Ao L!, Rafael Ratão fala do sucesso na França, guerra na Ucrânia e conta como superou indisciplinas no Brasil
Atacante brasileiro está em sua primeira temporada com a camisa do Toulouse e tem uma média de um gol a cada dois jogos após passagens por Ucrânia e Eslováquia
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Ele surgiu na Ponte Preta, rodou por diversos clubes do Brasil, aterrissou na Ucrânia e na Eslováquia e hoje é um dos principais nomes do Toulouse, da França. Em entrevista ao LANCE!, o atacante Rafael Ratão contou sobre o grande momento que vive na carreira, mas também lembrou das dificuldades que encarou ao se tornar atleta profissional na Macaca e os cenários que viu na Europa.
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UM GOL A CADA DOIS JOGOS
Em sua primeira temporada no Toulouse, o camisa 21 afirma ter se adaptado mais rapidamente do que nas passagens por Ucrânia e Eslováquia. No entanto, o centroavante não esperava ter o sucesso que está conseguindo ter na França. Em 14 partidas, o atleta já balançou as redes dos adversários em sete oportunidades.
- Aqui não faz tanto frio e esse foi um ponto em que tive dificuldade de me adaptar na Ucrânia e Eslováquia. As pessoas me receberam muito bem, o meu início está sendo mais positivo do que nos outros países e eu não esperava que tudo fosse tão rápido. Tenho a capacidade de fazer a melhor temporada da minha carreira.
Após três anos atuando no leste europeu, Ratão afirma que a França lembra um pouco do Brasil por conta do clima mais ameno, de um povo menos frio, mas sobretudo pelo futebol. O atacante de 26 anos diz que a torcida do Toulouse não deixa em nada a desejar para a de um clube brasileiro, mas o jogador ainda busca uma música própria criada pelos fãs.
- A torcida é muito quente e era algo que eu não sentia há anos, pois na Ucrânia não havia muitos torcedores, pois tivemos que mudar de cidade por conta da guerra, e na Eslováquia o clima também era mais frio. Aqui me sinto em casa. Se faço um drible, a torcida se empolga, canta e lembra o Brasil. Ainda não tenho música, mas espero que façam pra gente aproveitar quando eu marcar gols.
LIGUE 2 E COPA DA FRANÇA
Na Ligue 2 (segunda divisão), o Toulouse ocupa a liderança, embora tenha uma partida a mais do que o Ajaccio, mas segue na briga pelo acesso e por uma vaga na elite do futebol francês. Ratão afirma ter se surpreendido com a qualidade dos atletas e sonha em ajudar o clube a conquistar a segundona.
- A Ligue 2 é muito difícil e eu me surpreendi com a qualidade dos atletas, que são muito jovens, mas de alto nível. Aqui não há favoritos e é tudo muito disputado. O Toulouse está no caminho certo, brigando entre as duas primeiras posições, mas esse clube merece subir pela torcida e por todos que trabalham.
Além de ocupar a liderança da Ligue 2, a equipe do brasileiro segue viva nas oitavas de final da Copa da França e encara o Versailles no próximo dia 29 de janeiro. O centroavante espera avançar às quartas de final, se diz emocionado por tudo o que acontece em sua carreira e já imagina um hipotético confronto contra o PSG.
- Eu não imaginava vir para a França, pois estava na Eslováquia e é difícil você fazer essa transição. A Copa é muito importante, mas temos que ter cuidado, pois não há time bobo. E jogar contra Messi, Neymar, Sergio Ramos, jogadores com quem a gente brinca no videogame, seria um sonho. Se passarmos de fase, vamos enfrentar uma grande equipe e será uma motivação extra.
PACIÊNCIA EM MEIO À GUERRA
Feliz na França, Ratão relembra que o início de sua carreira foi bem diferente do que vive hoje. Após um início complicado por problemas extra-campo e também devido a má organização do calendário no Brasil, que força atletas a buscarem novos clubes a cada seis meses após o encerramento dos estaduais, o atacante afirmou ter tido muita paciência para colher os frutos.
- Quando eu estava no Oeste, conversei com meus antigos empresários e disse que gostaria de sair do Brasil e buscar uma oportunidade na Europa. Surgiu a oportunidade do Zorya e eu comecei bem, marcando gols, mas me machuquei, contraí uma pubalgia e o Slovan Bratislava me contratou por empréstimo até que me recuperei, comecei a jogar bem e eles me contrataram.
O atleta de 26 anos conta as dificuldades superadas na Europa, principalmente na Ucrânia, pois, assim como hoje, vivia um cenário de guerra. O Zorya, que é de Luhansk, cidade que faz fronteira com a Rússia e fica ao lado de Donetsk, teve que mudar de sede e o cenário não era nada positivo.
- Eu tive muita paciência, estava praticamente sozinho em um país que poderia ter guerra a qualquer momento. Acredito que até hoje tenha conflito em Luhansk. O Zorya teve que se mudar para Zaporíjia e foi um momento complicado. As pessoas andavam com armas nas ruas, havia militares, alerta para não sairmos de casa. Lá, as residências não são reformadas por fora, pois a qualquer momento pode haver uma guerra e tudo ser destruído.
SUPERANDO AS INDISCIPLINAS
O centroavante reconhece que todas as dificuldades encontradas ao longo de sua carreira se deram pela ausência de foco ao se tornar um atleta profissional na Ponte Preta. Dispensado de diversas equipes por conta de indisciplina, o artilheiro não tem vergonha em falar sobre o passado, pois acredita que ele possa servir de exemplo para os mais jovens.
- Eu subi muito jovem na Ponte Preta e perdi o controle de como deveria lidar com a situação de ser jogador profissional. Não tinha muita noção aos 17 anos, errei muito e sofri com isso. Assim, joguei em muitos clubes e não tive sequência. Sabia do meu potencial, mas não estava preparado.
Nesse período, Ratão conta que inclusive se afastou da família e que pensou em largar o futebol. O atacante também reconhece que poderia estar em uma situação diferente atualmente, mas se diz orgulhoso por ter superado todas as dificuldades e estar vivendo um grande momento.
- Me afastei muito da minha família, mas tudo foi um aprendizado. Foi um momento difícil em que pensei em abandonar o futebol e eu estava pagando pelo que havia buscado. Acredito que se eu tivesse a cabeça que tenho hoje, poderia estar em outra situação. Ainda não cheguei onde eu gostaria de chegar, mas estou orgulhoso e feliz.
Na última quarta-feira, o Toulouse goleou o Nancy por 4 a 0 pela Ligue 2 e Rafael Ratão foi responsável por anotar o último gol da equipe que lidera o torneio. O brasileiro volta aos gramados neste sábado para encarar o Bastia e seguir buscando o acesso para a Ligue 1 e sonhando com voos mais altos na carreira.
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