Coluna do Luiz Gomes: ‘Uma semana de terror no futebol brasileiro’
Episódios lamentáveis, em cinco diferentes estados, mostram que o futebol brasileiro precisa urgentemente de um plano nacional e efetivo de combate a violência
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Foi uma semana de terror no futebol brasileiro. A barbárie começou no domingo, em Belo Horizonte, onde brigas de torcida, antes e durante o clássico Cruzeiro e Atlético, terminaram com 18 detidos e pelo menos um ferido grave, um cruzeirense que foi cruelmente espancado e levado inconsciente para o hospital. As imagens de câmeras de segurança mostraram o sujeito caído no chão, desacordado e ainda sendo atacado a chutes e pauladas. A PM apreendeu dois ônibus e encontrou paus, rojões e pedras com membros de organizadas.
Quase ao mesmo tempo, em Itaquaquecetuba, cidade da Grande São Paulo, a 43 Km do Pacaembu, onde Santos e Corinthians se enfrentaram em jogo de torcida única, um grupo de santistas destruiu um carro, uma moto e espancou um corintiano até a morte. Outras quatro pessoas tiveram ferimentos leves. A vítima fatal, Danilo da Silva Santos, virou alvo por ter o escudo do Corinthians à mostra no carro - 21 santistas foram presos. Foi a terceira morte desde que os estádios paulistas passaram a ter só uma torcida nos clássicos.
Na quarta-feira, em Alagoas, o ônibus do CRB foi atacado com pedras e bombas na saída do estádio de Arapiraca, após a vitória de 2 a 1 sobre o ASA pelo campeonato local. O atentado ocorreu na saída da cidade e três jogadores do time foram atingidos por estilhaços e sofreram cortes na cabeça, nos braços e nas pernas. Uma bomba explodiu dentro do veículo e vários atletas tiveram problemas de audição.
Já em Pernambuco, na mesma noite, no clássico Santa Cruz e Sport, na Ilha do Retiro, 60 torcedores do Santa ficaram feridos e tiveram de ser atendidos em pleno gramado, com o jogo interrompido, depois de um confronto com a PM. Pelo menos 25 foram transferidos para o hospital. O tumulto começou quando os policiais tentaram tirar do estádio um homem que acendia um sinalizador proibido. Houve reação da torcida, corre-corre e gente rolando uns sobre os outros. Por sorte o caso não se transformou em tragédia.
Por fim, na sexta-feira, em Belém, Luís Cláudio Pinheiro, dirigente da principal torcida organizada do Remo, foi morto a tiros, dentro de um carro do Uber , quando saia do Batalhão de Eventos da Polícia Militar paraense, onde participara de uma reunião sobre segurança para o clássico entre Remo e Paysandu, que acontece hoje, no Mangueirão. Segundo os policiais, dois homens chegaram em uma moto, fizeram o veículo parar e executaram o torcedor.
São episódios lamentáveis, em cinco diferentes estados. Mais uma evidência de que o futebol brasileiro precisa urgentemente de um plano nacional e efetivo de combate a violência. Seja no Nordeste, no Sudeste ou no Norte do país, a incapacidade das policias, do Ministério Público e da Justiça em lidar com a situação é cada dia mais flagrante. Medidas como cassar o registro de organizadas, suspender algumas de frequentar estádios o adotar a torcida única – o que a partir de São Paulo vem contaminando todo o país – já se mostraram ineficazes.
A culpa não é das organizadas, como instituições. Desde sempre elas fazem parte do futebol, animam e colorem estádios aqui, como em qualquer lugar do mundo. O problema são os vândalos, criminosos de todo o tipo - inclusive traficantes de drogas como operações policias revelaram nos últimos anos – que se infiltraram no comando de boa parte dessas torcidas. É contra eles que o aparato policial e judicial deveria voltar-se, exclusivamente, evitando punir, colocando no mesmo saco, o torcedor que só quer ver seu time jogar.
Falta repressão eficaz, sim. Ações da PM como se viu em BH ou no Recife nada mais são do que enxugar o gelo. Mas, acima de tudo o que falta é investigação e prevenção. Falta a identificação e a personalização dos criminosos uniformizados e das penas a eles imputadas. Promessas como o cadastro nacional de torcedores, o financiamento à adoção da biometria nos estádios ou a criação de delegacias especializadas em crimes de torcidas não saem do papel. A CBF exibe a inércia de sempre. O Ministério do Esporte, os estados e os municípios se perdem em comissões e grupos de trabalho que discutem, discutem e não chegam a lugar algum. E o torcedor de bem é que continua a pagar o pato. Até quando?
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