Luiz Gomes: ‘O que dizem os números da pesquisa do Ibope sobre os clubes na internet’
'O mundo digital ganhou mais importância do que nunca, tornou-se em vários segmentos da economia a única forma de comunicação entre as empresas e seus clientes'
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Nestes tempos de pandemia e isolamento social, o mundo digital ganhou mais importância do que nunca, tornou-se em vários segmentos da economia a única forma de comunicação entre as empresas e seus clientes. Quem não tem um canal de e-commerce ativo, por exemplo, certamente está sofrendo mais os efeitos deste momento de crise. A situação não é diferente no esporte, no futebol especificamente. Os canais virtuais, as redes sociais oficiais têm sido, além da mídia tradicional, é claro, a forma encontrada pelos clubes para falar com seus torcedores. E isso é bom, algo capaz de distrair a atenção, quando só o que se fala é em coronavirus.
Na quinta-feira, o instituto Ibope-Repucom divulgou a versão de abril do ranking brasileiro de clubes no mundo digital. Esse levantamento é realizado regularmente, é único no Brasil, e lista os 50 clubes com maior número de seguidores e fãs em suas páginas oficiais no Facebook, Instagram, Twitter e Youtube, as quatro principais redes sociais acessadas no país. Além de um bom assunto para alimentar o papo entre torcedores, zoeiras e memes na internet, o levantamento serve para que os próprios clubes, através de suas diretorias de comunicação, tenham uma avaliação do que precisam fazer para melhorar sua presença digital. Pelo menos, isso é o que deveria ser feito.
Há resultados óbvios nesse relatório, como a liderança folgada do Flamengo no topo do ranking com mais de 30,2 milhões de seguidores na web, contra 23,3 milhões do Corinthians em segundo lugar. Mas há, também, algumas tantas informações interessantes e até surpreendentes. Pois vamos ver.
O Ibope demonstra que existe, de uma forma geral, um equilíbrio entre os clubes de uma mesma praça. É o caso dos times paulistas, com São Paulo, Palmeiras e Santos se colocando logo atrás do Corinthians, na terceira, quarta e quinta posições, nessa ordem. Cruzeiro e Atlético-MG aparecem separados por pouco mais de 100 mil seguidores, Ceará e Fortaleza, Figueirense e Criciúma, Remo e Paysandu, ABC e América-RN também se apresentam com números muitos próximos. O mesmo acontece no Rio com Fluminense, 12º e Botafogo, 13º. O Vasco, contudo, mantém, em 7º, uma posição intermediária entre estes e o líder Flamengo.
Exceções claras a essa regra acontecem no Rio Grande do Sul onde o Grêmio, em sexto, tem quase 3 milhões de seguidores a mais do que o Internacional, em 11º; e em Campinas, onde a Ponte Preta, com 585 mil em 28º lugar, e o Guarani, com 221 mil em 50º, têm uma diferença de mais do que o dobro a separá-los. Bahia e Vitória, embora próximos na tabela de classificação – 15º e 17º respectivamente - têm entre eles uma diferença de cerca de 1,4 milhão de fãs.
O Atlhetico Paranaense é um caso interessante. O posicionamento nacional que tem buscado nos últimos anos – e que tem de fato gerado resultados objetivos, como a conquista da Copa do Brasil no ano passado, e da Copa Sul-Americana, em 2018 – faz o clube se distanciar cada vez mais nas redes sociais do arquirrival Coritiba, que tem uma repercussão quase que inteiramente local, indo pouco além da capital paranaense e seu entorno. O Furacão, em ascensão, já é o 16º com 2,6 milhões de seguidores, cerca de 1 milhão à frente do Coxa, que tem 1,6 milhão, em 20º.
Dois casos “estranhos” chamam atenção no relatório do Ibope. E têm explicações distintas. Um é a Chapecoense, que ocupa a 10ª posição, com 5,7 milhões de seguidores, número absolutamente desproporcional à relevância que o clube tem no cenário do futebol brasileiro. É consequência, ainda, da tragédia aérea de 2016 na Colômbia, quando uma corrente de apoio e solidariedade se espalhou por todo mundo em torno do Verdão do Oeste. E muitos seguidores, embora hoje passivos, sem nenhuma interação com as redes sociais, continuam inscritos nas páginas do clube.
O outro é o pernambucano Ibis, que um dia já foi chamado de o pior time do mundo mas que foi capaz de transformar esse folclore em algo que lhe rende números bastante positivos nas redes sociais, assumindo a brincadeira e publicando memes e zoeiras que entram bem no espírito da web. Trigésimo no ranking, o clube aparece à frente de camisas tradicionais e que já circularam pela Série A nacional como CSA e CRB, América-MG, Paraná e a Portuguesa paulista.
Por fim, uma última conclusão. O posicionamento dos clubes nas redes sociais guarda bastante semelhança com o último ranking do DataFolha que, em outubro do ano passado, mediu o tamanho de suas torcidas. Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras formam o quarteto de ponta nos dois índices. Mas há diferenças a partir daí. O Santos dá um salto, é o 8º no ranking de torcedores e 5º na internet, enquanto o Vasco cai de 5º em número de torcedores para 7º na internet. São variações resultantes de uma maior ou menor competência em operar essas plataformas digitais. Em um mundo cada vez mais online, não é arriscado dizer que adquirir essa expertise será um fator decisivo na conquista e na fidelização dos fãs.
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