O que foi o Desastre de Hillsborough? Torcedor do Chelsea foi preso ao ironizar tragédia
Tragédia que aconteceu em 1989 terminou na morte de quase 100 torcedores do Liverpool; entenda o caso
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O dia 15 de abril de 1989 mudou para sempre a história do futebol inglês. O que era para ser mais uma semifinal da Copa da Inglaterra entre duas das equipes mais populares da época, Liverpool e Nottingham Forest, se transformou no episódio mais trágico da história do esporte no país e um dos maiores do mundo. Até hoje, familiares das vítimas buscam respostas e justiça diante tantos erros em sequência que custaram a vida de 97 torcedores.
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Apesar de se tratar de uma situação trágica, no último domingo (13), um torcedor do Chelsea foi preso pela Polícia Metropolitana de Londres no empate por 1 a 1 com o Liverpool, pela rodada inicial da Premier League, por "engajar em cânticos ofensivos", referentes ao desastre. Mas afinal, o que realmente aconteceu naquele dia 15 de abril de 1989?
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CONTEXTO DA ÉPOCA
O cenário do futebol inglês dos anos 80 era muito diferente do atual. À época do desastre, muitos estádios estavam em condições precárias, o hooliganismo já havia tomado conta das arquibancadas e, quatro anos antes, a Tragédia de Heysel, que matou 39 torcedores em um duelo entre Liverpool e Juventus, já havia dado sinais que o futebol viveria um dos momentos mais dolorosos de sua história.
COMO TUDO COMEÇOU
Muitos acreditam que a origem da sequência de erros que ocasionaram a tragédia foi a decisão da Football Association (FA) de sediar o duelo entre Liverpool e Nottingham Forrest no Estádio Hillsborough, em Sheffield, por se tratar de um campo neutro. Porém, os riscos já eram previsíveis e tudo ficou ainda pior com uma troca no comando de segurança cerca de três semanas antes da partida.
Após uma brincadeira violenta entre policiais, o então comandante de segurança Brian Mole, que não tinha nenhum envolvimento com o ocorrido, acabou sendo transferido para Barnsley. David Duckenfield foi o escolhido para substituir Mole na área de Hillsborough. O problema é que Duckenfield era pouco experiente e tinha uma relação distante com o futebol, logo, não tinha dimensão da importância da partida e, consequentemente, da necessidade de um planejamento minucioso para a segurança de todos os envolvidos no evento.
A TRAGÉDIA
Com capacidade para 54 mil pessoas, o estádio Hillsborough, em Sheffield, foi visto com bons olhos para o duelo, já que havia sediado a Copa do Mundo de 1966. A polícia optou por colocar os torcedores do Nottingham Forest no setor Spion Kop End, que suportava 21 mil pessoas, enquanto os torcedores do Liverpool ficaram na Leppings Lane End, com capacidade para 14,6 mil pessoas, apesar dos Reds estarem em maior número. A tragédia estava anunciada.
O início do jogo estava marcado para às 15h, e os torcedores foram aconselhados a chegarem com, pelo menos, 15 minutos de antecedência. Porém, a Leppings Lane já estava lotada 45 minutos antes da bola rolar. O congestionamento foi aumentando e, consequentemente, o fluxo de pessoas também - incluindo muitos torcedores que sequer tinham ingresso. Havia sete catracas para controlar a entrada de 10 mil torcedores, mas apenas uma estava em funcionamento.
A solução encontrada pelo comando do estádio foi autorizar a abertura de um dos portões, cerca de oito minutos antes do início da partida. Ali foi o fim da linha. O descontrole tomou conta e uma multidão começou um empurra-empurra em uma área que já estava lotada, enquanto sobrava espaço em outros setores. Como o setor era dividido em compartimentos e separados por grades altas, era praticamente impossível se movimentar.
Com isso, às 15h06, com apenas seis minutos de bola rolando, a partida foi interrompida pois torcedores estavam pulando para o campo. Primeiramente, a polícia não havia entendido a gravidade do que estava acontecendo e acreditou que se tratava de invasão, impedindo as pessoas de entrarem no gramado.
Enquanto isso, aqueles que estavam mais perto das grades e não conseguiram pular estavam sendo pressionados, esmagados e asfixiados. Os policiais acabaram abrindo os portões da arquibancada para o campo e, minutos depois, o cenário era trágico: 97 torcedores dos Liverpool morreram pisoteados e outros 766 ficaram feridos - dois morreram depois do acontecimento, um em 1990 e outro em 2021.
A vítima mais jovem do desastre foi John-Paul, que tinha apenas dez anos de idade e era primo de Steven Gerrard, ídolo do Liverpool e atualmente treinador do Al-Ettifaq, da Arábia Saudita.
AUTORIDADES E IMPRENSA CULPARAM TORCEDORES
As autoridades locais culparam os próprios torcedores do Liverpool pela tragédia com o discurso do hooliganismo em alta e o consumo de bebidas alcóolicas, colocando a responsabilidade também nas pessoas que forçaram a entrada no estádio sem ingresso. O tabloide The Sun chegou a publicar em sua capa denominada 'A verdade' que eles teriam "urinado em policiais e roubado pertences de mortos", corroborando para a culpabilização dos torcedores. Todas as alegações eram falsas, o que fez com que o tabloide passasse a ser odiado em Liverpool. Em 2017, o prório clube baniu o The Sun do estádio de Anfield e também do centro de treinamento de Melwood.
PROCESSOS CRIMINAIS E VERDADEIROS CULPADOS
Com a divulgação pública do relatório do Desastre de Hillsborough, as atitudes negligentes das autoridades vieram à tona e, consequentemente, os culpados pela tragédia começaram a ser apontados. Há também uma acusação de que mais de 150 depoimentos colhidos na época do ocorrido teriam sido adulterados pelo governo de Margaret Thatcher para, novamente, inverter o lado da culpa para os torcedores. Apenas 12 anos depois, o então primeiro-ministro David Cameron e a Football Association (FA) pediram desculpas publicamente para as famílias das vítimas.
O problema é que, até hoje, o único considerado culpado pela tragédia é Graham Mackrell, ex-secretário do Sheffield Wednesday e proprietário do estádio de Hillsborough. Graham foi condenado em 2019 a pagar uma multa de apenas 6.500 libras devido ao número insuficiente de catracas no estádio. Em 2019, Duckenfield, o ex-policial que supervisionava a segurança da partida, foi inocentado da acusação de homicídio.
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