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Portella: ‘A bola que não rola’

A Fifa e a CBF não são frutos de acaso. São consequências de um processo abastecido por muita gente fora do palco principal

chapecoense homenagem atletico nacional
imagem cameraLinda festa da torcida do Atlético Nacional em homenagem à Chapecoense, em Medellín (foto:LUIS ACOSTA/AFP)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 07/12/2016
13:43

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A emocionante cerimônia de Medellin, e as outras manifestações mundo afora, acabaram por exaltar o futebol como força benfazeja que congrega pessoas em período tão difícil para todos.

Foi bonito, pungente. Comoveu. Enalteceu o viés promissor. 

Porém, o futebol é atividade submetida à condição humana. Possui o outro lado, a sombra inconveniente: discriminação no estádio, sobretudo racial; violência, ilicitude, compra de resultado, interesses pessoais escusos, grupos que o dominam mafiosamente, conforme relata o livro “Como o futebol explica o mundo”. 

Não se restringe a empresários e dirigentes desleais. Infelizmente, muitos mais se utilizam dele no lado obscuro. Tentar isolar o momento e olhá-lo apenas pelo aspecto solidário que o açambarcou é equívoco perigoso.

A FIFA e a CBF não são frutos de acaso ou de algum administrador desviado. São consequências de um processo abastecido por muita gente fora do palco principal, a contribuir conscientemente.

Um conjunto pago a peso de ouro trabalha a favor da manutenção do status quo, uma boa parte da mídia que tolera e se omite. A omissão é forma veemente de estimular o erro. A pergunta que não se faz nas entrevistas cala alto. Na azáfama do cotidiano, a omissão passa batida.

“Não é a consciência da humanidade (seus valores) que determina a sua existência. Ao contrário, é a existência social (as relações) que determina a consciência das pessoas”, conforme a interpretação econômica da história.
A sociedade brasileira, em grande parte, submeteu-se às relações que vigoram no futebol, envolvendo a consciência de muitos.

O futebol só é um fim para suas competições e resultados. Para efeito social, ele é um meio que pode mostrar e incentivar-nos o bem ou o mal. Depende da hierarquia de valores que determinarmos.

Na Sociologia cunhou-se o termo “horror ao presente”. Não há ordenamento, hierarquia de princípios, o sobrelevar das referências positivas. A fragmentação é geral e irrestrita. Pequenos grupos se impõem ao que parece ser a consciência da maioria; o cidadão se sente autônomo diante do uso da tecnologia, mas o domina um medo intrínseco, uma insegurança, um vazio que o fragiliza e apavora.

São os nossos dias.

O futebol pode mudar o Brasil, sempre acreditei. Exatamente pela amplidão que contém, pela comoção que causa, pela clareza com que transmite. 
A noite de Medellin que nos uniu em tão triste marco, não pode esmaecer-se como essas imagens fugidias que a memória, aos poucos, move para o inconsciente.

O futebol não pode nos alçar nem juntar-nos só na tristeza. 

Que o sentimento doce e afetivo dos colombianos nos encha de coragem para mudar o que tem que ser mudado. E que todos nós sabemos.

Esse é o papel inefável que o futebol precisa assumir.

“UNDERDOG”

Antonio Conte está roubando a cena na Premier League. Diante do celebrado Guardiola, do mitificado Mourinho e do festejado Klopp, ele se sai, até agora, melhor. Com mais simplicidade, sem sofisticações midiáticas e sem falsa modéstia. Tem muito técnico que se passa por humilde. E funciona como o milionário que dá contribuição anônima para uma causa nobre e depois deixa vazar na imprensa para todos saberem. Conte não é mais importante que os jogadores como os outros técnicos também não o são. Comparado na mesma proporção, surpreende os rivais, por enquanto.

A NOSSA FACE

As colocações constrangedoras do Brasil nos rankings educacionais são a exata dimensão do pouco respeito que temos a nós mesmos. Não é culpa só das autoridades responsáveis. Para atingir tão degradante posto, é preciso que a grande maioria no País não leve o assunto a sério. É o mesmo caso do futebol, aludido no artigo acima.

Se somos assim, por que o mundo nos respeitaria?

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