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Da ‘dinastia’ Chedid à era Red Bull… Conheça o novo Bragantino, finalista da Copa Sul-Americana

No primeiro capítulo de série especial, veja como clube, campeão paulista em 1990, passou de gestão sob influência política direta de um clã para ser gerido como empresa

Estádio Nabi Abi Chedid
Na entrada do estádio, o símbolo do Leão e o escudo da Red Bull representam o antigo e o novo (Foto: Luciano Claudino)

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Há quase dois anos e meio, em 23 de abril de 2019, o Bragantino dava um passo transformador em sua história. Nesse dia, foi anunciada a parceria do clube com a empresa austríaca de energéticos Red Bull. Nascia em Bragança Paulista, cidade de pouco mais de 170 mil habitantes distante 87km da capital do estado, o Red Bull Bragantino. Uma jornada que, inicialmente, foi vista com desconfiança por parte dos torcedores, mas que começa a render frutos em campo já na atual temporada.

A equipe faz campanha destacada no Campeonato Brasileiro, onde situa-se desde o início na zona de classificação à Libertadores e tem enfileirado bons resultados contra clubes grandes - os 4 a 2 sobre o Palmeiras, neste sábado, foi mais um. E no próximo dia 20 de novembro, fará o jogo mais importante de sua história: a final da Copa Sul-Americana contra o Athletico-PR, no estádio Centenário, em Montevidéu (URU). 

O LANCE! inicia neste domingo (10) uma série especial sobre o clube. Neste primeiro capítulo, o tema é justamente o que mudou dos tempos em que a família Chedid dava as cartas, periodo que teve seu ápice nos anos 90 com um título paulista e um vice-campeonato nacional, até a chegada da Red Bull e os projetos da empresa para o futuro da equipe.

> Detalhes da casa do Red Bull Bragantino: veja a estrutura do estádio Nabi Abi Chedid

> Confira imagens do projeto do novo centro de treinamento do Red Bull Bragantino


A família Chedid e o Bragantino

A família Chedid, com bastante influência política na região de Bragança, é presença constante na história do clube. A relação começou em 1958, três décadas após a fundação do Bragantino, quando Nabi Abi Chedid foi eleito presidente pela primeira vez. Sete anos depois, o time já figurava na primeira divisão do Campeonato Paulista. O mandato de Nabi só seria interrompido em 1977, quando o também advogado e empresário deixou a cadeira para assumir o comando da Federação Paulista de Futebol e, mais tarde, tornar-se vice-presidente da CBF. 

Os Chedid voltaram ao comando do Bragantino em 1989, com Jesus Abi Chedid, irmão de Nabi. Nessa época, o Massa Bruta começou a viver o seu primeiro "período dourado" com a conquista do Campeonato Brasileiro da Série B, em 1989, que garantiu ao clube o direito de disputar o Campeonato Brasileiro da Série A pela primeira vez.

Em 1990, Nabi, como patrono e diretor de esportes, participou da conquista mais importante do clube até hoje, o Campeonato Paulista, quando a equipe venceu o Novorizontino na apelidada "final caipira". Em 1991, já no Campeonato Brasileiro, o Bragantino foi vice-campeão, perdendo o título para o festejado São Paulo de Telê Santana. 

Bragantino 1990
Nabi Abi Chedid comemora o Paulista de 1990 (Foto: Reprodução)

O período de bons resultados prolongou-se até o começo do século XX!, quando o Bragantino começou a cair de rendimento. A situação piorou em 2004, já sob a presidência de Marquinho Chedid, filho de Nabi. O Braga vivia uma grave crise financeira, com o estádio Marcelo Stéfani (rebatizado em 2009 de Nabi Abi Chedid) a ponto de ser penhorado por conta diversas dívidas trabalhistas. A diretoria conseguiu reerguer o clube e, apesar dos altos e baixos e o modelo administrativo concentrado em um clã, os torcedores locais valorizam a relevância da família Chedid. 

- O clube estava a ponto de fechar. Chegava no estádio e os torcedores não podiam entrar, tínhamos que assistir ao jogo do lado de fora. O clube devia e não entrava dinheiro para pagar jogadores. Não fechou porque o Marcelo Veiga, treinador na época, e o Marquinho Chedid, presidente, ajudaram e conseguiram reerguer. Devemos muito à família Chedid, ajudaram demais o clube. Agora, com o Thiago Scuro (CEO do Red Bull Bragantino), que é um cara sério, devemos ter só alegrias novamente – declarou ao LANCE! Vicente Lúcio Barreto, 63, considerado em Bragança o torcedor símbolo do clube.

A mesma opinião é dada por Olavo Leme, que relembrou a gestão Chedid nos anos gloriosos dos anos 90 e a venda do Bragantino ao Red Bull.

- O clube não fechou porque o Marcelo Veiga, treinador na época, e o Marquinho Chedid, presidente, ajudaram com dinheiro e conseguiram reerguer. Devemos muito a família Chedid, ajudaram demais o clube - Vicente, torcedor do clube.

- O Nabi sempre foi ligado ao esporte e ao Bragantino. O dinheiro apareceu em 89 porque tinha eleição para prefeito e o Jesus, irmão do Nabi, se candidatou e colocou o dinheiro da empresa ‘Auto Viação Bragança’, montando esse belo time em 90. O Jesus perdeu a eleição, mas ganhou a outra e o dinheiro acabou. Eu não estou menosprezando a família Chedid, eles foram importantes, mas teve um começo meio e fim. Hoje, é um projeto a longo prazo, você não vê um fim. Agora, na minha opinião, o melhor dos três foi o Marquinho, que teve uma visão a longo prazo e fez a parceria com a Red Bull. Ele é meu ídolo (risos) - disse Olavo. 

De um Chedid para a Red Bull
Para entender melhor o começo da parceria, é preciso voltar a 2019, quando a Red Bull tinha pretensões de crescer no futebol brasileiro com o RB Brasil, time sediado na cidade de Campinas. Apesar de uma boa campanha no Paulistão daquele ano, a equipe ainda estava na Série D nacional e não cativava os torcedores.

Por isso, a empresa procurava uma equipe com vaga garantida ao menos na Série B para fazer parcerias ou até mesmo comprar algum clube desta divisão. Duas opções surgiram mais fortes: Oeste e Paulista de Jundiaú. O fato de o CT do Toro Loko ser na cidade de Jarinu (hoje CT da base do Red Bull Bragantino), próxima aos municipios em que estão sediados os dois clubes, eles foram os principais alvos para a compra.

Porém, em meio às negociações, apareceu a figura de Marquinho Chedid, então presidente do Clube Atlético Bragantino e representante da família tão associada ao clube. O dirigente entrou em contato com a Red Bull para saber as condições do negócio e apresentar um projeto. Foi aí que tudo começou, como conta Luiz Arthur Chedid, filho de Marquinho, que hoje é presidente de honra do Bragantino.

Parceria Red Bull Bragantino
Thiago Scuro e Marquinho Chedid fizeram anúncio (Foto: Reprodução)

- Eu tenho certeza de que o meu avô (Nabi), onde quer que esteja, está feliz com essa parceria. Ele estava internado no hospital em 2006, e pediu uma última promessa ao meu pai: ‘Olha, empresa, outras coisas, a gente dá um jeito. Agora, o Bragantino, não deixa a vela apagar’ - Luiz Arthur, filho de Marquinho Chedid

- O Red Bull estava em uma negociação com o Oeste e meu pai ficou sabendo. Bateu na porta da empresa, foi atrás para saber as condições, conversou com o Thiago Scuro (CEO do Red Bull Bragantino). Tiveram as primeiras conversas, nós apresentamos o projeto, foi interessante para todos. Como todas as negociações, algumas coisas eles não abriram mão e nós também não. Fomos à Áustria para conversar. Meu pai sempre falou que era uma oportunidade que o clube e a cidade não poderiam perder. Viabilizamos, e hoje estamos nessa parceria de sucesso, muito também graças a gestão anterior. Éramos um dos poucos clubes com o selo ouro do programa de excelência em gestão da FPF – explicou ao LANCE! Luiz Arthur, que participou ativamente das negociações com o Red Bull, na época como vice-presidente do Bragantino.

As negociações caminharam bem e Marquinho pôde cumprir uma promessa feita ao seu pai, Nabi Abi Chedid, que dá nome ao estádio do Red Bull Bragantino.

- Eu tenho certeza de que o meu avô, onde quer que esteja, está feliz com essa parceria. Ele estava internado no hospital em 2006 e pediu uma última promessa ao meu pai: ‘Olha, empresa, outras coisas, a gente dá um jeito. Agora, o Bragantino, não deixa a vela apagar’. Então, essa foi sempre a preocupação, o que vai acontecer depois? Então, viabilizamos isso, fizemos com que o Bragantino se eternize cada vez mais no futebol brasileiro – completou Luiz Arthur.

Estádio Nabi Abi Chedid
Estádio que leva o nome de Nabi Abi Chedid (Ari Ferreira/ Bragantino)

Bragantino X Red Bull Bragantino: as diferenças na estrutura e planos para o futuro

Com o começo da parceria, muitas coisas mudaram no clube. Uma delas foi a estrutura do times profissional e de base. Antes, o elenco principal e as equipes das categorias inferiores treinavam no estádio Nabi Abi Chedid e no centro de treinamento HTW Sports, localizado em Bragança Paulista. Esses locais serviam tanto a base quanto ao profissional.

Após a chegada da Red Bull, o centro de treinamento da base passou a localizar-se na cidade de Jarinu (a 44km de Bragança), a antiga casa do RB Brasil. O local conta com alojamento de ponta para cerca de cem atletas, refeitório, piscina, centro de fisioterapia moderno, sala de estudos, salão de jogos e auxílio psicológico para os atletas.

Já o elenco profissional segue treinando no HTW Sports, espaço alugado que fica em Bragança Paulista. O complexo esportivo conta com dois campos oficiais de futebol, alojamento para duas a seis pessoas, vestiários, centro de fisioterapia e academia modernos, piscina descoberta e coberta e SPA completo, além de saunas a vapor e seca. Ele serve como local de treinamento fixo do Red Bull Bragantino desde 2020.

CT Bragantino
HTW Sports, usado pelo Bragantino (Foto: Divulgação/HTW Sports)

Na semana passada, o clube apresentou um projeto de construção do novo CT, que será localizado em Atibaia, cidade vizinha a Bragança Paulista (clique aqui para ver imagens). A estruturá contará com oito campos (sendo um mini estádio para jogos da base e dois campos de grama sintética).

Além disso, contará com sala de imprensa, duas academias, pistas de corrida, salas de estudo, biblioteca, auditório e sala de lazer. Serão 11.853 m² de área construída, incluindo recepção, escritórios, alojamento para todas as categorias, restaurantes e todas as áreas de apoio necessárias. A inauguração está prevista para 2023.

O estádio também foi reformado, principalmente na parte de vestiários e as arquibancadas. A obra mais recente foi vista já no Campeonato Brasileiro. Durante a parada do futebol por conta da pandemia, no início deste ano, foram instaladas lâmpadas de LED nos refletores, dobrando a capacidade de iluminação do estádio, que já melhorou a condição para as partidas noturnas. Mas não foi só isso.

Toda a fachada do Nabizão foi restaurada, assim como os vestiários. Arquibancadas também receberam pintura e um reforço estrutural, e o telão foi trocado por um com definição mais nítida. O plano é aumentar a capacidade do estádio, de 12 para 20 mil pessoas a partir dos próximos anos. 

Outra alteração promovida pela nova gestão foi no sócio torcedor do Bragantino. Agora chamado de Red Bull Bragantino Experience, o programa é uma das apostas do clube para atrair torcedores. São cinco planos: Massa Bruta (R$ 24,90/mês), Carijó (R$ 39,90/mês), Braga (R$ 89,90/mês), Asas (R$ 179,90/mês) e Próxima Geração, focado nos torcedores de 0 a 15 anos. O valor depende da faixa etária do torcedor.

- Está no começo, mas pelo que vi o pessoal falando, vai ter uma procura grande. Acredito que a pandemia prejudicou bastante, mas agora com a retomada do público nos estádios, pelo que vejo aqui na cidade, conversando com amigos, tem tudo para crescer - Marcos Alan, torcedor do Red Bull Bragantino.

Apesar da revitalização do plano, a pandemia de Covid-19 afetou um pouco a projeção. Na cidade, o novo sócio-torcedor foi bem aceito e os números devem crescer. Marcos Alan Borges, torcedor do Bragantino, acredita que o plano pode ser um sucesso agora com a volta do público aos estádios.

- Está no começo, mas pelo que vi o pessoal falando, vai ter uma procura grande. Acredito que a pandemia prejudicou bastante, mas agora com a retomada do público nos estádios, pelo que vejo aqui na cidade, conversando com amigos, tem tudo para crescer. Esse plano de sócio tem muitas vantagens para nós, até mesmo no comércio, vários descontos – disse.

O Red Bull Bragantino mostra que é um case de sucesso entre os clubes da empresa pelo mundo. Além do Bragantino, a empresa possui o New York Red Bulls (Estados Unidos), o RB Leipzig (Alemanha) e o Red Bull Salzburg (Áustria). Desses, o Red Bull Bragantino foi o primeiro a chegar em uma final de competição continental, já que está na decisão da Copa Sul-Americana. Os clubes alemão e austríaco têm figurado na fase de grupos da Champions League. 

A gestão do projeto fica sob a responsabilidade do diretor executivo Thiago Scuro, que é como o CEO do clube. A gestão segue o estilo empresarial, com definição de metas a médio e longo prazo. O planejamento do clube é, até o fim de 2022, estar na briga por títulos nacionais, como o Brasileirão e a Copa do Brasil. O clube evitou de traçar metas para competições continentais, mas pode disputar a Libertadores com menos de quatro anos de projeto, caso seja campeão da Sul-Americana ou se classifiquei na competição pelo Campeonato Brasileiro. 

Para isso, a filosofia que vem sendo implantada na equipe brasileira é a de contratações de jovens com potencial para uma futura venda, casos dos atacantes Arthur, de 23 anos, que fez dois gols no Palmeiras, seu ex-clube. Mas a diretoria abriu os cofres. Em 2020, por exemplo, o clube gastou cerca de R$ 100 milhões em reforços, todos esles com o mesmo perfil: jovens de destaque com potencial de revenda. 

Gerido como empresa, o 'novo' Bragantino começar a ter resultados e voltar às manchetes e debates esportivos como nos anos 90. Mas agora o nome e a estrutura são outros e as ambições são internacionais. 

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