Luiz Gomes: ‘Para onde vamos?
'O que mais se ouve nas ruas é que as pessoas vão votar em A ou em B não por convicção ou por identidade ideológica ou programática, mas apenas por rejeição ao adversário'
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Desde o momento da redemocratização, quando voltamos a escolher o presidente da República pelo voto direto, uma eleição jamais dividiu e radicalizou o país de uma maneira tão intensa como a que neste domingo se decide. O que mais se ouve nas ruas é que as pessoas vão votar em A ou em B não por convicção ou por identidade ideológica ou programática, mas apenas por rejeição ao adversário. E esta não é, definitivamente, a melhor forma de se fazer escolhas e de se construir o futuro.
Naqueles longínquos anos de 80 e 90, o Brasil tinha suas referências. Em todas as áreas da vida pública e em todos os setores da sociedade. Eram políticos de variados matizes como o Doutor Ulysses, Tancredo Neves, Teotônio Vilella, Miguel Arraes, Brizola e ACM, por que não? Eram bispos progressistas como Dom Helder Câmara e Dom Paulo Evaristo Arns ou conservadores como Dom Eugênio Salles; advogados como o liberal Sobral Pinto ou os socialistas Evandro Lins e Silva ou Evaristo de Morais, empresários como José Mindlin ou Antônio Ermírio que não se fizeram nas costas do estado, médicos como Adib Jatene, jornalistas como Barbosa Lima Sobrinho, acadêmicos como Austregésilo de Athayde. Gente que inspirava e em quem o cidadão podia espelhar-se. E confiar.
No futebol não era diferente. Havia uma geração mergulhada na luta pela volta dos direitos civis, comandada pelo ídolo atleticano Reinaldo ou por Sócrates, Casagrande e os protagonistas da Democracia Corintiana, Havia gigantes como Zico, Falcão e tantos outros que apenas com seu exemplo de honradez e liderança, apontavam um objetivo, eram um alvo a ser atingido por jovens que sonhavam em fazer carreira no futebol. Eram um referencial para o torcedor que vibrava das arquibancadas com sua genialidade, mas eram acima de tudo uma influência que extrapolava os gramados,
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Mais de 30 anos depois, cabe a pergunta: quem são os líderes de hoje? Quem, na política, no direito, na medicina, na igreja, no futebol, em cada segmento da sociedade é a referência que o país tem para se inspirar? Alguém que nossos filhos possam almejar ser quando crescerem? É difícil de encontrar, E a razão é simples: aqueles que deveriam ser os líderes de hoje são aqueles que a ditadura matou. Literalmente ou intelectualmente. Sem eles, a elite brasileira – e não estamos falando aqui de classe social - perdeu o senso do bem comum, da coletividade, do espírito público. E é isso que permite o surgimento de projetos populistas, demagógicos e radicalizados, de um lado e de outro, que abrem espaço para salvadores da pátria e paladinos de uma falsa moralidade,
Ainda são, sim, ecos da ditadura, que agora tantos parecem relativizar, boa parte das razões que transformaram o Brasil no Fla x Flu que estamos vivendo.
Antes do primeiro turno das eleições, Paulo André recusou-se a entrar em campo com o Atlético-PR vestindo a camisa amarela com o slogan de campanha de um candidato a presidente, determinação de um dirigente do clube. Nada surpreendente. O zagueiro, desde os tempos de Corinthians, desde a fundação do Bom Senso, tem sido um Davi enfrentando o Golias da indiferença, do medo e do individualismo, abandonado pelos próprios companheiros na briga por um futebol melhor. Uma luta nobre, mas inglória. Pois sim, o futebol é o retrato do país - e não o contrário – e aqui também faltam líderes como ele, referências que se imponham dentro e fora do campo. E que pensem no bem de todos.
É cômodo, como fazemos inúmeras vezes no nosso dia a dia - essa coluna não foge a essa regra, que fique claro - botar a culpa no sistema. Na corrupção da dinastia Teixeira-Marin-Del Nero que impera há décadas na CBF ou nos partidos que transformam o governo em feudos; nos desmandos da cartolagem da bola ou nos privilégios dos políticos de carreira. Falar e escrever um artigo, postar no whatsapp ou no facebook não é tudo. A hora é de perguntar o que você, o que nós que queremos votar em quem achamos que valha a pena sem ter que escolher apenas o menos ruim, podemos fazer para mudar essa situação? De que forma vamos agir quando o dia clarear amanhã?
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