Velocidade, transparência, profissionalismo… as diferenças do VAR na Premier League e no Brasil
Novidade no Brasil e na Inglaterra, o VAR é o assunto do ano; no Brasileirão, polêmicas e reclamações ganham força, enquanto na Premier League a agilidade é o ponto forte
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A partida entre Manchester City e West Ham, na primeira rodada da Premier League, foi marcada pela primeira interferência do VAR na história do futebol inglês. O país que criou as regras do esporte começa a se adaptar a novas normas da atualidade. O juiz usou o vídeo para anular o tento de Gabriel Jesus.
O que chamou atenção, porém, é que o árbitro levou apenas 1 minuto e 2 segundos para anular o gol. A velocidade é apenas uma das características que apontam que a Inglaterra pode virar referência e ajudar a mudar o panorama do VAR no mundo.
O LANCE! conversou com o ex-árbitro Carlos Eugênio Simon e com Amitai Winehouse, repórter de esportes do 'MailOnline', para exibir os principais pontos positivos do VAR na Inglaterra, como se deu o processo da implementação, as diferenças entre o árbitro de vídeo no Brasil e na Europa e as mudanças que podem ser efetuadas.
VELOCIDADE
A Premier League foi o último entre os grandes campeonatos europeus a adotar a medida. A franquia passou dois anos estudando e aprimorando as medidas para que a adoção fosse mais benéfica. O grande diferencial é a velocidade da decisão. Os equipamentos utilizados são mais modernos, com tecnologia superior à do Brasil. A orientação é que o lance seja reavaliado e a decisão seja tomada antes do fim da comemoração dos jogadores. Os lances vistos são apenas os imprescindíveis. No Brasil, não existem restrições e o árbitro pode levar o tempo que quiser.
- Temos que ir devagar. É importante sempre tomar a decisão correta. É claro que existem reclamações com relação a demora nas decisões, não se pode demorar cinco, seis, sete minutos como já houve caso no Brasil. Tem que ser acelerado esse processo. Deve existir um treinamento melhor da arbitragem por aqui para minimizar os erros e esse tempo de análise. Eu sou favorável ao VAR, é um caminho sem volta - disse o ex-árbitro Carlos Eugenio Simon, ao L!.
COMERCIAL
A Premier League é o campeonato mais valioso do mundo. Os prestígios das equipes e dos jogadores, e o estilo de jogo, veloz e intenso, são características que influenciam. A competição negocia um novo acordo por contrato de direitos de transmissões internacionais avaliado em 4 bilhões de libras (R$ 20 bilhões). Temia-se que a entrada do VAR diminuísse a intensidade do jogo e isso influenciasse comercialmente. O aperfeiçoamento e a ideia de encurtar as interrupções também deriva desse fator.
- A maneira como o VAR foi implementado aqui foi impressionante. A Premier League gastou muito tempo trabalhando a forma como seria introduzido para não garantir que não houvessem problemas inicias. É uma visão muito inglesa, mas imagino que, como uma das ligas mais assistidas do mundo e do suposto 'berço do futebol', se funcionar aqui, será possível que funcione em todos os lugares - pontuou Amitai.
TRANSPARÊNCIA
Outra grande diferença para o Brasil é a transparência. Aqui, o árbitro se isola e analisa as imagens sozinhos. Na Inglaterra, o telão transmite as imagens analisadas, o que norteia os torcedores, diminuindo suas dúvidas e ansiedades. A influência do VAR, até agora, é mais positiva do que negativa na Inglaterra, como a diminuição de simulações.
- Quanto mais transparente melhor, é um ponto muito positivo na Inglaterra e poderia ser trago para cá. Mostrar no telão do estádio e nas televisões o que os árbitros de vídeo estão vendo nas cabines. Inclusive, eu defendo também a divulgação dos áudios, do que falam os árbitros de vídeo e de campo. Na minha opinião, estes áudios tem que ser públicos, tem que ser expostos - ponderou Simon.
RIGIDEZ
A rigidez também é maior. No Inglês, o árbitro se limita a analisar os lances de ataque mais próximos ao da finalização, não voltando para ver tanto a chamada "origem do lance". Os limites para a interferência em lances subjetivos também são mais rígidos. O árbitro tem mais autonomia e relata o que vê à cabine que analisa as imagens. Se o que o juiz diz bate com as imagens vistas, não há a revisão, permanecendo a decisão de campo.
- Houve um longo período de preparação e testes em várias competições. Eu acho que tem sido relativamente bem recebido até agora, embora ainda haja muito ceticismo por parte de alguns comentaristas mais tradicionalistas da mídia - ressaltou o jornalista inglês.
TEMPO DE PREPARO
Mesmo com uma temporada de 'atraso' para ser implementado de forma oficial comparado as outras grandes ligas europeias, o VAR na Premier League passou por quase meia temporada de testes 'offline' nas partidas, o que ajudou todas as partes durante todos os procedimentos em que o árbitro de vídeo é necessário. Apesar da boa repercussão do VAR, ainda existem opiniões divergentes.
- O fator positivo é que ninguém se sente realmente prejudicado. Também elimina alguns elementos de trapaça do jogo. Os jogadores sabem que agora não podem mais simular faltas, por exemplo. O único ponto negativo é que pode tirar o momento de comemoração do gol. As pessoas assistem o futebol por aquele segundo de alegria de quando a bola bate na rede. Adicionar um elemento da dúvida a esse momento, parece que prejudica um pouco - disse Amitai.
NÚMEROS DO BRASIL
A CBF divulgou um relatório que utilizou a análise de 139 jogos com o auxílio do VAR. Os dados apontam que foram 764 checagens e 87 revisões. Em 90% dos casos, o VAR concordou com a decisão de campo. O índice de acertos em situações de pênaltis foi de 91,75%, com 27 erros corrigidos, além de um acerto de 93,5% nos impedimentos. Os árbitros erraram em dez lances capitais, em 2019, contra 88 em 2018.
- Eu enxergo o copo meio cheio. O auxílio do VAR é indispensável hoje em dia. A reclamação dos clubes diminuiu muito. Os acertos da arbitragem brasileira crescem - indicou Leonardo Gaciba, presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, nesta segunda-feira, em coletiva.
PROFISSIONALISMO
Na Inglaterra, os árbitros que apitam os jogos da Premier League são todos profissionais da arbitragem, ao contrário do futebol brasileiro, onde os árbitros que comandam as partidas do Brasileirão seguem empregados em outros funções enquanto são árbitros da CBF.
- Claro que o amadorismo da arbitragem no Brasil atrapalha. O futebol no Brasil é um grande negócio, movimenta muito dinheiro e é um absurdo que não exista essa profissionalização por aqui ainda. Tem que receber os salários, com todas as condições mínimas para trabalhar, todo apoio necessário. Não vejo outra saída sem ser a profissionalização. Desde o tempo que apitava, eu levantava essa bandeira - finalizou Simon.
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