagens diferentes.
A liga para ser um produto interessante precisa primeiro oferecer o básico aos clubes e atletas dentro do possível, porém quando se fala da parte comercial, precisa ser um produto interessante de ser consumido pelo público. Não adianta achar que o esporte vai crescer tendo apenas o público praticante como grande consumidor.
É necessário investir em fomentar a divulgação do esporte como algo acessível de se consumir, esse período de pandemia é de extrema importância analisar o mercado e montar uma estratégia eficiente para o futuro retorno. Já do lado dos times, para se tornarem um produto interessante, é necessário pensar na comunidade em torno do clube, criar aquele senso de pertencimento a quem acompanha e mostrar para as empresas que ali o retorno não vai ser apenas em resultados, existe todo um impacto em torno da comunidade que aquele time abraça.
3- O FA no Brasil ainda tem iniciativas muito individuais na hora de construir ações voltadas para o esporte. A CBFA tem seu direcionamento, os times têm outro e as ligas mais um caminho. Falta unidade nas ações?
Com toda certeza, como falei antes, falta um direcionamento e tração nas ações, querer profissionalizar todo mundo quer, mas precisamos deixar o ego de lado e pensar no resultado que seja benéfico como um todo extra campo. Vejo com bons olhos esse novo recomeço, um alinhamento visando um crescimento conjunto vai ser primordial, um planejamento bem feito sem ideias mirabolantes vai ser essencial. Precisamos no momento de algo simples a fim de trazer consistência a médio/longo prazo, com um toque de inovação tende a mudar MUITO o panorama das coisas no Brasil.
4- Só o MKT digital é suficiente para alavancar as marcas dos times e ligas do FA no Brasil?
Quando questionavam a força do mercado digital nos esportes antes da pandemia eu costumava fazer as seguintes perguntas: - O que hoje é mais “fácil” de conseguir: colocar 500 pessoas em uma Live para assistir uma partida do FABR ou 500 pessoas dentro de um estádio? O clube montar uma loja online ou física? Um programa de sócio torcedor com recompensas digitais ou físicas?
Estou falando apenas de exemplos bem simples em que o mercado digital pode potencializar o crescimento do esporte no Brasil. E aí entra aquilo que falamos antes, a experiência do público consumidor é o que conta, não adianta pensar que “porque amamos o futebol americano” isso vai ser o suficiente para lotar um estádio da noite pro dia.
Já são anos e anos vendo como são as coisas, precisamos deixar nossas crenças e pensamentos antigos de lado e dar espaço para inovação, investir no marketing digital não é mais uma “necessidade”, hoje é uma obrigação. Agora imagina o cenário pós pandemia, se os esportes que já possuem grandes estruturas estão se atualizando, porque o FABR acredita que não precisa disso?
Mas para isso é necessário novamente um trabalho coletivo e sinergia na execução, todas as esferas do ecossistema do FABR precisam trabalhar com o mesmo direcionamento: atletas, ligas, federações e gestores. Como profissional da área, a parte mais difícil de implementar essa filosofia e pensamento nesse mercado da bola oval está ligado ao pensamento ultrapassado de grande parte dos envolvidos na cena do esporte, muitos ainda acreditam que marketing digital é exibicionismo em Rede Social, sendo que na verdade o mercado digital é a maior oportunidade já vista na história para se desenvolver uma comunidade.
5- Que caminhos indicaria para que o MKT seja visto como parte do crescimento do esporte no país?
Não existe um padrão ou fórmulas mágicas, no nosso mercado do Marketing Esportivo. O que existe são objetivos bem definidos e estratégias que possam ser executadas o mais rápido possível para que, por incrível que pareça, possa se errar rápido e consertar mais rápido ainda.
O marketing digital possibilita acertar e errar rápido, mas para isso precisamos de objetivos palpáveis para conseguir mensurar os resultados. Hoje eu enxergo um cenário onde devemos incentivar cada vez mais os atletas trabalharem sua imagem, pois eles são a porta de entrada do mercado consumidor, é através deles que as pessoas se conectam com os jogos e clubes. Eles precisam entender que todos, desde o novato até o veterano, todos são embaixadores do esporte no país. Não temos as condições perfeitas, mas temos muita vontade de fazer acontecer, por isso quando trabalhamos nessa base já temos algo bom de se mensurar.
Quanto aos clubes minha indicação é: criem um senso de comunidade em torno da equipe, isso não pode se limitar apenas aos atletas, tornem a imagem de vocês interessante o suficiente para alguém querer estar com vocês nas arquibancadas por prazer e não por “pena”.
Já para as ligas e federações acredito que o caminho seja trabalhar em estratégias comerciais que tornem o produto atraente, qualidade de transmissões e espaço de publicidade para as marcas que querem fazer parte disso já é um bom caminho. Mas um trabalho consistente em todas as etapas e não apenas uma vez ou outra. Lembrando, claro, que a meta tem que ser realizar isso por iniciativa da liga e não complicando a vida dos clubes e atletas com taxas altíssimas.
É um caminho de muito trabalho, muita análise, principalmente análise de público para se obter sucesso, porém eu vejo com bons olhos os próximos anos, acredito que as pessoas estejam dispostas a fazer diferente dessa vez, que o nosso futuro seja especial.