‘Calendário europeu deve ser implantado no futebol brasileiro’
Luis Filipe Chateaubriand, autor de 'Um Calendário de Bom Senso do Futebol Brasileiro', expõe sugestões para tornar o futebol brasileiro um produto muito mais atraente
- Matéria
- Mais Notícias
"Quando se pensa em melhorias para o calendário do futebol brasileiro, uma polêmica que vem à tona é se o nosso calendário deve seguir o modelo do calendário europeu, de Julho de um ano a Junho do ano seguinte, ou se deve ser mantido o modelo do calendário gregoriano, de Janeiro a Dezembro do mesmo ano.
O signatário deste texto é amplamente favorável à adoção do calendário em modelo europeu no futebol brasileiro, com pré temporada em Julho, período de competições entre início de Agosto (ou final de Julho, dependendo do ano) e final de Maio, e férias em Junho.
O formato de calendário adequado ao modelo europeu pode trazer uma série de vantagens para o futebol brasileiro. As principais destas são:
1) Melhor distribuição de datas ao longo da temporada – sem a adoção do modelo de calendário europeu, as datas para se alocar os certames são escassas, pois deve haver paradas para férias, pré temporada e jogos das competições de seleções. Como, no modelo de calendário europeu, não há a parada para competições de seleções – haja vista que estas já coincidem com as férias e a pré temporada –, tem-se mais datas à disposição, o que permite se conceber os certames em datas menos sobrepostas. Por exemplo, em um calendário no modelo europeu, é possível fazer todas as rodadas do campeonato nacional em finais de semanas. No modelo não adequado, não é possível fazer isso.
2) Possibilidade dos grandes clubes excursionarem ao exterior – com a adoção do modelo de calendário europeu, as datas de pré temporada entre grandes clubes europeus e grandes clubes brasileiros coincidem, pelo menos na maior parte do tempo. Com isso, os clubes brasileiros mais fortes podem excursionar e se confrontar com os grandes clubes europeus, com as decorrentes vantagens técnicas e comerciais que isso acarreta.
3) Minimização dos efeitos das janelas de transferências – com a adoção do modelo de calendário europeu, o grosso das transferências de jogadores que atuam no Brasil para o mercado europeu – de longe, o mercado que demanda maior quantidade de jogadores brasileiro – acontecerá quando a temporada de competições no Brasil não estiver acontecendo. Com isso, reduzem-se consideravelmente as situações de clubes que precisam remontar o time com a temporada em curso.
Por óbvio, também existem argumentos pela não adoção do modelo de calendário europeu. Contudo, são argumentos que podem ser refutados, como se vê:
1) Não se deve adotar o modelo de calendário europeu no futebol brasileiro, pois se terá que jogar no verão e o calor é excessivo – basta adequar o horário dos jogos, para que sejam realizados mais tarde. Por exemplo, os jogos de domingos podem ser às 18 horas, ao invés de 16 horas, mitigando problemas relacionados ao calor. Não se deve esquecer, também, que no calendário não adequado já se joga no verão, nos meses de Janeiro e Fevereiro.
2) Com a adoção do modelo de calendário europeu, os profissionais do futebol não poderão tirar férias junto com os seus filhos – nem com a adoção do modelo de calendário europeu, nem sem sua adoção, os jogadores tiram férias com os filhos. No modelo sem adequação, as férias dos jogadores são em Dezembro, enquanto as férias escolares são em Janeiro. No modelo adequado, as férias dos jogadores são em Junho, enquanto as férias escolares são em Julho.
3) A adoção do modelo de calendário europeu fará com que os estádios fiquem vazios em Dezembro e Janeiro, pois a população viaja nessa época – é curioso notar que cerca de 80 % da população não tem condições de viajar nas férias, devido à precariedade de renda das classes economicamente menos favorecidas. Ademais, mesmo que a afluência de público aos estádios seja um pouco menor nos referidos meses, isso é compensado pelos fatos positivos em relação à adequação anteriormente mencionados – inclusive para a rede de televisão que tem os direitos de transmissão, que garante produto para assistência durante a temporada inteira (Agosto a Maio, com os clubes; Junho e Julho, com as seleções).
Pelo até então esmiuçado, fica claro que as vantagens de se adotar o modelo de calendário europeu no futebol brasileiro são amplamente superiores às vantagens de não se adotar esse modelo."
Relacionadas
Luis Filipe Chateaubriand é estudioso do calendário do futebol brasileiro. Foi consultor do Bom Senso Futebol Clube e membro do Futebol do Futuro, em relação ao tema. Participou do Grupo de Trabalho sobre o tema da Confederação Brasileira de Futebol, do qual se retirou por discordar dos rumos do debate. Escreveu vários livros e artigos a respeito, com destaque para a obra “Um Calendário de Bom Senso do Futebol Brasileiro”. Apesar de se sentir frustrado a perceber que as mudanças necessárias não são implantadas, continua a combater o bom combate. Email: [email protected].
Mais lidas
Newsletter do Lance!
O melhor do esporte na sua manhã!- Matéria
- Mais Notícias