Fla-Flus dos títulos – Capítulo 1: Salve o querido pavilhão!
LANCE! recorda trajetória das oito finalíssimas dos Fla-Flus no Carioca. O Fluminense levou a melhor nas duas primeiras finais. Em ambas, jogava pelo empate e foi o que ocorreu
Considerando jogos finais de Cariocas que valiam, após o apito do juiz, a conquista do título e o troféu levantado, em toda a história dos Estaduais, tivemos oito finalíssimas com Fla-Flu. A vantagem é do Tricolor, que venceu cinco vezes: 1936, 1941, 1973, 1984 e 1995. O Fla levou em 1963,1972 e 1991.
Como não poderia deixar de ser, alguns destes duelos entraram para a história, como o "Fla-Flu da Lagoa", o jogo entre clubes de maior público da história do futebol brasileiro ou o do "gol de barriga". Nos próximos dias, o LANCE! relembra todas estas finais, a começar pelas duas primeiras.
1936 - FLUMINENSE CAMPEÃO -1 x 1
O primeiro Fla-Flu que valeu a disputa de título do Campeonato Carioca ocorreu em 1936. Naquele ano, ainda ocorria uma cisão entre os clubes cariocas, com o Vasco e o Botafogo jogando o torneio da Federação Metropolitana (FMD) e Flamengo, Fluminense e América disputando a Liga (LCF).
Após Fla e Flu terminarem a competição com os mesmos 23 pontos, os dirigentes da Liga definiram uma decisão extra de três jogos, aproveitando que a partida era a que levava mais público aos estádios (para se ter ideia, juntando os três jogos finais, ocorreram naquele ano 11 Fla-Flus).
Os jogos foram nas Laranjeiras. O primeiro deveria ser realizado no dia 15 e, depois, no dia 17, mas foi adiado por causa das chuvas e terminou 2 a 2. O jogo 2 foi na noite do dia 23 e terminou com goleada do Fluminense: 4 a 1.
O terceiro duelo ocorreu no dia 27. O Fluminense jogava pelo empate, mas se desse Flamengo, cada time ficaria com uma vitória, um empate e uma derrota e o regulamento indicava: os dois terminariam como os campeões.
O jogo recebeu grande público e o Flamengo largou na frente com gol de Leônidas da Silva no primeiro tempo. Na etapa final, o atacante Hércules empatou e garantiu o fim de um jejum do Fluminense, não ganhava o caneco estadual desde 1924.
FLUMINENSE 1x1 FLAMENGO
LOCAL: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro (RJ).
ÁRBITRO: Carlos Monteiro
GOLS: 38’ 1T Leônidas da Silva (0-1); 5’ 2T Hércules (1-1)
FLUMINENSE: Batatais; Guimarães e Machado; Marcial, Brandt e Orozimbo; Mendes, Lara, Russo, Romeu e Hércules. T: Carlos Carlomagno
FLAMENGO: Raimundo; C. Alves e Marin; Oto, Fausto e Médio; Sá, Caldeira, Alfredo, Leônidas e Jarbas T: Flávio Costa
OS DESTAQUES
NO FLUMINENSE
O atacante Hércules era a fera da equipe e deitou e rolou nas finais: marcou quatro gols na melhor de três de 1936, incluindo o do título. Hércules disputou a Copa de 1938 é o quarto maior goleador da história do Fluminense (167 gols).
NO FLAMENGO
O Rubro-Negro contava no ataque com Leônidas da Silva, reconhecidamente o primeiro superastro do futebol brasileiro e que dois anos depois seria artilheiro da Copa-38 com oito gols. O Diamante Negro é o sétimo maior goleador da história do Fla (153 gols em 149 partidas).
'Drama na reta final'
Trecho extraído do livro 'Fla-Flu - O Jogo do Século', de Roberto Assaf e Clóvis Martins, da Editora Letras & Expressões
Parte da mídia ainda não aceitara o regime remunerado e combateu arduamente a Liga, que foi acusada de manipular a competição. Com Laranjeiras superlotada, o Flamengo fez 1 a 0 com Leônidas, mas permitiu que Hércules igualasse. O rubro-negro pressionou de novo, o tricolor resistiu e foi campeão.
Mas o fim foi tão dramático que parecia que o juiz Carlos de Oliveira Monteiro era Flamengo e o cronometrista Nicolau di Tommaso era Fluminense. Tommaso gritava que o tempo esgotara, o árbitro mandava seguir.
1941 - FLUMINENSE CAMPEÃO -2x2
Provavelmente o Fla-Flu mais lendário. Naquele 23 de novembro, na última rodada, o Fluminense entrou com um ponto de vantagem e jogava pelo empate, mas o jogo era na Gávea e a torcida do Flamengo se fez presente (o público de 15.312 é o maior da história do palco brazuca).
O Tricolor, com grande atuação de Brant, logo abriu 2 a 0, gols de Russo e Amorim. Mas o Flamengo tinha o artilheiro Pirilo – que naquele ano conseguiu um recorde de gols que perdura até hoje. O artilheiro diminuiu aos 34. No segundo tempo, o Fla sufocou, pois só a vitória interessava, mas o empate , com Pirilo só saiu aos 40.
Reza a lenda que o Fluminense, com o mítico goleiro Batatais com o ombro deslocado e Carreiro expulso por reclamar do juiz pouco depois do gol de empate, se fechou de vez na defesa. E a cada ataque, rechaçava a bola para fora do estádio (que não tinha muro) dentro da Lagoa Rodrigo de Freitas, o que atrasava o reinício da partida. E tome ‘bola na Lagoa’, além de Batatais fazendo defesas importantes. No fim, o Fluminense tornou-se campeão pela quinta vez nos últimos seis anos. E o Flamengo amargou o fracasso (embora
viesse a ser tricampeão nos anos seguintes, em todas as três finais não enfrentou o Tricolor).
FLAMENGO 2x2 FLUMINENSE
LOCAL: Estádio da Gávea, Rio (RJ)
PÚBLICO: 15.213 (maior público da história do estádio da Gávea)
ÁRBITRO: José Ferreira Lemos
GOLS: 20’ 1T Amorim (0-1); 24’ 1T Russo (0-2); 34’ 1T Pirulo (1-2) e 40’ 1T Pirilo (2-2)
CARTÕES VERMELHOS: Carreiro (41’ 2T)
OS DESTAQUES
NO FLUMINENSE
O goleiro Batatais, herói do "Fla-Flu da Lagoa" é um dos maiores ídolos da história do Tricolor e o melhor goleiro brasileiro nos anos 30. Titular da Copa-38, disputou 176 jogos pelo Flu e a conquista de 1941 foi a sua última no clube. Mas não a única: ganhou também o Carioca de 1936/37/38 e 1940.
NO FLAMENGO
Pirilo foi o sucessor de Leônidas no Fla e em 1941 fez história, marcando 39 gols, marca que até hoje é recorde numa única edição de Campeonato Carioca. Em seis anos no clube, Pirillo fez 204 gols em 236 jogos é o quinto maior goleador da história do Fla (ao lado de Romário).
'A lenda exagera'
Trecho extraído do livro 'Fla-Flu - O Jogo do Século', de Roberto Assaf e Clóvis Martins, na Editora Letras & Expressões
Embora relatos de quem esteve na Gávea na final de 1941 apontem este episódio, o provável é que os fatos do 2 a 2 do Fla-Flu tenham sido superestimados por seus protagonistas.
Apenas o “Jornal dos Sports” fez um breve registro, sem alarde, de que duas
ou três bolas foram chutadas na água. A lenda exagera. Fala em mais de 20 chutes, remadores, apressados, indo buscar bolas em seus barcos. Fato tão pitoresco mereceria registro nos jornais, mas nenhum deles descreve tais acontecimentos.
Não perca! Nesta quarta-feira, as conquistas do Flamengo em 1963 e em 1972.