Ganso promete luta pela Seleção: ‘Vou brigar por um lugar no grupo do Tite’
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, meia do Sevilla ainda sonha em disputar a próxima Copa do Mundo e fala sobre sua primeira temporada atuando no futebol europeu
Paulo Henrique Ganso despontou no Santos como um clássico camisa 10, posição carente no futebol brasileiro. Não demorou para encher os olhos dos torcedores. Mas a imaginada sequência nunca foi concretizada, e o sonho de tê-lo como dono da posição na Seleção Brasileira ainda não ocorreu.
Em entrevista ao LANCE!, o meia, em sua segunda temporada no Sevilla, fala sobre a meta de conquistar de vez um lugar na Seleção, agora com o técnico Tite, e admite que vai fazer de tudo para ganhar a confiança do treinador.
Ganso explica ainda sua relação com Jorge Sampaoli no time espanhol, onde não teve muito espaço na última temporada, e fala sobre a não convocação para a Seleção na Copa do Mundo de 2010, quando ele e Neymar eram cogitados para fazer parte do grupo de Dunga.
Você chegou ao futebol europeu cercado de muita expectativa. Como foi essa mudança para o Sevilla? O que você esperava nessa primeira temporada na Espanha?
Foi de adaptação e novos desafios em minha carreira. Sabia que o processo em si seria um pouco complicado. Uma nova cultura, língua diferente, o próprio estilo de jogo, mas felizmente, aos poucos, estou superando os desafios.
Como é o futebol espanhol em relação ao Brasil? Como é estar frente a frente com grandes nomes do futebol mundial, como Messi e Cristiano Ronaldo?
Tem suas diferenças no estilo de jogo. Os aspectos táticos ainda são um pouco distintos, sobretudo na velocidade que os times impõem nas transições. No entanto, há traços semelhantes, como a valorização da posse de bola, o jogo entrelinhas. E estar na mesma liga que os dois melhores jogadores do mundo demonstra a qualidade da competição.
O que você sentiu de maior dificuldade em seu primeiro ano na Europa?
O processo de adaptação em si foi complicado. Todo o contexto é um desafio enorme para sua carreira e sua vida pessoal. Tive minha família ao meu lado e isso foi fundamental. Dentro de campo, aos poucos você vai se soltando, pegando mais entrosamento e entendendo melhor o comportamento de cada um.
E o reencontro com o Neymar, no jogo entre Sevilla e Barcelona? Esperava um dia enfrentar o seu ex-companheiro de Santos, ainda mais no futebol europeu?
Foi um momento muito especial e espero que se repita. É muito gratificante para nós dois ver o outro realizando sonhos, evoluindo, construindo uma linda carreira.
Você teve mais oportunidades no começo da temporada, mas acabou perdendo um pouco de espaço no Sevilla. O que aconteceu neste período? Por que ficou esse tempo afastado?
São coisas do futebol. O Sampaoli optou por outros atletas para determinados jogos e eu acabei ficando de fora de alguns. Faz parte. É preciso respeitar as decisões do treinador. Cada um tem seus motivos e convicções, mas o que eu posso dizer é que nunca deixei de me empenhar e sempre estive pronto para aproveitar as oportunidades.
Houve algum problema com o técnico Jorge Sampaoli? Como é a forma de ele trabalhar?
Não, problema não. Como disse, ele tinha seus métodos e suas convicções. Cabia a mim, como atleta, respeitar e trabalhar ainda mais para receber novas chances. Aprendi bastante com ele.
A saída do Sampaoli foi um alívio para você? O que esperar do Eduardo Berizzo, que foi bem no comando do Celta?
Não, alívio não. Foi uma mudança como foi para qualquer outro jogador aqui no clube. Agora receberemos o Berizzo da melhor forma possível. Todos acompanhamos o bom trabalho que ele fez no Celta, alcançando a semifinal da Liga Europa e quase eliminando o Manchester United.
O que faltou para ter mais chances de mostrar seu futebol no Sevilla? Acredita que a chegada do Nasri também atrapalhou um pouco?
Talvez ter uma boa sequência de jogos. No fim da temporada, consegui voltar a jogar bem, marcar gols, ser decisivo. E a chegada do Nasri não atrapalhou de forma alguma, pelo contrário. Só somou ao elenco.
"Não sinto alívio pela saída do Sampaoli. Aprendi muito com ele. Agora receberemos o Berizzo da melhor forma possível"
O Sevilla chegou a entrar na briga pela liderança com Real Madrid e Barcelona. Naquele momento, vocês pensaram em título?
Sim, com certeza. Até pela força que estávamos imprimindo na competição.
Na reta final da temporada, você voltou a atuar pelo Sevilla e chegou a fazer dois gols na vitória de 2 a 0 sobre o Granada. Para você, foi a prova de que você deveria ter mais chances no time?
Talvez sim. Mas não gosto de falar muito sobre o que poderia ter acontecido. Já passou, aconteceu dessa forma e não temos como mudar o passado. O que eu posso fazer é me esforçar e trabalhar ainda mais para a próxima temporada. Tenho certeza que novas oportunidades irão pintar e eu estarei pronto para aproveitá-las.
Você chegou a atuar pelo Sevilla em um jogo da Liga dos Campeões contra o Dínamo de Zagreb. Como é a atmosfera da competição? Há algo parecido em algum torneio do Brasil?
Foi incrível. Ouvir a música, entrar em campo, foi realmente emocionante. Não tem nada parecido no Brasil. A Libertadores é incrível, uma experiência sensacional também, mas é bem diferente. Talvez a Copa do Mundo seja parecida.
O Sevilla vai disputar a fase eliminatória da Liga dos Campeões após ficar em quarto no Espanhol. Como está o sentimento no clube para a disputa de mais uma edição da competição?
Estamos bastante animados. Sabemos de todas as dificuldades de atuar na fase eliminatória, todas as atenções que devemos ter e estamos nos preparando demais.
A imprensa e a torcida muitas vezes idolatram você, mas também pegam no seu pé. Como você analisa essa relação, muitas vezes, de amor e ódio? A que você credita essa relação?
Acho que faz parte do dia a dia. É papel da imprensa, da crítica, te cobrar quando vai mal e te enaltecer quando está em grande fase. Só acho que alguns profissionais precisam ter mais responsabilidade. O jogador de futebol é humano, tem família, filhos, parentes, amigos. Com justiça, todas as críticas são mais do que bem-vindas. Afinal, não há ser humano que não procure crescer e evoluir com elas. Não sou diferente.
Faltando menos de um ano para a Copa do Mundo, você ainda não teve oportunidades com o Tite na Seleção Brasileira. Você ainda está na expectativa de ser convocado pelo treinador? A boa fase da equipe pode dificuldade a entrada de outro jogador que não faz parte do 'grupo' do técnico?
Sempre acreditarei em retornar à Seleção. É o grande sonho de qualquer jogador, e comigo não poderia ser diferente. O Tite está fazendo um trabalho brilhante e comprovando, a cada dia, que os jogadores precisam merecer uma vaga. Quem tem merecido, tem sido convocado. E isso é fantástico, pois mantém as vagas em abertos para todos. Os melhores estarão na Seleção, e não há nada mais justo. Me resta trabalhar demais para estar no meu melhor nível e lutar por um espaço no grupo.
Em 2010, você e o Neymar acabaram ficando fora do grupo que foi à Copa, mas o técnico Dunga preferiu levar outros jogadores. O que ficou de lição para você deste episódio? Apesar da pouca idade de vocês, havia espaço na Seleção para os Meninos da Vila?
É complicado julgar os critérios e as ideias de um profissional. Ele tinha as convicções dele e, naquele momento, preferiu levar outros jogadores. O que eu posso dizer é que nós estávamos animados e, principalmente, preparados para aquele imenso desafio. Se fôssemos chamados, tenho certeza que daríamos nosso máximo e ajudaríamos o time. Mas quem foi chamado, mereceu. Seria injusto da minha parte dizer que eu é que deveria ter ido para a Copa. Era um grupo de muita qualidade.
Na final do Campeonato Paulista, o Santos perdia para o Santo André quando o Dorival Junior optou pela sua saída, mas você se recusou a deixar o gramado. O Santos acabou conquistando o título no fim. No vestiário, como foi o papo com o treinador, uma vez que sua atitude poderia aparentar uma quebra de comando...?
Não, tudo se resolveu. Às vezes, até mesmo o treinador, que está ali na beira do campo e conhece muito bem os seus jogadores e seu time, não consegue sentir algumas coisas da partida. Era o meu momento, eu estava fazendo um grande jogo e precisava continuar em campo. Não foi uma quebra de autoridade, jamais. Foi algo do calor do jogo, uma necessidade que eu via em prol do time. O professor Dorival, que foi um jogador espetacular e é esse treinador vitorioso que todos elogiam merecidamente, entendeu perfeitamente. No vestiário, conversamos e acertamos ainda melhor a situação toda.
Quando você deixou o Santos rumo ao São Paulo, um dos maiores rivais do Peixe. Como ficou sua relação com a torcida? Você acredita que ficou abalada?
É claro que o torcedor, muitas vezes, não entende. Mas acho que a maioria conseguiu compreender. Sou profissional e isso é normal no futebol de forma geral. Passei uma parte das férias em Santos, onde sempre sou muito bem acolhido e recebo os pedidos dos torcedores para retornar ao clube.
Você recebeu alguma proposta de outros clubes europeus e até do Brasil? Aceitaria uma oferta do futebol chinês, que está em franco crescimento?
Não chegou nada concreto a mim. Quem cuida dessa parte é meu empresário. Quando chega alguma proposta, conversamos, converso com minha família e, juntos, decidimos o melhor para a minha carreira. Mas hoje, posso garantir que o meu foco está totalmente voltado aqui para o Sevilla. Estou me preparando para fazer uma grande temporada.